Secretária Nádia reitera críticas à abordagem a moradores de rua e promete reunião com servidores

Secretária Nádia reitera críticas à abordagem a moradores de rua e promete reunião com servidores

Titular da pasta de Desenvolvimento Social e Esporte rebateu críticas sobre a não existência de políticas públicas

Correio do Povo

Nádia afirmou que considera ruim a atuação das equipes de abordagem da prefeitura a moradores de rua

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A secretária municipal de Desenvolvimento Social e Esporte, Comandante Nádia Gerhard, reiterou nesta sexta-feira que considera ruim a atuação das equipes de abordagem da prefeitura a moradores de rua. Ela salientou, porém, que se refere ao contato com o público que frequenta o Restaurante Popular. Nádia ainda prometeu nesta sexta-feira uma reunião com servidores para definir as prerrogativas do órgão. A titular da pasta havia causado revolta de servidores públicos após dizer, em palestra a empresários da zona Norte de Porto Alegre na quarta-feira passada, que, por questões ideológicas, os trabalhadores estimulavam as pessoas a permanecerem na rua.

As declarações de Nádia foram publicadas em matéria do Correio do Povo, que acompanhou a palestra concedida por ela a membros da Associação das Empresas dos Bairros Humaitá-Navegantes (AEHN). No dia seguinte, em entrevista à Rádio Guaíba, a assistente social Marta Borba classificou como absurdo e desrespeitoso o discurso da secretária, que, mais tarde, divulgou uma nota à imprensa afirmando que "em nenhum momento desqualificou o trabalho prestado pelos servidores".

Na nota, a titular do Desenvolvimento Social ainda sugere que a reportagem do Correio do Povo não acompanhou toda a palestra e que tirou suas falas de contexto. O CP, no entanto, assistiu ao discurso da secretária e registrou suas falas (ouça abaixo a fala a respeito dos servidores públicos na íntegra). Em seguida, por telefone, procurou a secretária para aprofundar os assuntos, mas não teve retorno. “A maioria das minhas equipes de rua não convence eles (moradores de rua) a sair, estimulam a ficar, porque são pessoas que tem uma ideologia de que tem o direito a ficar na rua. São concursados, que não tenho como dizer que não é para fazer”, disse a secretária diante do grupo de empresários. Ainda declarou: “Minha secretaria tem muito dinheiro, só que a execução é péssima. É lenta, demorada, a burocracia administrativa do município, do Estado e da nação é um paquiderme andando em uma cristaleira. Além de demorada destrói com as coisas boas”.

Confira a fala da secretária acerca do tema:

 

O áudio de três minutos foi reproduzido por duas vezes durante o programa Direto ao Ponto da Rádio Guaíba desta sexta-feira. Em seguida, a secretária concedeu entrevista para esclarecer as declarações. “Primeiramente, é importante dizer que a secretária Comandante Nádia não tem nada contra os servidores públicos municipais. São eles que levam a Secretaria em frente e que realizam muitos serviços de políticas públicas”, começou ponderando a titular da pasta.

Em seguida, no entanto, reforçou as declarações dadas na quarta-feira. “Eu continuo dizendo que a abordagem aos moradores, do Restaurante Popular, está em déficit, muito ruim. Digo isso porque eu conversei com os moradores de rua perguntando: '‘você já foi abordado? Já te ofereceram o Mais Dignidade?'. Nenhum deles disse que conhecia o programa da prefeitura municipal que retira e dá oportunidade para o morador de sair da rua e ter mais dignidade”, disse, ao se referir à iniciativa que oferece opções de aluguel.

Críticas rebatidas 

A secretária ainda rebateu as falas de uma servidora da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) que criticou as políticas públicas voltadas para a população de rua. “Muito preocupada eu fico quando uma assistente social nossa diz que não tem políticas públicas voltadas para esse tipo de atendimento, que elas são falhas. Se tem falhas, está na ponta, porque a política pública está posta. Nunca antes teve, que eu me lembre, uma oportunidade tão diferenciada para o morador de rua”, disse. Segundo ela, a proposta da prefeitura é proativa, mas novamente falou que o trabalho no Restaurante Popular não é bom.

Nádia também reforçou declarações dadas anteriormente sobre sua visão a respeito de como lidar com a população de rua e negou que tenha uma visão higienista. “Repito o que eu falei, não podem os moradores de rua estarem atrapalhando o coletivo de todos. O individual não pode estar acima do coletivo. Hoje uma mãe, um pai que quer ir com seus filhos em uma praça não está conseguindo porque tem moradores de rua que estão ali com barraca, lona, sofá e cadeira atrapalhando o coletivo. Assim como não tem como uma pessoa passear com seu pet em uma calçada sendo interrompida por conta de lona, barraca, sofá e cadeira que está na rua. O morador de rua, que quer morar na rua, continuo dizendo, tem o direito de ficar com a sua roupa e a sua mochila.”

Alinhamento 

A secretária também afirmou que a pasta trabalhará internamente com as equipes. “Nós vamos fazer um convencimento nos nossos assistentes. Acho que está faltando uma grande reunião. Tudo pode melhorar, inclusive, a secretária. Nós vamos fazer uma grande reunião com nossos assistentes que fazem o trabalho na rua, não só os da Fasc como os parcerizados, para dizer qual a linha que nós trabalhamos. Essa linha que nós queremos que todos estejam acompanhando.”

As declarações dadas por Nádia no evento de quarta-feira revoltaram não só servidores. Na quinta-feira, o Conselho Estadual de Direitos Humanos do Estado do Rio Grande do Sul (CEDH-RS) emitiu nota de repúdio à fala da secretária, que também tinha afirmado “não ser digno” a doação de comida, esmola e banho a moradores de rua e que “aquele que eu ofereço um prato de comida, tem que me dar uma contrapartida”. “Subordinar o dever de assistência social a qualquer tipo de contraprestação retoma a ética utilitária mais perversa, incentivando-se, inclusive, a violação de direitos trabalhistas, ao tratar como normal que pessoas trabalhem por um prato de comida, por uma cama para dormir. Estas “necessidades” humanas são as que deveriam justamente ser garantidas pela pasta da secretária, que parece desconhecer a própria legislação que a subordina na atuação da pasta”, diz a nota da entidade. 


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