Simers denuncia sucateamento da estrutura do Hospital São Pedro, em Porto Alegre

Simers denuncia sucateamento da estrutura do Hospital São Pedro, em Porto Alegre

Diretor do sindicato define a situação como “um absurdo completo do ponto de vista da saúde mental pública”


Jessica Hübler

Atualmente, o Hospital São Pedro tem 56 moradores

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O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) está denunciando um sucateamento da estrutura do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP), unidade que está em funcionamento há 136 anos e é referência em saúde mental para 88 municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, o que corresponde a aproximadamente cinco milhões de pessoas. Conforme o diretor do Simers, médico psiquiatra e integrante do núcleo de psiquiatria da entidade, Rogério Cardoso, o HPSP é um alicerce para a saúde mental de todo o Estado.

“Nos últimos 10 anos dizem que houve redução de mais de 50% dos médicos psiquiatras no HPSP e evidentemente a população não diminuiu, portanto, há uma desassistência. Além disso, o hospital não vive somente da assistência psiquiátrica, pois as pessoas com deficiência mental também adoecem clinicamente”, explica. Segundo Cardoso, também há falta de clínicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem para completar as escalas e prestar um atendimento adequado. Além disso, há falhas também nos plantões.

“Ficamos sabendo que em alguns horários não há nenhum plantonista. Consegue imaginar um hospital sem plantão? E normalmente ficavam pelo menos dois médicos, um psiquiatra e um clínico para que o atendimento de emergência pudesse ser completo, mas agora também há momentos em que o plantão conta apenas com o psiquiatra ou com o clínico e não com profissionais das duas áreas”, detalha. A falta de pessoal vem sendo observada nos últimos anos, assim como a redução na oferta de exames e possíveis diagnósticos.

De acordo com Cardoso, já foi possível realizar exames como eletrocardiograma, eletroencefalograma e até raio-X nas dependências do HPSP, o que hoje não acontece mais. “Não estão disponíveis os equipamentos necessários e também não há, por exemplo, um radiologista que possa interpretar um exame de raio-X, sendo que tudo isso era feito lá dentro”, destaca. Cardoso define a situação do HPSP como “um absurdo completo do ponto de vista da saúde mental pública”.

Foto: Ricardo Giusti

Ainda segundo ele, a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, participou de uma audiência pública virtual  realizada pelo Simers em agosto, quando a entidade lançou uma campanha em defesa ao HPSP e declarou oficialmente que a estrutura não seria fechada. “Não fecharam ainda, mas já restringiram leitos, sabemos que há uma fila enorme de espera para hospitalização psiquiátrica e em dois anos de governo nada foi feito. Tudo isso vem acontecendo e o governo está absolutamente omisso, portanto é uma situação muito grave”, pontua.

A secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, afirma que "respeita a história do HPSP". "Temos uma legislação, da reforma psiquiátrica, que é muito clara também: se tem uma nova configuração de atendimento de rede, então o hospital é um elo de uma rede de atenção em saúde mental onde as pessoas com sofrimento psíquico, dependendo da situação precisam ou não internar, porque deve haver atendimento na atenção básica na área dos municípios, em ambulatórios especializados na área de saúde mental, em unidades de acolhimento adulto e infantil, em comunidades terapêuticas e em residenciais terapêuticos", diz.

Conforme a secretária, o projeto para o HPSP é fortalecer e ampliar as internações para crianças e adolescentes. "Essa é uma expertise do São Pedro, então temos que valorizar isso. Também a questão da residência que é muito importante no nosso HPSP, são 25 residentes fazendo a sua formação no São Pedro com a ênfase de poder abrir para a rede", destaca, reforçando que há "uma missão importantíssima entre as prioridades, que é o projeto da desinstitucionalização do HPSP".

São 56 moradores atualmente no HPSP, segundo a secretária. Conforme ela, alguns deles têm condições de serem transferidos para residenciais terapêuticos. "A nova política da reforma psiquiátrica deu essa configuração dos hospitais gerais poderem abrir também leitos de saúde mental, então não tem fila de espera para o São Pedro. Temos pacientes aguardando e a maioria são dos 17 pacientes cadastrados na regulação, 11 são adolescentes. Então estamos dando prioridade justamente para a maior demanda que o São Pedro tem expertise", detalha.

Afastamento de profissionais 

Sobre o afastamento de profissionais, a secretária informou que são 512 funcionários no São Pedro e boa parte acabou se afastando por conta da pandemia. "Diminuição de psiquiatras eu não tenho essa informação aqui, a não ser que algum psiquiatra tenha pedido exoneração", diz. A respeito dos exames clínicos que já foram realizados no São Pedro, a secretária informa que a referência para realização e interpretação dos exames está no planejamento da nova direção da unidade. 

"Já temos um diagnóstico que a consultoria do Sírio Libanês fez no São Pedro e tem vários grupos trabalhando nessa remodelagem, principalmente considerando os tempos atuais, tentando trabalhar fluxos, processos de trabalho, sempre com vistas a qualificação da atenção ao usuário", reitera, indicando que não há riscos de fechamento do São Pedro.


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