Salva de palmas marca despedida de motorista de aplicativo morto em Alvorada

Salva de palmas marca despedida de motorista de aplicativo morto em Alvorada

Luis Fernando Rodrigues Dorneles, 41 anos, que há 26 dias atuava na profissão, foi enterrado no Cemitério São Jerônimo

Franceli Stefani

Delegado Luis Carlos Rollsing acredita em crime de latrocínio, principal linha de investigação

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Foi com uma forte salva de palmas que amigos e familiares se despediram do motorista de aplicativo Luis Fernando Rodrigues Dorneles, 41 anos, na tarde desta terça-feira, no Cemitério São Jerônimo, em Alvorada, na Região Metropolitana, onde ele foi velado e sepultado. O homem, que há 26 dias atuava na profissão, foi morto a tiros durante uma possível tentativa de assalto na noite de segunda-feira, no bairro Formoza, logo após largar uma passageira na rua Fernão Dias. Esse é o oitavo profissional morto neste ano no Estado.

Responsável por conduzir as investigações, o titular da 2ª Delegacia de Polícia da cidade, Luis Carlos Rollsing, acredita estar frente a um crime de latrocínio, principal linha de investigação. “Não vejo outra possibilidade, mas estamos em fase de levantamento e oitivas de testemunhas. Já temos as características dos envolvidos”, frisa. Durante a terça-feira os policiais passaram o dia em diligências, em busca de provas e informações sobre os envolvidos no crime. Conforme Rollsing, a dupla que cometeu o crime é jovem. “São dois indivíduos magros e negros. É o que conseguimos apurar durante as investigações”, diz. Sem câmeras de monitoramento no entorno da rua, o trabalho da polícia fica prejudicado.

Enquanto a polícia buscava os criminosos, motoristas de aplicativo de toda Porto Alegre e região se uniram. Como forma de protesto organizaram uma carreata até Alvorada. Todos com a palavra "luto" estampada nos automóveis. A saída foi do Porto Seco, na zona Norte da cidade, com apoio da Brigada Militar (BM) e da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), mais de 300 condutores se engajaram na ação. De acordo com o motorista Paulo Bitencourt, 56 anos, os colegas se mobilizaram rapidamente. “Todo mundo sofre diariamente com o assédio da criminalidade, seja no patamar leve ou intenso, levando a morte.”

Ele, que conduziu o primeiro carro da fila, conta que Dorneles ainda não estava nos grupos de troca de mensagens que os condutores mantêm. “Infelizmente, não deu tempo dele estar conosco. O sentimento é de total impotência e resignação. Só queremos trabalhar e não está sendo possível. É pânico, medo, mas não temos muita alternativa”, enfatiza. A motorista Carina Trindade, 40 anos, lamenta o crime. “É mais um motorista morto pela falta de segurança dentro de Alvorada, os últimos casos foram lá também. É uma região é de risco”, fala. Mãe de uma menina de 11 anos, conta que toda vez que sai para trabalhar recebe uma recomendação: “Mãe, te cuida e volta bem para casa.”

Na chegada ao Cemitério São Jerônimo houve buzinaço, aplausos para a Brigada Militar - que acompanhou o grupo durante todo o trajeto -, e também uma vaquinha, para auxiliar a família de Dorneles. Morador do bairro Mario Quintana, na zona Norte da Capital, deixa a esposa e três filhos.

A despedida

O velório do motorista estava lotado. Família e amigos próximos consternados com a violência que tirou a vida do pai de família foram somados aos colegas de profissão, que clamam por mais segurança e punição aos autores do crime. A tarefa mais difícil, de comunicar a esposa de Dorneles o fato, coube a vizinha e amiga da família, Maria de Lourdes, 38 anos. Moradora do mesmo condomínio, conta que ele era uma pessoa sempre disposta e de bem com a vida.

"Não tem palavra para explicar o sentimento. Foi através de uma rede social que soubemos do ocorrido", conta. Após ter certeza do que viu, foi até o apartamento da família e tocou a campainha. "Assim que ela abriu a porta falei que não tinha uma notícia muito boa para falar. Ela entrou em desespero", revela.

O tio da esposa da vítima, Claudiomiro Rodrigues, 46, lembra da pessoa batalhadora e preocupada com a família que ele era. "Sempre trabalhou na construção civil, quando percebeu que a renda baixou, resolveu atuar como motorista de aplicativo. É muito triste. Ele estava só trabalhando, nos preocupamos como vai ser daqui para frente", expressa.


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