Queda da obrigatoriedade das máscaras pode estar por trás do aumento de casos de Covid-19

Queda da obrigatoriedade das máscaras pode estar por trás do aumento de casos de Covid-19

Primeira quinzena de abril apresentou aumento de casos confirmados de coronavírus em Porto Alegre

Felipe Samuel

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O fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados públicos e privados em Porto Alegre é uma das justificativas de especialistas para o leve aumento do número de casos confirmados para coronavírus observado no final de março e na segunda quinzena de abril. O último boletim epidemiológico Covid-19 da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), divulgado no final de abril, aponta crescimento de 18,9% no registro de casos confirmados na Semana Epidemiológica 15, no período de 10 a 16 de abril, em relação a SE 13 (27 março a 2 abril).

Na SE 15, foram confirmados 867 casos da doença, ou seja, 196 diagnósticos a mais em comparação a SE 13, quando 671 pessoas contraíram o vírus. Após registrar picos de casos da doença em janeiro e fevereiro, a Capital observava tendência de queda sustentada até o começo de abril, quando houve o primeiro aumento de casos Covid-19 após dez semanas epidemiológicas seguidas redução. Na SE 3, a Capital registrou o maior número de casos confirmados, com 13.407 diagnósticos. Chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Moinhos de Vento, Alexandre Zavascki afirma que o cenário mudou em março, no período em que caiu a obrigatoriedade do uso de máscaras.

O crescimento dos casos positivos já é percebido no hospital. "Houve uma reversão desde o final de março e a primeira semana de abril. Hoje a nossa última 'positividade' até semana passada estava em 18,8%, ou seja, mais que dobrou em relação a março", destaca, acrescentando que naquele mês a taxa de pacientes positivos chegou a 7,6%. Na avaliação de Zavascki, o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes fechados pode justificar o aumento de casos. "O que a gente viu após a retirada (da obrigatoriedade) é justamente a interrupção de uma sequência de queda (de casos) que vinha ocorrendo", destaca.

Além do aumento de casos do novo coronavírus, Zavascki alerta para o crescimento 'muito grande' no número de infecções em crianças não só de Covid, mas de outras viroses. "Acho que isso é um reflexo também dessa redução", completa. Para o especialista, muitos adultos e crianças abandonaram o uso de máscaras, o que gera preocupação. "É um cenário epidemiológico que preocupa mais um pouquinho", avalia. Ele avalia que pessos que foram infectadas em janeiro, no auge da variante Ômicron, começam a diminuir o nível de proteção produzido por infecção e voltam a estar expostos principalmente por não estarem se protegendo. 

Apesar desse contexto, Zavascki explica que a velocidade que o vírus está se espalhando é muito menor em relação ao pico da doença. Isso porque muita gente está imunizada. "É um cenário que deveria ser avaliado, principalmente com a chegada dos meses de inverno que podem contribuir para aumento", alerta. "Provavelmente esse é um período que começa a cair um pouco daquela imunidade também adicional adquirida pela infecção. Então tudo indica que vai ter um pouquinho mais de pessoas suscetíveis a infecção", frisa.

Gerente de Risco do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Ricardo Kuchenbecker reconhece que houve aumento dos casos confirmados para a doença nas últimas semanas, embora aquém do verificado no pior momento da pandemia, nos meses de janeiro e fevereiro, quando houve explosão de casos por conta da variante Ômicron. "Esse aumento de casos e a correspondência de aumento de internações não é de longe próximo do que a gente já observou nos outros momentos mais duros da pandemia. Mas isso vai acontecer", compara.  

O epidemiologista ressalta que o aumento de casos confirmados pode ter relação com o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras, especialmente em locais fechados. "De um lado tem a ver com a flexibilização das medidas, e de outro tem a ver com o fato de que mesmo em níveis já mais pós-pandêmicos, níveis já endêmicos dessas oscilações, isso é o que é absolutamente esperado para as próximas semanas e meses", afirma. Sobre a possibilidade de a pandemia se transformar em endemia (quando uma doença tem recorrência em uma região, mas sem aumentos significativos no número de casos), Kuchenbecker mantém a cautela.

"Serão necessárias mais semanas epidemiológicas, de observação, para a gente entender como ficam esses comportamentos depois da última 'onda' que foi a Ômicron de janeiro e fevereiro. A gente vai ter que observar cada cidade, cada região, para entender um pouco melhor essas oscilações para, a partir disso, poder estabelecer níveis endêmicos. Isso é um processo em evolução que depende da observação dessas tendências das infecções", explica. Para Kuchenbecker, será preciso acompanhar os próximos dias para avaliar se as flexibilizações foram corretas. 

Kuchenbecker afirma que as mudanças climáticas do outono e a chegada do inverno podem representar outro desafio para evitar aglomerações e a disseminação de doenças respiratórias em ambientes fechados. "As pessoas ficam com as janelas fechadas, em ambientes com menor circulação do ar e principalmente com essa umidade, que propicia o aumento de infecções respiratórias. E isso tudo tem impacto em relação ao comportamento da Covid-19", salienta. Mesmo diante do crescimento de casos, ele afirma que a ocupação de hospitais por pacientes Covid-19 é 'muito tranquila em relação a patamares já observados'. 

Chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica, do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Tani Ranieri, diz que a elevação dos diagnósticos para a Covid-19 não refletem no aumento do número de casos de internação ou de óbitos. "Era esperado que essa flexibilização levasse a uma maior contaminação daquelas pessoas que porventura usaram máscaras e agora resolveram não usar mais. Então é certo que essas pessoas vão acabar se contaminando porque o vírus ainda está circulando, isso é inevitável", afirma. Ela explica que o governo do Estado segue monitorando o cenário da pandemia. 


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