“Retomada da cogestão é passo para trás”, afirma infectologista

“Retomada da cogestão é passo para trás”, afirma infectologista

Modelo permite que as prefeituras possam flexibilizar as restrições do governo estadual

Felipe Samuel

Retomada da cogestão pode ser um retrocesso no combate ao coronavírus, avaliou infectologista

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A retomada do modelo de cogestão do Distanciamento Controlado - em que as prefeituras podem flexibilizar as medidas de restrição estaduais - representa um retrocesso no combate à pandemia do novo coronavírus. Na avaliação do chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Eduardo Sprinz, a volta da cogestão vai agravar a situação do sistema de saúde. "Do ponto de vista médico, se ela voltar, é muito ruim. Vai aumentar a mobilidade das pessoas e certamente vai criar novamente um cenário muito ruim", observa.

Para conter o avanço do contágio da doença, o infectologista afirma que o ideal seria adotar o sistema de lockdown implementado por outros países, mas admite que não há condições econômicas para colocar o plano em prática. "Uma coisa que todos os outros países fazem e a gente não tem perna para fazer: é a contrapartida. Se tu vai querer que as pessoas fiquem em casa, tem que pagar para elas. Até sete dias as pessoas aguentam (em casa), mas três ou quatro semanas é mais difícil. Por isso ressalto que medicamente falando isso é um grande passo para trás, mas certamente não temos como oferecer uma contrapartida", avalia.

O especialista reconhece que não tem “como segurar as pessoas (em casa)” com fome e sem dinheiro. "Coreia do Sul, Portugal, Alemanha, Suíça e Israel dão condições, a comida chega na casa das pessoas. Tem alguma coisa que é oferecida em troca, já que as pessoas estão deixando de exercer seu direito", assinala. 

Ao reconhecer que não há como sustentar lockdown no Brasil, ele reforça a importância de iniciativas dos governos na conscientização da população. "Seria muito melhor a gente escutar as pessoas falando, tentando ensinar e mostrar exemplos de como o povo deve se proteger da infecção. Isso seria muito mais inteligente e seguro", observa.

Número de mortes

Na avaliação do infectologista, o retorno da cogestão vai acelerar o número de mortes. "É um descaso com a população. A gente respeita, por isso é preciso dar condições, instruir a população a como se defender de forma adequada e não criar mentiras", alerta. 

Ele ainda critica a declaração do prefeito Sebastião Melo. "De nada adianta prefeito que visita periferia não instruir as pessoas. De nada adianta o prefeito dizer que sempre cabe mais um no hospital. É o contrário, a gente tem sempre que evitar aglomerações. Isso é uma vergonha, um descaso com a população. Tem que se preocupar com a prevenção", afirma.

Vacina não é solução mágica

Mesmo com o início da vacinação, Sprinz ressalta que a vacina não vai ser “a solução mágica”. Por isso, destaca a necessidade de ensinar as pessoas a se proteger. "(Sobre a vacinação) É o mesmo erro do tratamento precoce, a gente sabe que não existe tratamento precoce. Não tem vacina para todo mundo, e a gente não sabe o quanto realmente essa vacina vai proteger com as diversas variantes circulando entre nós. A gente tem que diminuir a circulação do vírus e, com os pés no chão, diminuir a transmissão", completa.


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