Rodoviários reiteram ameaça de “parar a cidade” ao defender cobradores

Rodoviários reiteram ameaça de “parar a cidade” ao defender cobradores

Proposta que revê obrigação da presença dos cobradores nos ônibus tranca a pauta da Câmara a partir de quarta-feira

Eduardo Amaral

Rodoviários se manifestaram a favor dos cobradores nesta segunda-feira

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“Se precisar parar a cidade vamos parar, não vamos deixar ele (Marchezan) fazer o que quiser”, esta foi a afirmação do presidente do Sindicato dos Rodoviários de Porto Alegre, Adair da Silva, que promete novos protestos para evitar que seja aprovado o projeto que prevê a exclusão gradativa dos cobradores. O texto, protocolado pelo prefeito Nelson Marchezan Júnior, tramita em regime de urgência na Câmara Municipal, e a partir de quarta-feira tranca a pauta da Casa.

O projeto prevê a “redução gradativa” da tripulação que atua nas linhas de ônibus, de forma direta. A proposta é a retirada dos cobradores dos ônibus da Capital. No texto estão descritas seis possibilidades para que as empresas de ônibus deixem de contar com os cobradores: rescisão por parte do funcionário, demissão sem justa causa, falecimento, interrupção ou suspensão do contrato de trabalho. Todas essas ocorreriam de forma gradativa, porém a sexta possibilidade já poderia ser implementada tão logo a nova lei seja sancionada, nos ônibus que trafegam entre 22h e 4h. São necessários 19 votos para que a mudança seja aprovada

Na sessão da Câmara desta segunda-feira os rodoviários se fizeram presentes para pressionar os vereadores. Além das ações no parlamento, os rodoviários também prometem novos protestos nas ruas para evitar que o texto seja aprovado. Enquanto isso, oposição e situação articulam para buscar os votos necessários. Liderados pelo PSol, os opositores acreditam que será possível evitar a aprovação e contam com algumas deserções do governo para garantir isso.

O racha entre o PP, partido do vice-prefeito Gustavo Paim, com a gestão Marchezan é uma das apostas. Integrante da bancada Progressista, Cassiá Carpes, diz que a maioria do partido deve votar contra: “Entendemos que tem de ter mais tempo para discussão, se outras cidades fizeram foi porque se prepararam melhor, mas não pode ser um projeto apresentado no fim do ano”, afirma o vereador, que acredita ser 2020 o ano ideal para debater o assunto.

Para Cassiá, é justamente o ano eleitoral a data certa para discutir o fim da profissão de  cobradores. Ele considera “inevitável” que isso aconteça, entretanto quer mais tempo para discutir e preparar uma alternativa aos profissionais que vão perder o emprego.

Enquanto a oposição busca os votos do PP e MDB para barrar o texto, a situação se mostra otimista e diz ter uma margem maior que a necessária para aprovar. Líder do governo na casa, Mauro Pinheiro (Rede), afirmou que terão “21 votos”, dois a mais do que o necessário.

A prefeitura emitiu uma nota reiterando que projeto não prevê a demissão sumária de qualquer cobrador:

“Apesar de gerar queixas da categoria e alegações inverídicas de que a profissão acabará, está bem claro no projeto que nenhum cobrador será demitido! A ideia é que o profissional deixe de ser obrigatório em situações, dias e horários específicos, e em linhas com baixa demanda. A obrigatoriedade será retirada apenas em dias de passe-livre, domingos e feriados, das 22h ‪às 4h‬, nas linhas com poucos passageiros. Ainda haverá qualificação profissional gratuita aos interessados que queiram aprender outras funções, preservando seus empregos.

Caso vire lei, o pagamento da tarifa será modernizado com a implantação do cartão de bilhetagem, com débito, crédito e outras formas eletrônicas. Se nada for feito, a certeza é que teremos um reajuste ainda maior em 2020, o que inviabiliza o sistema cada vez mais. Para nós, cuidar do transporte coletivo é pensar naqueles que mais precisam. Portanto, só se opõe ao projeto quem pensa somente nos interesses individuais, contra a coletividade de uma Porto Alegre mais conectada com o futuro.

Cabe lembrar que o tema não é novidade no país, já que em 28 cidades – como Belo Horizonte, Fortaleza e Aracaju – a presença do cobrador não é exigida. Também é comum no mundo inteiro que a função seja extinta com o tempo por perder a necessidade. Mesmo assim, a lei trata de uma transição gradual. Estamos sendo realistas, nos preparando para o futuro e pensando nos cobradores. Com transparência e diálogo, a Prefeitura está aberta às contribuições para discutir soluções que evitem o colapso do transporte coletivo.”

Sem dinheiro no pagamento

Complemento do trecho que exclui os cobradores das linhas que circulam entre 22h e 4h, o segundo parágrafo do projeto determina que o pagamento nesses horários será feito apenas por vias eletrônicas. Com isso, os usuários não poderão utilizar dinheiro, e o pagamento deverá ser feito apenas com o cartão Tri, ou cartão de débito ou crédito. Caso o seja aprovado, o Executivo terá 60 dias para regulamentar este ponto.


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