Testemunha de defesa no julgamento da Kiss, Alexandre Marques explica testes para uso de pirotecnia

Testemunha de defesa no julgamento da Kiss, Alexandre Marques explica testes para uso de pirotecnia

Pergunta sobre lotação da boate gerou um atrito entre defesa e Ministério Público

Paulo Tavares

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O quarto dia de julgamento do incêndio na boate Kiss começou às 9h de sábado, com o depoimento de Alexandre Marques, testemunha arrolada pela defesa de Elissandro Spohr. Marques atualmente trabalha com marketing e publicidade, mas, segundo contou, chegou a produzir uma banda chamada Multiplay. A testemunha não estava na boate no dia do incêndio, ficou, segundo afirmou, sabendo por sua mãe, já falecida. Nos shows do grupo, segundo informou, eram usados artefatos, como sputnik e chuva de prata. Ele foi arrolado pelo advogado Jader Marques, defensor de Elissandro Spohr. O depoimento levou cerca de 5 horas.

Alexandre explicou como eram feitos  testes para o uso de pirotecnia, o que era levado em conta. "O teste era feito durante a passagem de som, levando em conta o pé direito do imóvel", disse a testemunha. Ele também informou onde comprava o produto de pirotecnia."Como sei o que preciso, chego no local e peço o determinado produto. No caso de show externo é um tipo de artefato, interno é outro", afirmou, ressaltando que na banda que ele produzia era ele quem mexia com os artefatos, os músicos nunca se envolveram com os elementos pirotécnicos. Os artefatos eram usados, segundo a testemunha, para dar "mais glamour aos shows".

Alexandre disse que, na época (antes de 2013), não era costume informar ao estabelecimento em que alguma banda faria show se usaria artefatos. "Quando eu chegava em um lugar onde a banda faria show, eu inspecionava o local e, se não fosse seguro, eu não colocava o artefato. Tinha que pensar na segurança dos músicos e do público". Alexandre recordou que um vez, antes da reforma da boate Kiss, em um show que a banda Multiplay foi fazer um show na casa, ele pediu para colocar um banner no palco e tinha começado a instalar o artefato sputnik quando um funcionário da Kiss disse que ele teria que pedir a Elissandro. "Pedi ao Kiko (Elissandro) e ele me respondeu que era melhor não usar o banner nem o sputnik. Ele me falou 'bah, velho, não. Já coloquei uma cortina no palco, deixei bonitinho para vocês'". Alexandre recordou que a banda Multiplay fez mais uma show, desta vez após a reforma na boate, mas não cogitou usar elementos pirotécnicos.

A pergunta sobre lotação na boate, feita pelo advogado Jader Marques, gerou um atrito entre defesa e Ministério Público. A promotora de Justiça Lúcia Helena Callegari considerou que a defesa estava repetindo a mesma pergunta várias vezes. Marques retrucou. O juiz Orlando Faccini Neto interveio e Marques continuou com o questionamento. Após a advogada do integrante da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus, Tatiana Borsa, faz perguntas sobre o uso de artefatos dentro de casas noturnas.

A bancada do advogado Jean Severo, defesa de Luciano Bonilha Leão, também fez perguntas sobre a dinâmica da compra de material pirotécnico e sobre os integrantes da banda. Testemunha também mostrou os artefatos usados em espumantes e outros elementos pirotécnicos e como devem ser usados. Analisou como deve ser usado o artefato usado em espumantes para evitar riscos.

A Promotora Lúcia Helena Callegari mostrou uma foto e perguntou a Alexandre Marques se ele reconhecia o ambiente, testemunha disse que sim, que era a Kiss. A promotora quis saber sobre a queima de artefatos que foi explicada pela testemunha. Jader Marques pediu a palavra e criticou o uso de um vídeo mostrando baldes com espumantes com velas acesas. Neste momento, a testemunha pede para falar, mas o juiz Orlando Faccini Neto, diz para a testemunha responder a pergunta da promotora, que queria saber se era na boate Kiss. O defensor de Elissandro Spohr, advogado Jader Marques, criticou a atitude da promotora de Justiça.

Após responder que era a boate Kiss, a testemunha criticou o vídeo. A promotora de Justiça questiona Alexandre se ele usaria este tipo de artefato, ele respondeu que sim. A defensora de Marcelo de Jesus, Tatiana Borsa, questiona o cartaz mostrado pela promotoria e critica que o cartaz é do ano 2000. Juiz diz que o cartaz pode ser usado, eventualmente, se a banda usou o cartaz. Tatiana afirma que demonstra "desconhecimento" do caso. Tatiana desafia a promotora de Justiça a identificar os componentes da banda. Ocorreu uma discussão entre promotora e advogada.

Após um recesso de cerca de duas horas, o retorno da sessão começou com mais uma discussão entre a promotora de Justiça Lúcia Helena Callegari e a advogada Tatiana Borsa, defensora de Marcelo de Jesus. O desentendimento ocorreu devido ao uso de um cartaz por parte da promotora de Justiça e que Tatiana afirmou ser muito antigo. Após a discussão, Alexandre Marques começou a responder aos questionamentos da promotora de Justiça sobre como é feita a passagem de som e outros preparativos para o show.

Respondendo ao promotor de Justiça Davi Medina, que atua junto com a promotora Lúcia Helena Callegari, sobre o uso de artefatos, Alexandre Marques fez uma comparação com uma festa. "Se vocês me convidarem para uma festa na casa de vocês, eu levo um artefato explosivo", falou. "Por algum motivo, eu estouro este artefato dentro de casa e o fogo pega em cortinas e na casa, matando um monte de gente. Vocês são os culpados?", perguntou a testemunha. Ele foi questionado por Medina se Elissandro Spohr não sabia do uso do artefato. "Não posso dizer, pois não estava lá", afirmou a testemunha. Durante uma outra resposta ao promotor Davi Medina, Alexandre Marques chamou o representante da promotoria de "meu querido". Foi advertido pelo juiz Orlando Faccini Neto para não tornar a usar a expressão.


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