Prefeitura diz não incentivar jipes em praia de Mostardas onde cão morreu atropelado

Prefeitura diz não incentivar jipes em praia de Mostardas onde cão morreu atropelado

Instituto que trabalha com preservação ambiental afirma que ecossistema da área é prejudicado pelo trânsito de veículos

Felipe Faleiro

Praia do Farol da Solidão fica a cerca de 60 quilômetros da sede de Mostardas

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A praia do Farol da Solidão é um dos locais mais belos do litoral gaúcho. A área é destacada pelo farol em questão, inaugurado em 1929 e com 29 metros de altura. No entanto, há a preocupação de frequentadores quanto à segurança no local, principalmente em relação à circulação de jipes na faixa de areia. O trânsito de veículos, porém, não é incentivado pela Prefeitura e criticado por instituições de apoio ao meio ambiente. Na última sexta-feira, o cão de uma jovem de 21 anos foi atropelado na área do farol e morreu, enquanto ela passeava com seu filho de cinco anos e o animal.

Ela mora em Viamão, não quis ser identificada e contou que frequenta a praia há cerca de 20 anos. “Quatro jipes vieram em nossa direção e um deles o atropelou. Acho que nosso cachorro não viu eles. Não sei a intenção disto [atropelamento], mas, para mim, foi de propósito”, disse a jovem. A Polícia Civil de Mostardas confirmou que recebeu a denúncia sobre este fato específico. “O caso está em apuração. Em tese, pode haver o crime de crueldade animal”, afirmou o delegado Tiago Santos Souza, responsável pela delegacia do município.

Uma lei estadual de 1991 proíbe o trânsito nas praias balneárias gaúchas “destinadas ao descanso, aos desportos, à recreação e ao lazer em geral”. Procurada para comentar o caso, a Prefeitura de Mostardas, em nota, disse que a praia em questão está distante aproximadamente 60 quilômetros da sede municipal. “Contamos com pouco efetivo da Brigada Militar para atender um município de 90 km de extensão à beira-mar”, disse a administração. A Prefeitura prosseguiu, dizendo que “não incentiva trilhas de veículos off road na orla marítima por se tratar de área de fragilidade ambiental e próxima ao Parque Nacional da Lagoa do Peixe, onde é expressamente proibido o trânsito de veículos”.

Diz ainda que “possui outras rotas para este importante nicho de turismo, que não possui risco a este tipo de acidente”. Já o 8º Batalhão de Polícia Militar (8º BPM), responsável pela região, afirmou também em nota que “não foi solicitada” para atender o caso do cão atropelado. “Se tivesse sido acionada, uma guarnição teria comparecido ao local para o devido atendimento.” O coordenador técnico do Instituto Curicaca, destinado à preservação ambiental, Alexandre Krob, que está trabalhando na Lagoa do Peixe, classifica como grave a circulação de veículos nesta área, que tem um ecossistema significativo.

“O local é utilizado por aves que migram do Hemisfério Norte e da Patagônia e estão ali repondo energias para o retorno, e não podem ser perturbadas neste momento. Os bandos se alimentando na beira da praia são afugentados por um veículo e quando pousam novamente são afugentados por outro. É uma sequência que, somada, causa um enorme prejuízo no equilíbrio sensível entre acúmulo e gasto de energia”, diz ele. Os jipes são um agravante neste processo.

“A grande motivação dos jipeiros são os desafios do terreno e a praia é para eles muito monótona. Então, sempre buscam dunas, banhados e pequenos arroios para compor sua trilha de obstáculos e com isso impactam ambientes sensíveis, destruindo abrigos, ninhos e ninhadas de espécies que precisam ser protegidas”, afirma Krob. A área da praia do Farol da Solidão está fora do Parque Nacional, mas o coordenador afirma que a legislação ambiental não está restrita a estes locais de proteção. “Se trata de estender a preocupação e a prática [da preservação] para outras áreas”, concluiu.


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