Protesto no Postão da Cruzeiro pede melhores condições de trabalho a profissionais da saúde

Protesto no Postão da Cruzeiro pede melhores condições de trabalho a profissionais da saúde

Servidores do pronto atendimento relatam riscos de contaminação pelo coronavírus em função da instalação do centro de triagem na entrada do local

Felipe Samuel

Morador da Cruzeiro, Michael Santos afirma que muitos profissionais relatam condições precárias de trabalho

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Um grupo de moradores protestou nesta sexta-feira em frente ao Postão da Vila Cruzeiro, na Zona Sul, contra a falta de condições de trabalho a profissionais da saúde que atuam na unidade. Os manifestantes - que fizeram abraço simbólico no local - alegam que servidores do pronto atendimento relatam riscos de contaminação pelo novo coronavírus em função da instalação do centro de triagem na entrada do Postão. Além disso, crianças e adultos estão sendo atendidos no mesmo local: na ala voltada a pacientes com síndromes respiratórias.

Coordenador da pediatria da unidade, Hélio Miguel Simão alerta que esse tipo de procedimento coloca em risco tanto pacientes quanto trabalhadores. Simão reforça que a mudança causa preocupação. "Decidiram fazer fluxo da pediatria dentro da ala nova, mas nos organizamos para impedir isso o atendimento pediátrico na mesma área física com adultos", revela. Em reunião virtual, os 29 pediatras que atuam no local foram unânimes ao apontar a falta de condições adequadas de trabalho.

Mais do que os problemas enfrentados em meio à pandemia, Simão explica que o Postão está sem titular na direção-geral e diretor-técnico, o que gera receio entre profissionais que atuam no local. "As duas direções do PACS pediram demissão em menos de 30 dias porque não estavam conformidade com as mudanças promovidas pela Coordenação de Urgências", observa. A falta de um profissional à frente do Postão obrigou um grupo de funcionários a criar um gabinete de crise para lidar com os problemas diários.

As instalações precárias e os problemas na distribuição da ventilação no setor de pacientes diagnosticados com Covid-19 também oferecem perigo a quem busca atendimento de emergência. "Não tem distribuição correta de ar. Apesar de terem instalado exaustores, a ventilação é inadequada. No setor, há apenas um banheiro para pediatria e adulto. Para os funcionários, não tem área de paramentação e desparamentação", acrescenta. Simão revela que os profissionais muitas vezes precisam comprar EPIs. "Gastamos em média de R$ 700 a R$ 1 mil em EPIs, porque os que nos oferecem ou eram insuficientes ou de péssima qualidade".

Morador da Cruzeiro, Michael Santos afirma que muitos profissionais relatam condições precárias de trabalho. "Eles levantaram a preocupação com a colocação dos internos da pediatria junto ao lado dos internos da Covid ou com sintomas. Somos conhecedores das dependências do Postão e entendemos que essa disposição contraria as orientações de autoridades da saúde, especialmente na questão da ventilação e do acesso", afirma. Ele critica ainda a entrada pelo portão principal para todos pacientes. "Um espirro numa sala como essa de acesso pelo postão pode contagiar cem pessoas que aguardam atendimento para outro tipo de doença", frisa.

Em nota, a SMS garante que o Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul trabalha desde 20 de março com fluxo separado para atendimento dos casos sintomáticos respiratórios, através de tenda de atendimento instalada na entrada do Serviço. Conforme a pasta, essa medida foi tomada desde o início do enfrentamento do Covid-19 em Porto Alegre em 6 tendas diferentes espalhadas na cidade, e explica em parte o excelente controle da epidemia, e até hoje a inexistência de surtos do Covid-19 nas emergências hospitalares públicas de Porto Alegre.  

De acordo com a SMS, prevendo o aumento e a complexidade nos atendimentos, a equipe de manutenção e obras do Pronto Atendimento trabalhou na adequação de uma área interna para atendimento de adultos, liberada para utilização em 15 de maio. Tanto o local quanto os fluxos de atendimento seguem as normativas existentes para atendimentos aos casos suspeitos da COVID-19, com isolamento e profissionais devidamente paramentado.

A nota informa que desde o início da pandemia são adotados protocolos padronizados para todos os serviços de saúde de Porto Alegre para atendimento de pacientes com suspeita de Covid-19, baseados nas melhores evidências científicas e nas recomendações do Ministério da Saúde. A SMS critica a atuação do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) 'que juntamente com sindicalistas que atuam no local seguem agindo de forma irresponsável, inconsequente sempre em favor de interesses particulares e políticos'.

Conforme a nota, a população pode seguir procurando o serviço normalmente. "É importante lembrar que o Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul é o único serviço de pronto atendimento ainda sob gestão da administração direta da Prefeitura de Porto Alegre, e denúncias como essas só reforçam a assertividade da gestão atual de promover a contratualização dos serviços de saúde públicos."


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