Porto Alegre tem recorde de pacientes com Covid-19 em leitos de UTI

Porto Alegre tem recorde de pacientes com Covid-19 em leitos de UTI

Número de internados com coronavírus chegou a 111 nesta terça-feira

Jessica Hübler

Porto Alegre tem tido um crescimento constante nas internações de pacientes confirmados da Covid-19

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Desde o início de junho, Porto Alegre vem observando um crescimento constante e consistente nas internações de pacientes confirmados da Covid-19 em leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Dia após dia, a Capital bate recordes preocupantes relacionados a este indicador. Na terça-feira, o número de internados em leitos de UTI adulto, com diagnóstico positivo para o novo coronavírus, chegou a 111, o que representou um aumento de 137,77% em relação ao dia 23 de maio, um mês antes, quando eram 45 pacientes confirmados em UTI adulto.

O número de pacientes com suspeita da Covid-19 também internados em leitos de UTI adulto aumentou 66,66% no mesmo período, passando de 24 para 40. Os hospitais referência para atendimento de pacientes com o novo coronavírus, Hospital Nossa Senhora da Conceição e Hospital de Clínicas, atendem o maior número de casos, sendo 45 confirmados e cinco suspeitos no Clínicas e 27 confirmados no Conceição.

Processo de contratação

De acordo com o epidemiologista e gerente de risco do Hospital de Clínicas, Ricardo Kuchenbecker, a ocupação dos leitos também implica em um processo de contratação. Segundo ele, pelo menos 70 profissionais de saúde já foram contratados, no Clínicas, para dar conta da resposta a essas áreas. “É uma demanda muito importante, porque o processo de cuidado das pessoas que internam em uma UTI com a infecção do novo coronavírus é extremamente complexo”, afirmou.

Conforme Kuchenbecker, toda UTI prevê cuidados intensivos, mas os pacientes com a Covid-19 demandam um cuidado “ainda mais” intensivo. “Pelos cuidados com a ventilação mecânica, com a respiração apoiada por equipamentos e também porque uma parte importante das pessoas perde a função do rim e precisa ser assistida também, além disso ainda temos a instabilidade, pois em poucas horas os quadros podem evoluir para uma condição de maior gravidade, isso tudo demanda um trabalho redobrado para as equipes”, explicou. 

Além de todos os cuidados específicos, ainda há o aspecto representado pelo risco de infecção dos profissionais de saúde. 

A taxa de ocupação dos leitos de UTI adulto na cidade, até o fim da tarde de terça-feira, era de 78.67%. Dos 546 pacientes internados, 111 eram confirmados da Covid-19 e 37 suspeitos. As internações relacionadas com o novo coronavírus, sendo de confirmados ou suspeitos, representavam 26,77% do total. 

Entre os 17 hospitais relacionados no levantamento da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), 14 estavam com ocupação acima de 60% nos leitos de UTI adulto, sendo que o Hospital Independência, que possui 10 leitos, estava com oito ocupados e o Hospital da Restinga, que também possui 10 leitos, apresentava taxa 100% de ocupação. Nestes dois hospitais não há nenhum caso de Covid-19 entre os pacientes internados.

Monitoramento

O monitoramento constante das internações em leitos de UTI adulto na Capital começou em 19 de março, quando havia somente um paciente com Covid-19 internado. No final de março este número já havia subido para 20 internações e em 10 de abril subiu para 42.

Entre abril e o final de maio, os números mantiveram certa estabilidade, oscilando entre 30 e 40 pacientes com o novo coronavírus internados em leitos de UTI adulto. A partir do dia 7 de junho, quando as internações passaram de 50 e chegaram a 54 pacientes confirmados em leitos de UTI adulto, os números começaram a aumentar e o crescimento tem sido observado diariamente.

Recordes

Sobre os recordes que vêm sendo observados na taxa de ocupação dos leitos de UTI adulto, Kuchenbecker assinalou que isso já era esperado conforme projeções com base nos dados que vêm sendo computados pela SMS. “Mas sempre que for possível, precisamos diminuir essa sobrecarga e nesse momento a única forma é através das medidas de distanciamento social, não tem outra coisa que a gente faça, não temos tratamento, não temos vacina. O distanciamento tem se mostrado capaz de colaborar para que a gente não chegue no pico de utilização dos leitos”, reiterou.

Outro fator preocupante, de acordo com Kuchenbecker, é que se chegarmos no pico de utilização de leitos de UTI, para sair dessa situação é muito mais difícil. “Entra-se em uma espiral de complexidade da qual precisaríamos de muitas semanas ou até meses para sair dela, esse é o fator mais preocupante”, declarou. 

Ainda sobre a ocupação dos leitos de UTI, Kuchenbecker reforçou que é preciso pensar neste indicador de forma regionalizada, pois os leitos da Capital também são ocupados por moradores de toda a Região Metropolitana. “Os leitos são regionais e essa diferença faz com que os municípios tenham que trabalhar em conjunto para a resposta à pandemia, porque senão vemos uma sobrecarga de internações em municípios polo. A resposta precisa ser regional, não pode ser municipal, pois o vírus não vê a diferença entre os municípios”, pontuou.


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