Proprietários de revenda de automóveis reclamam de fechamento de lojas e calculam prejuízos

Proprietários de revenda de automóveis reclamam de fechamento de lojas e calculam prejuízos

Setor é um dos atingidos pela pandemia de Covid-19

Felipe Samuel

Setor é um dos mais atingidos pela pandemia de Covid-19

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Com as restrições do comércio e a proibição de atendimento presencial em revendas e concessionárias de veículos da Capital, empresários do ramo contabilizam prejuízos desde o início da pandemia. O que se desenhava como um ano positivo para o setor, que mantinha bom fluxo de vendas até fevereiro, se transformou em um pesadelo para muitos proprietários. Sem poder manter as portas abertas para atendimento ao público, o Sindicato Intermunicipal dos Concessionários e Distribuidores de Veículos no Estado do Rio Grande do Sul (Sincodiv-RS) calcula perdas de pelo menos 50% para o setor.

Com mais de três décadas de experiência no ramo, Gérson Hubermann é proprietário de uma revenda no Sarandi. Desde que iniciou o trabalho, em 1987, nunca se deparou com uma crise econômica tão aguda quanto a atual. Ele viu as vendas de automóveis usados despencarem após o surgimento da pandemia, em março. "Em fevereiro estava ótimo, mas depois caiu 70% dos negócios. Desde abril são três meses de sofrimento, sem falar que mandaram baixar as portas direto", observa, em referência ao mais recente decreto da prefeitura.

Acostumado a vender em média 20 carros por mês, Hubermann revela que passou a comercializar sete automóveis por mês. Sem poder abrir as portas, reforçou o atendimento online. Na entrada da revenda, numa cena que se repete em toda a Zona Norte, adotou a mesma estratégia dos colegas de revenda: fixou um cartaz com número de telefone celular para atendimento via whats app. "Se eu tivesse de portas abertas estaria vendendo muito mais. É outra coisa", compara. Ele cobra da prefeitura maior flexibilização das medidas de restrição. "Meu negócio entra três a quatro clientes por dia. Quantos entram num supermercado? Num banco? Numa lotérica? Num ônibus?", critica.

A alternativa para manter o negócio foi usar as reservas para cobrir as despesas normais. "Aluguel e impostos são os mesmos, IPTU é o mesmo, sites que eu uso são os mesmos. O IPVA venceu tudo em abril, tivemos que recolher tudo porque tem multa de 0,25% ao dia", afirma. Na companhia do filho Gustavo, 31, que trabalha na revenda desde 18 anos, ele recorda que nem nos 2000, quando houve redução de ICMS para montadoras e o preço dos automóveis zero km, o impacto para o setor foi tão grande. "Ficamos três meses remando, porque baixou o preço do carro zero km. Mas naquela época não impactou tanto quanto agora, é a primeira vez que impacta desse jeito", alerta.

Rudinei Silva da Silva, que atua no mercado há mais de 30 anos, também calcula perdas de pelo menos 50% nos últimos três meses. "Muitas vezes não estamos (revendas) conseguindo pagar aluguel, que é alto", ressalta, acrescentando que já tentou negociar sem êxito o aluguel com proprietário. Silva afirma que o ritmo de vendas do começo do ano sinalizava para dias melhores. "Até fevereiro estávamos com expectativa muito boa para este ano. Mas quando chegou março e deu a pandemia, veio toda essa situação toda de bloquear e fechar tudo. Foi por terra todas as nossas expectativas", destaca.

Ao garantir que muitos proprietários de revendas estão baixando preços dos negócios para poder girar o negócio, mas acabam perdendo a margem de lucro. "A gente vai gastando um capital que já ganhou trabalhando e daqui a pouco está botando tudo fora. Por isso que tem muitas empresas fechando porque não conseguem segurar o custo alto que tem para manter", frisa. Na companhia do filho Mathues, que trabalha no local, ele sugere que a prefeitura flexibilize as restrições ao setor. "Revenda de automóvel é onde tem menos fluxo de pessoas. Não é abrir o portão que vai entrar três ou quatro pessoas ao mesmo tempo ou uma multidão. Se fosse assim estava numa felicidade plena", completa.

O presidente do Sincodiv-RS, Paulo Ricardo Ippólito Siqueira, lamenta o fechamento prematuro do comércio, embora reconheça a necessidade de resguardo da população por conta da pandemia. No Rio Grande do Sul, ele projeta perdas em torno de 50%. "A estratégia não logrou êxito e talvez possa prejudicar o mercado automotivo com perdas em torno de 50%", frisa. Na avaliação de Siqueira, muitos comerciantes investiram suas reservas naquele momento, antes do período mais crítico da doença. "A gente sabia que o vírus ia chegar, mas chega num momento em que as reservas todas foram consumidas por um fechamento precoce (do comércio)", justifica. 

Siqueira reforça que o setor 'está sofrendo' por conta do último decreto da prefeitura, que obriga o fechamento das portas das revendas e proíbe atendimento presencial. Ele concorda que os negócios apresentavam bom ritmo no começo do ano, com a retomada gradual das vendas. Mas também cobra maior flexibilização para o setor. "Nossa atividade é em ambiente hígido, saudável por natureza, com lojas amplas, oferece higidez muito maior do que outros locais. Não é uma atividade que cria concentração", sustenta. Na avaliação de Siqueira, a atividade pode ser enquadrada como essencial.

O secretário extraordinário de Enfrentamento ao Coronavírus, Bruno Miragem, explica que as medidas atuais têm o propósito de restringir a circulação de pessoas e, no caso do comércio de veículos, a prefeitura procurou reduzir o impacto das medidas, admitindo-se a comercialização remota. "Neste momento de enormes sacrifícios impostos pelas restrições às atividades econômicas e sociais para enfrentamento da pandemia, são legítimos os interesses de todos os setores para uma rápida normalização do seu funcionamento", afirma.

Miragem destaca que o município determinou 'restrições graves' por conta da elevação da curva de ocupação de leitos em razão do coronavírus, apesar da contínua disponibilização de novos leitos. Ele garante que este é um fenômeno que ocorre no mundo todo. "Esperamos ter a adesão da população e dos setores econômicos a estas medidas, inclusive para podermos rapidamente evoluir a um modelo de convivência das atividades econômicas e sociais e o vírus, que seguirá presente em nosso meio", observa. 


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