Tempo é o principal desafio do transplante de órgãos

Tempo é o principal desafio do transplante de órgãos

Quinze minutos foi período necessário para levar um pulmão até a Santa Casa, de Porto Alegre

Mauren Xavier

No mesmo dia, duas operações de transplante de órgãos foram realizadas na Capital

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Quinze minutos. Olhe o relógio e marque 15 minutos. Esse é o tempo que pode salvar uma vida quando se trata de transplante de órgãos. Foi exatamente esse período que uma equipe médica levou para descer da aeronave, no Aeroporto Salgado Filho, na zona Norte de Porto Alegre, com um pulmão, até a entrada do bloco cirúrgico da Santa Casa, no Centro. O trajeto, realizado no início da tarde da terça-feira passada, foi feito percorrendo ruas movimentadas e com trânsito intenso. No hospital, um jovem aguardava o órgão, que reverteu o seu quadro crítico.

“Ele tinha poucos dias. Já estava na emergência. Agora está em recuperação”, diz o médico clínico da equipe de transplante de pulmão, Sadi Schio.“Um dos desafios para concretizar um transplante é o tempo”, diz Schio. São minutos que podem salvar uma vida. Na luta contra o cronômetro, todos os esforços são importantes, como o complexo trânsito.

Num mesmo dia, duas operações de translado de órgãos foram realizadas na Capital. Um pulmão em cada.
O primeiro órgão veio de Santa Catarina. O pouso ocorreu às 13h29min. Um minuto depois, a equipe médica desembarcava, já com o táxi estacionado ao lado.

A caixa para o transporte do órgão ficou no porta-malas. O veículo seguiu escoltado por batedores motociclistas da EPTC, que são formados pelo 3° Batalhão de Polícia do Exército. O trajeto inteiro, passando por vias como Sertório e Castello Branco, durou poucos minutos, o que seria impensável, sem a escolta. O tempo normal é mais de meia hora.

Em sincronia única, os batedores iam se intercalando no trajeto, fazendo bloqueios momentâneos nas ruas. Para a escolta especial, eles têm livre circulação e parada, respeitando a orientação ao trânsito, identificação e alarme sonoro. A velocidade contínua, associada ao barulho da sirene, eleva a adrenalina de quem acompanha o trajeto pela primeira vez, como o caso da equipe do Correio do Povo.

50 transplantes de pulmão no ano

“Garantir o deslocamento é um desafio”, explica o coordenador de Operações Especiais (COE) da EPTC, Leandro Barbosa de Azevedo, especialmente em horários críticos, como no final da tarde. E foi exatamente esse o desafio da segunda escolta do dia. A aeronave, vinda do Paraná, pousou na Base Aérea de Canoas, na Região Metropolitana. O trajeto mais longo também tinha como destino a Santa Casa. Pelo horário, o trânsito estava sobrecarregado.

Além da distância, há outro elemento preocupante: o tempo de vida do órgão. No caso do pulmão, explica o médico clínico, o ideal é que o transplante seja efetivado em até seis horas após a retirada do doador. “Nesse caso específicos fizemos com sete horas. E só foi possível pelo deslocamento rápido. Quem não entende, até pode achar frescura. Mas não é. A agilidade fez alguém conseguir o transplante”, diz. O receptor era um adulto e que recebeu o pulmão inteiro (direito e esquerdo).

O segundo procedimento do dia teve um valor simbólico maior para a equipe da Santa Casa. Ele foi o 50° transplante de pulmão de 2018. Um recorde. “Até agora a marca histórica era de 40 transplantes de pulmão num ano. E, desta vez, no mesmo dia, de maneira muito gratificante, fizemos dois transplantes e atingimos os 50 procedimentos”, celebra.

Apesar do recorde, Schio diz que a fila é longa. Em média, por ano, ele insere 65 a 70 pacientes na lista de transplante de pulmão. “É um órgão vital. Não é como um rim, que se faz diálise. Nesse caso, a falência do pulmão representa a morte”, salienta.


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