Profissionais de saúde recebem primeiras doses da vacina em Porto Alegre

Profissionais de saúde recebem primeiras doses da vacina em Porto Alegre

Imunização foi feita pela equipe do Hospital São Lucas da Pucrs

Cláudio Isaías

Vacinação de voluntários contra o coronavírus

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Dez profissionais de saúde de um total de 852 pessoas participaram no sábado da aplicação da vacina da farmacêutica chinesa Sinovac, desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan. A imunização foi feita pela equipe do Hospital São Lucas da Pucrs. Os profissionais do hospital que atuam no combate à Covid-19 receberam as primeiras doses contra a doença. O médico Luciano Marini, 49 anos, que trabalha na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do hospital São Lucas, foi o primeiro voluntário a receber a vacina no Rio Grande do Sul. Ele afirmou que aposta na eficácia da vacina em função dos protocolos rígidos de segurança. "É um momento muito especial estar participando dos testes e que em breve tenhamos uma vacinação segura e eficaz para que chegue o mais rápido a toda a população", ressaltou. 

Segundo o médico Fabiano Ramos, líder do estudo e chefe do Serviço de Infectologia do Hospital São Lucas, disse que um grupo de 20 de profissionais da instituição de saúde, formado por farmacêuticos, enfermeiros, biólogos e médicos infectologistas será o responsável por conduzir, com suporte operacional e administrativo, o estudo no Centro de Pesquisa Clínica do Hospital. Enfermeira do Hospital Universitário da Ulbra, em Canoas, Rosecler Silva da Rosa também esteve entre o grupo que recebeu a imunização no sábado. Para ela, participar do estudo é uma motivação extra para os plantões exaustivos, muitas vezes dobrados, que enfrenta na emergência. “É uma esperança, pois além de enfermeira eu sou mãe e penso muito em proteger a minha família. Hoje não consigo encostar no meu filho, que é asmático. Dói muito. Estar na linha de frente afeta muito o psicológico, tem dias que tu choras e tem vontade de desistir.”, acrescentou.

Nos próximos dois meses, conforme Ramos, o hospital receberá voluntários selecionados de diversas instituições de saúde de Porto Alegre e da Região Metropolitana para um processo que envolve entrevista técnica, checagem de requisitos, orientações gerais e, por fim, a aplicação da vacina, que será feita duas vezes em 14 dias. O acompanhamento dos 852 voluntários escolhidos, no entanto, se estenderá até o fim de 2021. O hospital São Lucas recebeu um total de cinco mil inscrições de pessoas interessadas em participar dos testes da vacina contra a Covid-19. No sábado, a imunização foi feita nos profissionais ligados aos hospitais Vila Nova, Ernesto Dornelles, Conceição e Clínicas de Porto Alegre. No começo de julho, o Hospital São Lucas formalizou o contrato para testagem da dose, oficializando a unidade hospitalar como um dos 12 centros, de seis estados do país, que farão os testes clínicos da vacina. Ao todo, serão nove mil voluntários em todo o Brasil.

Conforme Ramos, existe uma grande ansiedade e otimismo para o início do estudo. “Acompanhamos o progresso da vacina desde o início da pandemia da coronavírus e temos a confiança de que é um estudo capaz de responder positivamente à expectativa da sociedade. Esperamos que, comprovando a eficácia da vacina, até o início do ano que vem a população já possa ser imunizada”, acrescentou. A doutora em Biologia e coordenadora do estudo, Michelle Viegas, avalia ganhos de longo prazo. “O Centro de Pesquisa do hospital realiza atualmente mais de 200 estudos simultâneos, que vão desde a testagem de medicamentos até outras vacinas, como a da dengue, por exemplo. O tempo recorde de avanço do estudo da CoronaVac pode nos ajudar a encontrar atalhos para tratamentos futuros”, destacou.

Para o diretor-geral do Hospital São Lucas da PUCRS, Leandro Firme, o estudo reflete o esforço da instituição de saúde para construir soluções para as novas perguntas que emergem na área da saúde. “Estamos preparados, pois o estudo nasce da credibilidade e inovação características do Centro de Pesquisa Clínica. A vacina é uma esperança para  todos os hospitais que tiveram suas rotinas afetadas pela pandemia da Covid-19  e se desafiam diariamente para cuidar dos pacientes com coronavírus e de outras enfermidades", ressaltou.

Atualmente em sua terceira etapa de testes, a vacina está no estágio em que é aplicada em larga escala, o que poderá comprovar em definitivo a sua eficácia e duração da proteção. O Hospital São Lucas é um dos 12 Centros de Estudos do Brasil, sendo o único do Rio Grande do Sul, que aplicará a vacina e documentará os resultados junto ao Instituto Butantan, de São Paulo. Das nove mil pessoas que participarão da testagem no Brasil, metade receberá a vacina, ao passo que a outra metade placebo, isto é, uma substância sem efeito algum. Por ser um estudo “duplo cego”, somente os farmacêuticos que recebem e acondicionam os imunizantes conseguem saber o que cada seringa contém.

No entanto, eles não acompanham o momento de aplicação, conduzido pelos pesquisadores junto aos voluntários, que desconhecem o conteúdo das doses em questão. A estratégia permite a análise e comparação dos resultados pelos dois grupos, validando ou não o efeito da substância. Na prática, o que se espera é que o sistema imunológico dos testados desenvolva anticorpos para o vírus inativado (“morto”) da Covid-19 que está presente na vacina, tornando a pessoa em questão imune ao efeito do vírus ativo caso ela tenha contato com o organismo posteriormente.

 


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