Santa Casa comemora 20 anos do primeiro transplante de pulmão entre pessoas vivas

Santa Casa comemora 20 anos do primeiro transplante de pulmão entre pessoas vivas

Hospital de Porto Alegre estreou procedimento no Brasil em 1999

Eduardo Amaral

Henrique Santos Busnardo tinha 12 anos quando realizou transplante de pulmão

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Em 1999 Henrique Santos Busnardo tinha 12 anos e pouca expectativa de vida — com apenas 12% da capacidade pulmonar — consequência de uma bronquiolite, a previsão dos médicos era de poucas semanas de vida pela frente. Foi então que a equipe médica da Santa Casa de Porto Alegre decidiu tentar um procedimento inédito no Brasil: um transplante entre pessoas vivas, no qual partes dos pulmões dos pais do menino foi transplantado para ele.

Até o dia 17 de setembro daquele ano o procedimento tinha sido realizado apenas no estado norte americano da Califórnia. Com ampla experiência em transplantes, a equipe médica comandada por José Camargo decidiu trazer para o Brasil, e o resultado foi o melhor possível, garantindo a saúde do paciente. O feito foi comemorado em um evento realizado no Centro Histórico Cultural da Santa Casa nesta segunda-feira, que contou com a presença dos médicos e do paciente transplantado, que hoje aos 32 anos não esquece o acolhimento que recebeu naquele momento tão difícil. “Antes do transplante eles me deram muita coragem tanto no acolhimento emocional quanto físico”, lembra Busnardo. 

O transplantado lembra o nome de todos os médicos envolvidos na cirurgia, e não deixa de agradecer a cada um deles pela ousadia que salvou sua vida. “É um sentimento eterno de gratidão à equipe cirúrgica e clínica, me sinto muito feliz que tive um renascimento, serei eternamente grato. Estou maravilhado com o feito do doutor Camargo, fico muito contente de poder compartilhar essa história com as pessoas que mais precisam de de doações.” Busnardo diz gostar de contar sua história como uma forma de incentivar a doação de órgãos.

Camargo lembra do impacto emocional que a cirurgia causou na equipe e na sociedade. “Era uma situação muito mais diferenciada do ponto de vista emocional do que técnico, porque é muito diferente você retirar um pedaço da mãe para colocar em uma criança. Sem contar o compromisso de operar duas pessoas normais para serem doadoras. Esse transplante aconteceu no momento que estávamos empenhados em conseguir verbas para o Centro de Transplantes, foi uma coisa comovente, pedíamos doações e encontrávamos pessoas comovidas”, relembra o médico. Nestes 20 anos foram feitos um total de 40 transplantes do tipo, incluindo em três pessoas adultas. Ele ressalta que o procedimento é fundamental pois “supre uma dificuldade muito importante que é transplantar pulmões em crianças ou adolescentes que não conseguem receber órgãos porque a morte encefálica é muito incomum na infância.”

Apesar da data comemorativa, Camargo se mostra frustrado com o caminho que a doação de órgãos tomou no Brasil e especialmente no estado. “A doação de órgãos no Brasil tem oscilado muito, e só funciona bem em meia dúzia de lugares, dos quais Santa Catarina é o melhor de todos. O nosso Rio Grande, que durante 20 anos foi líder nacional na relação número de doadores por milhão de habitantes caiu muito depois de duas gestões consecutivas de relativo desinteresse do governo.” O médico defende que o tema seja abordado com mais frequência para que os doadores contem seu desejo aos familiares. “Se a família nunca ouviu falar em doação não será no momento de perda que terá cabeça para tomar essa decisão.”


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