Promotor diz que é impossível dar justiça às famílias das vítimas da Boate Kiss

Promotor diz que é impossível dar justiça às famílias das vítimas da Boate Kiss

David Medina disse que a tragédia se enquadra como crime de homicídio doloso

Lou Cardoso

Promotor David Medina iniciou a fase de debates do julgamento

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Começou, na tarde desta quinta-feira, a fase de debates no julgamento do caso da Boate Kiss em Porto Alegre. A etapa teve início pelo representante do Ministério Público, o promotor David Medina, que se dirigiu aos familiares das vítimas presentes no plenário dizendo que é impossível fazer justiça para cada pai e mãe que perdeu um filho na tragédia.

"Eu tenho vergonha de pedir justiça porque é impossível dar justiça a esses pais e mães. Como vamos dar o que é justo para cada um desses pais e mães? Quem eles vão abraçar no Natal neste ano? E no ano que vem? Não existe prisão pior do que esses pais. Tem muita dor do lado de lá", afirmou. 

Ele ainda ressaltou que os sobreviventes também sofrem com uma certa "prisão", colocando o exemplo de Kellen Ferreira, que esteve presente no plenário para dar o seu depoimento sobre a noite da tragédia, e que perdeu parte da perna. 

O Promotor também falou sobre enquadrar o incêndio na Boate Kiss como crime de homicídio doloso. "Nós precisamos dizer que incendiar uma casa lotada de gente é crime de homicídio doloso porque isso vai proteger, daqui para frente, nossos filhos e filhas. Eu não quero ver meu filho entrando numa boate para nunca mais sair. Isso só vai acontecer se a gente conseguir dizer para todos os proprietários de boates do Brasil que cuidem dos seus frequentadores. As pessoas entram e precisam sair”, destacou. Ele ainda disse que pede a condenação por crime doloso "não porque os réus quiseram provocar o incêndio, mas porque assumiram o risco".

Medina também citou que a tese dos acusados é de que eles não têm culpa, e que a culpa é do sistema. "Eles não têm condições de assumir seu erro porque é muito difícil assumir a morte de 242 pessoas. Quer negar, nega, mas não fica espalhando responsabilidades", disse. 

Medina questionou se sócios da boate tinham preocupação ou indiferença com a segurança: “Não tinham preocupação nenhuma. Eu já assumi o lado da indiferença. Se a gente abstrair todas as mentiras contadas nesse processo, tentando atribuir responsabilidade a outras pessoas, e perceber a forma como os réus agiram, houve indiferença", afirmou o promotor e ainda questionou "se haviam luzes indicativas, como tantas pessoas morreram empilhadas nos banheiros da casa."

Representando a Assistência de Acusação, o advogado Pedro Barcellos Junior foi incisivo ao recordar cada depoimento dos réus e suas falas ao longo do julgamento. Ele ainda criticou a demora dos acusados para se manifestarem sobre a tragédia. "Tiveram oito anos para falar com os pais e hoje não quiseram responder às minhas perguntas", disse. 

"Se não tivessem posto fogo na boate, se não tivessem comprado o artefato pirotécnico, se não tivessem comprado e colado a espuma, se não tivesse lotado a boate, as pessoas não iriam morrer", citou o advogado.

A fase de debates teve início hoje com a acusação - Ministério Público e Assistência de Acusação - e depois as quatro defesas dos réus terão 37 minutos e 30 segundos cada para falar no plenário. 


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