Porto Alegre tem novo recorde de pacientes com Covid-19 em leitos de UTI

Porto Alegre tem novo recorde de pacientes com Covid-19 em leitos de UTI

Em tendência de alta, total entre casos confirmados e suspeitos chegou a 210 nesta quinta-feira

Jessica Hübler

Os dados indicam um novo recorde de pacientes com diagnóstico positivo do novo coronavírus nas UTIs adulto

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O número de internações nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) adulto relacionadas à Covid-19, em Porto Alegre, passou de 200 na tarde desta quinta-feira, sendo a maior marca desde o início da pandemia. Conforme levantamento da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), eram 165 pacientes confirmados e 45 suspeitos, chegando a 210, o que representava 36,77% do total de 571 internados nos 17 hospitais analisados pelo monitoramento da SMS. 

Os dados indicam um novo recorde de pacientes com diagnóstico positivo do novo coronavírus nas UTIs adulto, o maior número tinha sido registrado no dia 29 de junho, quando estavam internados 146 pacientes e, na tarde de desta quinta-feira, eram 165, um aumento de 13,01% em três dias. Destes pacientes, praticamente metade, 104 (49,52%), entre confirmados e suspeitos, estava no Hospital de Clínicas de Porto Alegre ou no Hospital Nossa Senhora da Conceição, que são os dois hospitais referência para tratamento da Covid-19 na cidade.

O diretor técnico do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Francisco Paz, alertou que a situação está preocupante. “Temos mais de 90% de ocupação na nossa UTI destinada para pacientes com Covid e, na UTI para outras complicações, já passamos de 80%, nossos níveis tem ficado nessas média e nos preocupamos porque, se continuar aumentando a demanda, vamos chegar no nosso limite e não vamos poder atender mais ninguém”, assinalou. Na tarde de quinta-feira, 41 confirmados e 34 suspeitos estavam internados em UTIs adulto do Conceição.

Conforme Paz, eventualmente, se a demanda diminuir, voltamos a uma situação de relativa tranquilidade, mas “tudo depende do que vai acontecer nos próximos dias”. Os reflexos das últimas restrições em Porto Alegre, de acordo com ele, ainda não foram vistos pelas equipes do GHC. “Por enquanto a gente segue observando ainda um aumento, continuamos muito preocupados e há uma tensão bem elevada, até pelos profissionais de saúde”, destacou. A experiência de anos anteriores, de acordo com Paz, demonstra que com a chegada de julho também começa a aumentar a ocupação das UTIs. 

“Esse ano temos ainda a Covid-19 a mais para nos preocupar, precisamos que a demanda comece a baixar o quanto antes, estamos na torcida para que isso aconteça. Se não for assim, o Conceição vai ter que parar de receber pacientes”, declarou. Sobre o cenário da Capital como um todo, Paz afirmou que possivelmente o aumento no número de leitos em outros hospitais possa acompanhar, mas reiterou. “O risco de colapso está cada vez mais próximo”, enfatizou. Em maio, segundo Paz, os hospitais estavam em uma situação aparentemente confortável, não havia preocupação maior, mas em junho, pelo menos no Conceição, foi possível notar claramente o aumento da demanda e, mesmo com a ampliação dos leitos, a ocupação também tem sido maior. 

No Rio Grande do Sul, conforme levantamento da Secretaria Estadual de Saúde (SES), dos 2.174 leitos de UTI adulto, 1.538 pacientes estão internados, o que representa uma taxa de ocupação de 70,7% no geral. Do total, 417 (27,1%) são casos confirmados da Covid-19 e 163 (10,6%) suspeitos ou outra Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). A maioria das internações (62,3%), segundo o monitoramento da SES, está relacionada a outras complicações.

O professor do curso de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Alcides Miranda, destacou que a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus é muito complexa. “Os dados que temos acompanhado no mundo inteiro demonstram que, em determinadas fases de contágio, quando a localidade está em uma curva exponencial, em uma progressão intensiva de contágios, também vão aumentar muito rapidamente as complicações”, explicou.

Com relação ao aumento das complicações e consequentemente ampliação da demanda por leitos de UTI por pacientes com a Covid-19, Miranda reforçou que é preciso estar atento para as mudanças nas restrições das atividades pois, em certa medida, pode ser que mudanças de aberturas e fechamentos dos setores acabem não acompanhando a gravidade da doença. “Mudar a regulação do rigor das medidas de distanciamento e o tempo que isso leva para surtir efeitos, não é compatível com a rapidez com que podem aumentar as complicações e gerar a sobrecarga e até o colapso dos serviços, principalmente nas UTIs”, enfatizou.

Miranda ainda declarou que o problema pode estar se alastrando. “Já temos evidências de que o afrouxamento das medidas aumenta a incidência de casos, óbitos e internações, está claramente demonstrado que nessa fase de progressão, em que estamos, afrouxar o distanciamento aumenta o risco de sobrecarga dos serviços por conta do crescimento do contágio”, pontuou. A sensação de estabilidade e o paradoxo de como o distanciamento até certa medida deu certo no início da pandemia no Rio Grande do Sul, de acordo com Miranda, gerou uma falsa segurança e uma exposição maior por parte da população. “É uma armadilha na verdade”, definiu.

Miranda ressaltou que é favorável às estratégias de regulação do rigor das medidas de distanciamento, por exemplo com a liberação de algumas atividades, mas nunca na fase de progressão intensiva, como a que estamos passando. “Afrouxaram na fase errada”, opinou, reiterando que é mais difícil pedir que as pessoas voltem a ficar em casa após as liberações. “Tinha que se aumentar o rigor das medidas de distanciamento social, chegando ao ponto de um isolamento total. Até acho que seria uma medida extrema, mas que surtiria um efeito positivo. Se conseguir fechar tudo de forma bem efetiva, durante três semanas, é possível sustar a cadeia de transmissibilidade e o desafio passa a ser outro: o controle da nova entrada do vírus”, sugeriu.

A medida extrema, segundo Miranda, surtiria um efeito com relação à mortalidade que seria bastante significativo. “Entretanto há uma resistência muito forte em se fazer isso pelas questões econômicas, então se não é possível fazer isso, o ideal seria chegar a um distanciamento social na faixa de 50% a 70% de isolamento social voluntário, não será só convencendo as pessoas, pedindo para as pessoas fazerem isso, são necessárias medidas impositivas para aumentar esse rigor, pelo menos nessa fase”, acrescentou.


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