Postagem da Prefeitura com informações equivocadas sobre máscaras causa polêmica

Postagem da Prefeitura com informações equivocadas sobre máscaras causa polêmica

Post faz uma releitura com o saci-pererê colorado e o mosqueteiro tricolor sobre o uso do acessório

Gabriel Guedes

Postagem com informações equivocadas sobre máscaras causa polêmica

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Uma postagem no Instagram, feita pela Prefeitura de Porto Alegre no dia 28 de abril, incentivando o uso de máscaras, vem recebendo críticas de pessoas nas redes sociais pelas informações divulgadas e a forma como são apresentadas. Inspirada numa postagem feita pela conta do Maurício de Souza, criador dos desenhos da Turma da Mônica, em 14 de agosto do ano passado, a peça da Prefeitura da Capital faz uma releitura, onde no lugar do Cebolinha e da Mônica, entram o saci-pererê colorado e o mosqueteiro tricolor. Mas com as mudanças recentes nos protocolos de uso das máscaras, as polêmicas recaem sobre os riscos apresentados e também pelo fato da maioria compreender que o personagem gremista, de cor branca, teria mais imunidade sem máscara que o representante do Inter, um negro.

O principal problema está na parte onde o mosqueteiro, sem usar máscara, teria 5% de chances de ser contaminado com o saci colorado, expelindo gotículas e usando máscara cirúrgica. Entretanto, na parte em que o saci está sem máscara e o tricolor usa a de pano, o risco do colorado se infectar é de 30%.

O professor do departamento de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e médico preceptor no setor de Atenção Básica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Marcelo Gonçalves, acredita que as sutis diferenças nos tipos de máscaras utilizadas pelos personagens podem ter tornado a compreensão difícil para leigos. “Os percentuais são difíceis de estimar, mas estão adequados se pensarmos no conjunto de proteções que vão sendo colocados (sem máscara, com uma máscara, etc), a variação do tipo de máscara e como está sendo usada é o que dá margem para discussão”, afirma.

“Do ponto de vista epidemiológico, pensando na escala de cores, está de acordo. Duas pessoas usando máscara vai ter uma chance bem baixa de contaminação. Mas depende de outras variáveis, como o tipo de máscara, se é ambiente aberto ou fechado, se tem ventilação ou não para cravar aqueles percentuais. Eles podem até se aproximar, mas não dá para ser 0% ou 100%”, aponta.

O distanciamento recomendado, de 1,8 metro, está dentro do que orienta o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, dos EUA) e aquém do determina o governo do Rio Grande do Sul, que é de 2 metros.

Gonçalves foi um dos pesquisadores do estudo “Social Distancing, Mask Use and the Transmission of SARS-CoV-2: A Population-Based Case-Control Study”, produzido por pesquisadores da UFRGS, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Unisinos e Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre (SMS).

O resultado foi divulgado na primeira quinzena de março, depois de analisar uma lista cedida pela SMS com 3.437 pacientes da Capital que testaram positivo para covid-19 entre abril e junho de 2020. Os pesquisadores concluíram que o uso de máscaras reduz em 87% a chance de infecção por SARS-CoV-2, o vírus que causa a Covid-19.

O estudo também mostra que as pessoas que aderem de forma moderada a intensa ao distanciamento social têm entre 59% e 75% menos chances de contrair o vírus. “O que temos como recomendação agora, conforme o CDC e o governo do RS, se estiver em ambiente fechado, o recomendado é tentar usar N95/PFF2 ou máscara cirúrgica com uma de pano por cima”, orienta.

A Prefeitura de Porto Alegre foi procurada, mas não se posicionou sobre o assunto até o fechamento desta reportagem. O espaço está aberto para manifestações. A postagem também segue publicada no perfil.  


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