Transporte público de Porto Alegre opera com 40% da capacidade

Transporte público de Porto Alegre opera com 40% da capacidade

ATP calcula prejuízo de R$ 67 milhões devido aos reflexos do novo coronavírus no setor

Felipe Samuel

Aporte de R$ 39,4 milhões, nos próximos seis meses, correspondentes à diferença de custeio decorrente dos efeitos da pandemia, vai ajudar a socorrer o transporte público

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Os reflexos da pandemia do novo coronavírus foram sentidos principalmente no transporte coletivo. Na Capital, as empresas de ônibus observaram uma queda brusca no número de usuários, que passou de 800 mil passageiros por dia, em março, para 330 mil em setembro. A Associação dos Transportadores de Passageiros de Porto Alegre (ATP POA) calcula prejuízos de R$ 67 milhões ao setor, que chegou a operar com apenas 25% da capacidade normal durante a epidemia.

Com a retomada gradual das atividades econômicas e acordo judicial firmado entre prefeitura e consórcios privados de ônibus Via Leste, MOB, Mais e Viva Sul para manter as linhas operando, a expectativa agora é de aumento do número de passageiros. De acordo com o engenheiro de Transporte da ATP, Antônio Augusto Lovatto, o cenário vem melhorando e atualmente o setor opera com 40% da capacidade. O aporte de R$ 39,4 milhões, nos próximos seis meses, correspondentes à diferença de custeio decorrente dos efeitos da pandemia, vai ajudar a socorrer o transporte público.

De acordo com Lovatto, a retirada de 3% da Câmara de Compensação Tarifária, que deve reduzir passagem de ônibus em R$ 0,15, também é considerada parte da solução de um problema maior. "Todos concessionários sofreram algum tipo de prejuízo e estão com dificuldades", destaca. Apesar da medida, ele acredita que em princípio a desoneração não vai trazer grandes resultados, uma vez que são dois anos sem reajustes das tarifas em Porto Alegre. O acordo com a prefeitura também determina que as empresas abram mão do reajuste tarifário em 2020.

Na avaliação de Lovatto, o que vai atrair novamente os passageiros é um conjunto de ações que envolvem, entre outras coisas, desonerações tarifárias. "Algumas coisas temos que ceder, mas o acordo firmado direcionou a questões importantes para o transporte público de Porto Alegre", reforça, destacando para correção de aspectos e premissas de cláusulas históricas retrógradas. Conforme Lovatto, o repasse de recursos vai garantir que as empresas 'salvem' algumas dívidas que acumularam durante a pandemia e o pagamento de funcionários.

Apesar dos avanços nas negociações, como o pagamento pela Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC) das ordens de serviço, numa forma de cobrir a diferença entre receita e custo, Lovatto afirma que sem mudanças estruturais no sistema de financiamento e na regulamentação dos serviços, os problemas de mobilidade vão persistir.

"Desconheço uma cidade no mundo que tenha sistema de transporte eficiente, de qualidade, 100% financiado pelo usuário, porque Porto Alegre é 100% financiado pelo usuário", compara. Ele cita exemplos de Curitiba e São Paulo, que reduziram a oferta e contam com um fundo para complementar financiamento ao setor. "É preciso um sistema de regulamentação maior. E aí me refiro diretamente ao Uber", completa.


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