Transporte público é o local de maior transmissão de coronavírus, diz Fiocruz

Transporte público é o local de maior transmissão de coronavírus, diz Fiocruz

Estudo realizado em Pernambuco coletou 400 amostras em locais considerados de maior contaminação

Eduardo Andrejew

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Um estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mapeou os locais onde há maior risco de contaminação pelo coronavírus (SARS-CoV-2). O levantamento foi realizado em Recife, capital pernambucana, por meio de recolhimento de amostras de superfícies em diferentes pontos. O resultado final da coleta de 400 amostras acabou apontando três locais onde o risco de contaminação é maior. Em primeiro lugar estão justamente os terminais de ônibus e transportes públicos, com 48,7% das amostras positivas para a presença do vírus. Em segundo lugar, estão os arredores do hospitais, com 26,8%. Em terceiro, para a surpresa de muitos, estão os parques públicos, com 14,4%.

Vale observar que o coordenador do estudo, Lindomar Pena, explicou que não foi detectado vírus ativo nos exames. “Porém em algum momento ele esteve ativo naquele local, o que demonstra serem ambientes onde há mais gente infectada circulando”, disse.

Segundo os dados, a coleta das 400 amostras investigou diferentes superfícies em diversos pontos de Recife muito tocadas por usuários: maçanetas, torneiras, vasos sanitários, interruptores de luz, leitores de biometria, catracas, corrimão de escadas, entre outros. Os lugares selecionados para a pesquisa atendiam a duas condições básicas: grande fluxo e alta concentração de pessoas. Foi feita, a partir daí, uma separação de seis grupos: terminais de passageiros, unidades de saúde, parques públicos, mercados públicos, áreas de praia e centro de distribuição de alimentos.

As amostras foram submetidas ao exame padrão ouro para detecção do coronavírus, o RT-PCR. Do total de amostras obtidas, foi confirmada a presença do SARS-CoV-2 em 97 superfícies, o que corresponde a 24% do total das 400 amostras. Para obter maior exatidão, as coletas utilizaram ferramentas de georreferenciamento para situar os locais.

Das 97 amostras positivas, quase metade delas, ou seja 47, foram recolhidas em terminais de ônibus (correspondendo, portanto, a 48,7% do total). As superfícies com maior índice de contaminação foram os terminais de autoatendimento e os corrimões. As áreas próximas das unidades de saúde ficaram em segundo lugar com 26,8% e aos parques públicos com 14,4%, seguiram mercados públicos com 4,1%, praias com 4,1% e outros lugares somando 2,2%. Nestes lugares o vírus apareceu mais em banheiros, terminais de autoatendimento, corrimões, playgrounds e equipamentos de ginástica ao ar livre.

Outro detalhe importante é o tipo de material de cada superfície. O coronavírus foi detectado especialmente em superfícies metálicas (46,3%) e plásticas (18,5%). Lindomar Pena complementa que os resultados da pesquisa podem ajudar as autoridades de saúde pública para políticas mais eficazes para conter a transmissão comunitária do vírus.

A divulgação da pesquisa, entretanto, é vista com reservas pelo chefe do Serviço de Infectologia da Santa Casa e professor de Infectologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Alessandro Pasqualotto.

“Encontrar o coronavírus em uma superfície não significa que ele seja potencialmente transmitido a partir dali”, observa Pasqualotto.

“A crença atual é de que a transmissão é principalmente respiratória. É por gotículas respiratórias de uma pessoa até outra. Então, sim, o transporte público é um local de risco para transmissão, mas porque uma pessoa se coloca muito próxima de outra, então, nesse sentido ela tem que estar usando máscara, preferencialmente distanciada e idealmente num ambiente ventilado”, acrescenta. “Eu sou um descrente da teoria de que as superfícies tenham qualquer papel de relevância na Covid. O coronavírus é uma doença respiratória primariamente”, salienta.

Quanto a áreas abertas, Pasqualotto considera que a transmissão seja muito rara, se for mantido o distanciamento. O uso de máscara, salienta, é prioritário em ambientes fechados. “Eu acho que essa pesquisa não deveria ter sido feita, ela presta um desserviço à comunidade, que vai começar a acreditar cada vez mais de que existe o risco associado ao ambiente”, critica, salientando que essa é sua opinião pessoal.

Por outro lado, Carolina Deutschendorf, médica infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), considera que o levantamento apresenta um dado preocupante, mesmo que o vírus não esteja mais ativo. “O que me preocupa neste tipo de pesquisa é mostrar que realmente tem muita gente doente circulando naquele lugar”, destaca.

“Aquele vírus que está na superfície provavelmente não representa maior risco, mas existiu uma pessoa que estava doente e que depositou aquele vírus ali”, diz. “E pensar que tem mais gente infectada num termina de ônibus do que em volta de um hospital é bem assustador”, pontua.

Quanto às medidas, a médica, assim como Pasqualotto, enfatiza a necessidade do uso da máscara para evitar o risco de ser contaminado ou de contaminar outra pessoa. Além de evitar, sempre que possível, aglomerações. “Se tiver qualquer sintoma gripal, evitar sair de casa”, exemplificou.


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