Porto Alegre passa dos 1,5 mil mortos por Covid-19

Porto Alegre passa dos 1,5 mil mortos por Covid-19

Com mais de 55 mil casos e diagnósticos em evolução, especialista vê cenário preocupante

Jessica Hübler

Dados são da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos

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Porto Alegre ultrapassou tristes marcas no mês de novembro: já foram registrados mais de 55 mil casos confirmados da Covid-19 e o número de óbitos em decorrência da doença passou de 1,5 mil. Entre quarta e quinta-feira desta semana foram registrados 14 novos óbitos e Porto Alegre chegou a 1.511 mortes por conta do novo coronavírus, conforme a Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Até ontem, o número de contaminados era 55.305, sendo 46.449 recuperados e 11.140 exames ainda em análise. 

A situação, conforme o doutor em Saúde Coletiva e membro da Comissão de Política, Planejamento e Gestão da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Dário Frederico Pasche, é grave. “Podemos ter um Natal muito triste, a proximidade da temporada de verão e das festas de final de ano nos deixa ainda mais em alerta, pois temos números muito elevados e preocupantes”, ressalta. Conforme Pasche, Porto Alegre parece estar vivendo um segundo período de intensificação da primeira onda da pandemia: “Acredito que vamos entrar em dezembro e janeiro com um quadro muito grande, é possível que tenhamos um pico que achamos que já tinha passado. Estávamos colhendo frutos de uma menor taxa de infecção até agora, a curva chegou a baixar, mas a gente não seguiu nesse caminho e a primeira onda está se esticando e voltando a subir”.

Pasche reforça que o momento de gestão da pandemia exige uma vigilância muito crítica e frequente. “As pressões políticas e econômicas, sobretudo da área econômica, acabaram direcionando para uma volta em larga escala muito rápida, como se fosse possível retomar a mobilidade que temos sem vivenciar o efeito rebote”, pontua. Além disso, ele declara que também é preciso que tenhamos cautela em nossas atitudes individuais. “Temos que considerar que não é natural o isolamento social, somos seres que vivemos em uma cultura de reunião e confraternização, mas precisamos redobrar os cuidados”, complementa.

“Não vemos aquele receio de maio e junho”

Em uma breve análise, Pasche assinala que a população foi deixando “um pouco de lado” os cuidados e também as preocupações quanto à Covid-19. “As pessoas foram relaxando, não vemos mais aquele receio que pudemos observar entre maio e junho, por exemplo, quando todos usavam máscara e tomavam mais cuidado. Hoje em dia é fácil encontrar muitos grupos sem utilizar máscara, vivendo como se estivéssemos retomando a normalidade, sendo que isso não deveria estar acontecendo”, comenta. 

Pasche ainda destaca que obviamente exigir das pessoas que seja feito um processo de isolamento tão longo “não é natural” e que lidar com isso não é fácil, mas é preciso que tenhamos mais cautela e paciência, ainda mais por conta da proximidade com a liberação de uma vacina. “É como se estivéssemos chegando no final de uma corrida, podemos correr um pouco mais para chegar à vacina ou simplesmente parar e desistir”, compara, lembrando que é preciso que tenhamos mais responsabilidade social.

Semanas de apreensão pela frente

“Estamos vendo um processo de liberalização muito forte por parte de grupos que não são considerados de risco, como se não houvesse uma preocupação com a doença, o que vai totalmente contra a ideia de coletividade. Nós temos responsabilidades por nós e pelos outros. Claro que todos estão esgotados, mas é neste momento que nós deveríamos reforçar alguns comportamentos voltados ao cuidado coletivo”, frisa. 

Pasche define o contexto atual como preocupante e reitera que os meses de dezembro e janeiro poderão ser semelhantes ou mais complicados do que maio e junho. “Continuamos com uma população enorme de suscetíveis, aumentamos barbaramente a circulação de pessoas e não vemos as pessoas preocupadas com o vírus, teremos semanas de apreensão muito grande pela frente”, afirma. 


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