Porto Alegre se aproxima de 5 mil mortes por Covid-19 após 15 meses do primeiro óbito

Porto Alegre se aproxima de 5 mil mortes por Covid-19 após 15 meses do primeiro óbito

Para o infectologista Paulo Petry, próximos meses devem ser "bastante complicados" sob ameaça da variante indiana e da lenta cobertura vacinal

Jessica Hübler

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No dia 24 de maio fez exatamente 15 meses da confirmação oficial do primeiro óbito em decorrência da Covid-19 em Porto Alegre. Na época, já haviam sido confirmados 127 casos da doença e a situação foi encarada com certa apreensão, diversas medidas começaram a ser efetivadas pela Prefeitura no sentido de evitar a propagação do vírus na Capital e inclusive muitas delas foram colocadas em prática ao longo de 2020. De lá pra cá, a situação mudou consideravelmente.

Um ano e três meses após o anúncio da primeira vítima fatal do coronavírus na capital dos gaúchos, a cidade contabilizava, até o dia 24 de maio, 145.648 casos confirmados da doença e pelo menos 4.694 óbitos. Somente em 2021, em cinco meses, foram confirmados 64.560 casos da Covid-19, o que representa 44,32% do total. Em abril de 2021 a Capital ultrapassou a marca dos 140 mil casos confirmados e, em março de 2021, o número de vítimas fatais passou de 4 mil.

Até o momento, o mês de março de 2021 foi o mais expressivo tanto com relação à quantidade de casos confirmados (24.551) e, também, o mais letal, conforme aponta o número total de óbitos que chegou a 1.332. O mês de março de 2021 teve o pico de óbitos de toda linha temporal da pandemia, com 28,37% do total dos óbitos. O número de óbitos ocorridos em março de 2021 foi maior que o triplo de óbitos ocorridos no mês de agosto de 2020, que foram 373 e representaram o pico de óbitos do ano passado.

O mês de abril de 2021 também registrou um número significativo de óbitos, chegando a 654 no total. Este foi o segundo mês mais letal de toda a pandemia na Capital depois de março. Já o aumento do número de casos confirmados da doença tem apresentado queda, chegando a 7.171 casos novos em abril de 2021 e 3.522 em maio, contabilizados até o dia 24.

"Se avizinha um período de risco", afirma professor

De acordo com o professor de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Paulo Petry, a retrospectiva sobre a pandemia demonstra que a velocidade de progressão da doença e, consequentemente, dos óbitos é muito grande. "O novo coronavírus não respeita clima, embora os atendimentos por condições respiratórias tradicionalmente apresentem maior frequência nos meses de inverno, o que quer dizer que se avizinha um período de risco, preocupante, porque com o inverno as infecções respiratórias, inclusive a Covid-19, tendem a aumentar", destaca.

Segundo Petry, o Sars-Cov-2 (o vírus que causa a Covid-19) infecta pessoas de todas as idades, de ambos os sexos e é praticamente igual o número de óbitos entre homens e mulheres. Agora, no Rio Grande do Sul, ainda temos o agravante da variante P1, que veio de Manaus e mudou o perfil etário da doença. "Hoje as faixas etárias de pessoas entre 20 e 49 anos são bastante afetadas, embora a mortalidade se concentre ainda nos mais idosos", pontua.

Além disso, Petry reforça a importância de estarmos alertas para a variante indiana da doença que já foi confirmada em pelo menos três estados brasileiros. "Não temos barreiras sanitárias adequadas, tivemos a confirmação inclusive na Argentina e deveríamos bloquear os voos, os navios, pois a perspectiva é sombria", ressalta. No entendimento dele, os próximos meses devem ser ainda "bastante complicados", principalmente por conta da vacinação que ainda segue lenta. "Acredito que teremos uma tendência de aumento de casos, internações e novos óbitos", diz.

Em três ondas, Porto Alegre chegou ao colapso

No contexto local, a cidade apresentou pelo menos três picos ou três ondas mais expressivas da Covid-19. A primeira delas foi registrada entre julho e agosto de 2020, quando o número total de casos ultrapassou a marca dos 10 mil e chegou rapidamente em 30 mil em um período de pouco mais de um mês. O número de óbitos na época ainda era inferior a 1 mil, variando de 205 vítimas fatais em 16 de julho para 918 em 16 de setembro. Naquele momento as internações de pacientes com a doença em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) variava de 200 a 347, que foi o recorde de internações na época registrado em 4 de setembro. Após esse ciclo, o número de internações começou a cair.

O período considerado como uma segunda onda iniciou aproximadamente no final do mês de novembro de 2020, quando as UTIs voltaram a registrar ocupações superiores a 300 pacientes com a Covid-19 e seguiu até o final de janeiro de 2021, praticamente, quando o número de internações nas UTIs começaram a cair novamente e passaram para a média de 200 pacientes internados com diagnóstico positivo da doença. Na época, o número de casos confirmados saltou de 57 mil em 21 de setembro para 88 mil em 21 de janeiro.

A terceira e pior onda da pandemia até então foi registrada entre os meses de fevereiro e março de 2021. Em 15 de fevereiro, por exemplo, eram 301 pacientes com Covid-19 internados em leitos das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) da Capital e, ao longo do mês de março, esse número variava entre 800 e 900. Esse fluxo crescente de pacientes com diagnóstico positivo do novo coronavírus nas UTIs da Capital fez com que todos os hospitais trabalhassem com superlotação nas UTIs, com taxa superior a 100% praticamente durante todo o mês.

Casos e óbitos confirmados por mês

Casos

março/2020: 
244 casos
abril/2020: 
299 casos
maio/2020: 
1.198 casos
junho/2020: 
3.413
julho/2020: 
10.761
agosto/2020: 
15.502
setembro/2020: 
10.463
outubro/2020: 
10.748
novembro/2020: 
15.891
dezembro/2020: 
17.723
janeiro/2021: 
10.983
fevereiro/2021: 
18.333
março/2021: 
24.551
abril/2021: 
7.171
maio/2021 - até o dia 24: 
3.522

Total: 145.648

Óbitos

março/2020:
2
abril/2020:
13
maio/2020:
23
junho/2020:
57
julho/2020:
267
agosto/2020:
373
setembro/2020:
312
outubro/2020:
271
novembro/2020:
270
dezembro/2020:
325
janeiro/2021:
260
fevereiro/2021:
344
março/2021:
1.332
abril/2021:
654
maio/2021 - até o dia 24:
191

Total: 4.694


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