Servidores reclamam da qualidade dos alimentos e da falta de EPIs

Servidores reclamam da qualidade dos alimentos e da falta de EPIs

Profissionais da linha de frente da Saúde apontam problemas no Pronto-Atendimento Cruzeiro do Sul

Jessica Hübler

Servidores reclamam da qualidade dos alimentos e da falta de EPIs em postão da Cruzeiro

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Uma situação tem preocupado os profissionais da saúde que trabalham no Pronto-Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS) na zona Sul de Porto Alegre. Na última semana, os funcionários do PACS foram surpreendidos com uma interdição da cozinha e do refeitório da unidade, bem como com a dispensa da equipe responsável pelas refeições no local, que incluía nutricionista, técnica de nutrição, cozinheira e auxiliares de cozinha. “Primeira vez que vi isso acontecer, sem nenhum diálogo, nunca vi nada parecido. É inacreditável, nós servimos quase 350 refeições por dia, sem nenhum controle nutricional, de higiene, nada, é contraproducente isso”, lamentou a enfermeira Rosana Metrangolo, que trabalha no PACS há mais de 20 anos.

Quando Rosana ingressou no PACS, no final da década de 1990, o refeitório e a cozinha funcionavam normalmente e foi o que aconteceu até a última semana. “Sempre prestamos um trabalho de qualidade na questão nutricional dos pacientes, é muito estranho tudo isso que tá acontecendo, não é o momento de fazer isso porque nem os pacientes têm condições de esperar por comida e nem os servidores têm condições de comprar essa alimentação, isso é muito cruel”, reiterou. Rosana reforçou que os pacientes atendidos no PACS vivem em situação de vulnerabilidade social. “É um posto no meio da Vila Cruzeiro, imagina que quem chega ali são pessoas muito pobres, que precisam muito daquele auxílio, não é um restaurante, nem um hospital, mas às vezes uma criança chega para receber atendimento e, além da doença, também está desnutrida e não tem nem o que  comer, é um conjunto de coisas”, afirmou.

As refeições ofertadas no PACS, atualmente, estão sendo encaminhadas do Hospital de Pronto Socorro (HPS). De acordo com Rosana, quando os alimentos chegam no PACS, não podem ser armazenados em local adequado, pois não há opção de refrigeração. “Ficam nas bancadas, os pacientes que podem comer dieta normal, comem aquilo, se tiver alguma restrição, come sopa, não tem opção. Imagina um local com salas de observação adulto, pediátrica, isolamento de tuberculose, internação de psiquiatria, são muitas equipes trabalhando, para você servir dessa forma, não sabemos quando as refeições foram preparadas, é como se fosse comida pra porco, é uma coisa que não tem explicação”.

Coordenação de Pronto-Atendimentos diz que medida "não impactou de nenhuma forma"

O coordenador de Pronto-Atendimentos da Secretaria Municipal da Saúde, Roibison Portela, disse que o refeitório continua aberto, o que foi fechada foi a produção de alimentos na cozinha. “Temos alguns apontamentos de irregularidades estruturais, questões de vigilância sanitária, dentre outros já há algum tempo, que essa cozinha precisa passar por uma reforma. Vínhamos protelando isso e agora chegamos num ponto de tomar essa decisão nesse momento, até que se faça essa reforma e se avalie essa questão um pouco melhor, para que a gente possa abrir com uma condição mais adequada”, afirmou.

Conforme Portela, a alimentação do PACS está sendo feita no HPS. “Já é um modelo usado nos outros pronto-atendimentos que temos no município e também na UPA da zona Norte, o PACS era o único que ainda tinha produção de alimentos. Diante dos apontamentos que tivemos, de necessidade de adequação e outras dificuldades que estávamos tendo de manter essa cozinha aberta, optou-se por esse modelo de produção no HPS e a comida é transportada para o PACS”, reiterou.

Sobre os apontamentos dos funcionários do PACS sobre a falta de diálogo antes da interdição da cozinha, Portela ressaltou que não havia motivo para comunicar a equipe antes. “Porque na verdade não mudou nada, a quantidade de refeições é a mesma, não se teve nenhum tipo de prejuízos para os funcionários, a opinião deles infelizmente neste momento não ia impactar de nenhuma forma. Se eu deixasse de produzir a comida e deixasse de entregar, isso seria um problema mesmo, porque aí teríamos uma certa desassistência, mas como não houve nenhum impacto, esse aviso prévio só poderia causar um estresse maior, uma ansiedade, alguma coisa assim que talvez pudesse não trazer nenhum efeito benéfico. Nesse ponto realmente eles não foram consultados porque não impactou de nenhuma forma”.

Com relação às dietas específicas dos pacientes, Portela explicou que o fluxo ficará aos cuidados dos médicos e da equipe de enfermagem. “Estabelecemos que o médico já faz essa prescrição de dieta, ele define o que o paciente pode receber de alimentação ou não, antes disso tínhamos uma nutricionista que fazia isso, mas com essa mudança isso passa a ser responsabilidade também da enfermeira do plantão, eles vão solicitar essa alimentação específica, e será enviada de acordo com as necessidades de cada paciente. Pela legislação que rege as unidades de pronto-atendimento, não temos obrigação de manter uma nutricionista, não estamos cometendo nenhuma ilegalidade. Aliás, precisamos lembrar que pronto-atendimento é um local de passagem, não são locais de internação, trabalhamos com o fluxo de o paciente chegar, receber o primeiro atendimento e se precisa de cuidados maiores, tem que ir para um hospital”.

Funcionárias dizem que faltam EPIs no PACS e no HMIPV

A enfermeira Rosana Metrangolo, que trabalha no Pronto-Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS), também informou que os profissionais da saúde também estão preocupados com o fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Rosana enfatizou que  os EPIs fornecidos para as equipes são insuficientes ou inadequados. “Não é suficiente, muitos funcionários estão comprando, isso potencializa os riscos”, comentou, afirmando que a máscara N95 é fornecida, “mas é de sete em sete dias para conseguir uma máscara nova”. “Não temos como usar, ficamos trabalhando por 12h, depois desse tempo a máscara está suja e contaminada, usamos máscara cirúrgica mesmo. Não estamos pedindo para todo o posto, se está pedindo para os trabalhadores que estão nas salas de isolamento respiratório, ou sala vermelha com paciente que está entubado”, assinalou.

A dificuldade de acesso aos EPIs se repete também no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV), uma enfermeira da unidade, Malu Pena, publicou em uma rede social que, na semana em que deveria agradecer pela profissão que escolheu, está apavorada. “Muitos de nossos colegas choram durante o plantão. Somos humanos temos medo sim, mas estamos aqui e precisamos ter a mínima condição de trabalhar e cuidar de nossos pequenos”, afirmou.

Malu comentou, na publicação, que usa máscara de tecido fruto de doações para se locomover até o hospital. “Mas durante o plantão de 12 horas, preciso de pelo menos quatro máscaras cirúrgicas para fazer o correto”, destacou, questionando se será necessário perder a vida por ser servidora pública. “Somos humanos, temos família, tenho mãe e irmãos do grupo de risco, tenho medo de ir para casa e levar o vírus. Já não abraço minha família há meses”, desabafou, segundo ela, enquanto estava deitada e não conseguia dormir por conta da preocupação. “Vamos ter cada vez mais afastamentos seja por contaminação ou por falta de suporte emocional”, destacou.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que não existe falta de EPIs para os profissionais. “Apesar da escassez no mercado, devido a pandemia, foram adquiridas mais de 300 mil máscaras cirúrgicas e 100 mil do tipo N95. Como sempre, o órgão municipal age tecnicamente na sua atuação. No entanto, os sindicalistas seguem agindo de forma política e sem compromisso com a verdade ou o bem estar da população. Por este motivo a Secretaria de Saúde vem a público ressalvar a verdade e a segurança para que pacientes, principalmente nesse período de pandemia, possam buscar os serviços de saúde com segurança e de forma adequada sem risco”.


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