Porto Alegre tem fila com 64 pacientes com Covid-19 aguardando leitos de UTI

Porto Alegre tem fila com 64 pacientes com Covid-19 aguardando leitos de UTI

Pelo segundo dia consecutivo, a cidade tem a menor quantidade de leitos de enfermaria disponíveis para tratamento contra a doença em toda pandemia

Gabriel Guedes

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Dia após dia, a quantidade de pacientes com Covid-19 internados nos hospitais de Porto Alegre tem superado recordes desde a semana passada. Nesta quinta-feira, 64 pessoas aguardavam por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na Capital, que vem tendo uma taxa de ocupação que não cai abaixo dos 95% e pelo segundo dia consecutivo, a cidade tem a menor quantidade de leitos de enfermaria disponíveis para tratamento contra a doença em toda pandemia. No dado mais recente, da terça-feira, dos 962 leitos disponíveis apenas para a Covid-19, 582 estavam ocupados por pessoas com casos confirmados e outros 144 por aqueles com a suspeita da doença.

Isso tudo ainda sem refletir as aglomerações acontecidas no carnaval, mas que é o retrato de uma situação de iminente colapso, que meses atrás, já imaginada que fosse ser enfrentada. Mas o cenário desolador agora é concreto e os hospitais estão recorrendo a vários recursos para conseguir atender a esta demanda: restrições nos atendimentos e serviços ofertados, remanejamento de pessoal e aberturas de leitos são apenas algumas das soluções encontradas. Mas pode não ser o suficiente, alertam gestores de algumas das principais instituições da Capital.

No Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), uma das instituições públicas que mais vem atendendo nesta pandemia, a população vem demandando cada vez mais atendimentos há cerca de 10 dias, com crescimento no número de pacientes de com sintomas respiratórios ou Covid-19, e com crescimento de gravidade, também em virtude da doença.

"É isso que o sistema está enfrentando. Isso vem se acentuando dia a dia", atesta o diretor médico do HCPA, Milton Berger.

O gestor diz que o hospital vem se preparando há um bom tempo, e mesmo no auge da pandemia, há reuniões diárias de avaliação, mesmo em feriados e finais de semana. Isso para se discutir soluções para conseguir absorver a demanda crescente.

"Estamos abrindo mais leitos. Também temos que diminuir cirurgias no que puder ser diminuído", cita.

Desde está quinta-feira, a UTI Covid do HCPA passou de 97 para 105 leitos e a enfermaria de 58 para 62. Entretanto, por mais que se esforcem, Berger acredita que há um teto na operação que está perto de ser alcançado. 

"Em relação a insumos, o hospital está bem. Mas se precisarmos abrir mais leitos críticos, teremos dificuldades com respiradores. Vai chegar em um momento que não se vai conseguir aumentar leitos críticos, inclusive pela capacidade de recursos humanos", alerta.

O diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Cláudio Oliveira afirma que a instituição, que administra os hospitais Nossa Senhora da Conceição, Cristo Redentor e Fêmina, tem observado um "aumento expressivo" de pacientes necessitando de leitos de UTI e clínicos.

"Estamos abrindo mais 28 leitos clínicos e estamos pensando abrir mais leitos de UTI, dentro de nossa capacidade de pessoal. A perspectiva é que tenhamos uma demanda ainda maior, por que os casos do carnaval, fruto do relaxamento das medidas de distanciamento, não vieram", prevê Oliveira.

O diretor assegura que os estoques de medicamentos para intubação e os gases medicinais estão adequados para prover atendimento, mesmo a esta procura maior que está por vir. "Está tudo controlado. Estamos monitorando. Aumentou nossa utilização de gases medicinais e estamos com um contrato vigente para fornecimento", resume. 

Oliveira gosta de enfatizar que o GHC, por ser 100% Sistema Único de Saúde (SUS), é de emergência porta aberta. Mas não descarta que os hospitais do grupo possam não conseguir admitir mais pacientes nos próximos dias.

"Pode chegar neste momento de esgotarmos nossa capacidade de atendimento e como fazemos parte de um sistema de saúde de Porto Alegre, caberá ao gestor municipal realocar estes pacientes", pontua Oliveira.

O complexo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, que possui sete hospitais no Centro da Capital, que presta atendimentos pelo SUS, planos de saúde e particular, vêm também se preparando para o pior cenário que está por vir.

"A tendência é que haja um aumento progressivo dos casos. Não tem como a gente evitar que isso aconteça. O que estamos procurando fazer, é abrir mais leitos de internação, mais leitos de UTI. Mas abrem-se leitos, e estes leitos são ocupados rapidamente", lamenta o diretor médico e de ensino e pesquisa da Santa Casa, Antonio Kalil.

A principal medida da instituição será reabrir o Pavilhão Pereira Filho para admissão de pacientes com Covid-19, como foi em meados do ano passado. Serão 120 leitos de internação de Covid-19 no total e mais 62 leitos de UTI.

"Mas vamos chegar a 70 leitos (de UTI) nos próximos dias. Vamos procurar abrir mais leitos, dentro das possibilidades que temos. Estamos fazendo o movimento para atender o máximo de pacientes. Mas fazendo isso com segurança", afirma Kalil.

A Santa Casa também está com os suprimentos em dia. "Estamos bem de oxigênio e relaxantes musculares. Inclusive para superar aumentos de demanda. Isso hoje nós temos com folga", garante o diretor médico.

O diretor geral do Hospital Mãe de Deus, Rafael Cremonese, acredita que prever o que vai acontecer ainda é bastante desafiador. "Desde março, tentar prever o futuro tem sido um exercício muito difícil. Mas de quinta para cá estamos vivendo um momento muito distinto. Aumentou muito o número de casos. Então isso restringiu um pouco o atendimento da emergência para conseguirmos aumentar a disponibilidade de leitos na UTI. Nos próximos dias estaremos numa competição por recursos", explica.

O hospital, que é destino de muitos pacientes de planos de saúde, convênios e particulares, ainda aguarda o cenário do "carnaval".  "Todas as medidas que puderam ser tomadas, foram tomadas", pontua Cremonese.

O Hospital Moinhos de Vento, que vem trabalhando com a UTI numa taxa de ocupação de mais de 100% nesta semana, emitiu um comunicado reforçando medidas para continuar atendendo adequadamente os pacientes com Covid-19. Cerca de 35% dos internados são de pessoas com idades abaixo dos 60 anos.

Assim como o Mãe de Deus, a instituição também admite um grande número de pacientes de planos de saúde, convênios e particulares. Entre os anúncios, estão a abertura de mais 10 leitos de UTI, além dos 66 já ocupados. Mas o Comitê de Enfrentamento da Covid-19 do hospital, decidiu manter a limitação de transferência de pacientes que necessitem leitos no Centro de Terapia Intensiva (CTI). A situação é reavaliada diariamente.

As equipes que atuavam na tenda de triagem foram redirecionadas para o setor de Emergência, para priorizar os pacientes graves, classificados nas cores vermelha e laranja. A instituição também suspendeu procedimentos endoscópicos e cirurgias eletivas, entre outras medidas de menor impacto, mas importantes na manutenção do funcionamento do hospital.


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