Restrição de deslocamento desagrada parte dos idosos em Porto Alegre

Restrição de deslocamento desagrada parte dos idosos em Porto Alegre

População com mais de 60 anos pode ter mais complicações do coronavírus

Felipe Samuel

Prefeitura ampliou a restrição para idosos saírem às ruas

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Em vigor desde domingo, o decreto 20.524, assinado pelo prefeito Nelson Marchezan Júnior, que determina que o deslocamento de pessoas com 60 anos ou mais pelas ruas de Porto Alegre fica permitido somente para realização de atividades "estritamente necessárias", desagradou uma parte da população daquela faixa etária. Embora o número de idosos pelas ruas de Porto Alegre tenha diminuído nos últimos dias, pessoas com idade acima de 60 anos foram flagradas em algumas regiões da cidade. Quem descumprir a medida - que visa evitar contágio de idosos pelo novo coronavírus - ficará sujeito a multa de até R$ 429,20.

O decreto determina que a circulação de idosos fica autorizada em casos de atendimento médico e hospitalar, exames laboratoriais, vacinação e compras de produtos alimentícios e farmácias. Além disso, pessoas dessa faixa etária - consideradas do grupo de risco na contaminação pelo novo coronavírus - ficam obrigadas a portar documento de identificação que comprove idade em caso de abordagem por agentes de fiscalização do município. Quem não apresentar o documento será acompanhado até a residência para identificação.

Sem receio de ser infectado pelo vírus e transmitir a familiares, Bento Barbará de Aguiar, de 83 anos, andava tranquilamente pelas ruas do Centro Histórico. Natural de Uruguaiana, o aposentado garante que goza de boa saúde e rejeita qualquer restrição a seus deslocamentos na cidade. "Eu não concordo (com essa decisão). Moro no centro e seguidamente fico por aqui. Preciso ir ao mercado a pé, vou caminhando pela avenida Borges de Medeiros", afirma. Informado da necessidade de isolamento da população, Aguiar rejeita a ideia. "É uma questão de arriscar, viver é perigoso. Vou continuar a sair, não vou mudar meus hábitos", garante.

Se para alguns sair à rua significa desafiar as orientações das autoridades e as recomendações das secretarias de Saúde, para outros estar na rua não é uma opção: é uma necessidade. Uma senhora de 86 anos, que prefere não se identificar, caminhava em passo acelerado sob o sol escaldante na tarde desta segunda na avenida Cavalhada, na Zona Sul. "Minha filha é deficiente, está na cama, e tenho uma neta que está no mesmo caminho da mãe. Então sou eu para tudo", explica. Prestes a completar 87 anos, ela atende toda a família. "Não tem ninguém para poder colaborar, sou eu mais eu. Não tenho receio de multa. Vou estar sempre na rua em função da família", justifica.


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