Variante de Manaus pode escapar dos anticorpos produzidos pela Coronavac, sugere estudo

Variante de Manaus pode escapar dos anticorpos produzidos pela Coronavac, sugere estudo

Pesquisa preliminar incluiu apenas oito voluntários, mas mostrou que nova cepa também pode driblar imunidade de quem já teve a doença


Estadão Conteúdo

Cientistas ressaltam no artigo, no entanto, que essa diferença não pode ser considerada estatisticamente significativa

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Um novo estudo feito por pesquisadores brasileiros sugere que a variante P.1 do coronavírus, originada em Manaus , pode escapar dos anticorpos produzidos pela Coronavac, vacina da farmacêutica Sinovac fabricada pelo Instituto Butantan e principal imunizante usado na campanha de vacinação contra a Covid-19 no País.

Os dados ainda são preliminares pois foram obtidos com base em uma amostra pequena de voluntários (oito pessoas) e precisarão ser confirmados por pesquisas maiores, mas acendem um alerta sobre o impacto da nova linhagem na eficácia das vacinas. A cepa teve origem em dezembro no Amazonas e já está presente em ao menos 17 Estados brasileiros.

O estudo foi conduzido por cientistas de instituições como USP e Unicamp e publicado nesta segunda-feira , 1º, na página de pré-prints (artigos ainda não revisados por outros cientistas) da revista científica The Lancet.

Na pesquisa, os cientistas coletaram o plasma de oito participantes dos estudos clínicos da Coronavac que haviam recebido as duas doses do imunizante há cerca de cinco meses e testaram a atividade neutralizante dos anticorpos presentes no plasma contra a P.1 e contra uma variante da linhagem B (a mais comum no Brasil antes do surgimento da nova cepa).

No teste, os pesquisadores observaram que o nível de anticorpos capazes de deter o vírus foram mais baixos para a P.1 do que para a linhagem B, ficando abaixo do limite da detecção no exame.

Os cientistas ressaltam no artigo, no entanto, que essa diferença não pode ser considerada estatisticamente significativa porque a amostra de voluntários foi pequena e o nível de neutralização em ambos os casos era "bastante baixo".

Mesmo assim, destacam que “os resultados sugerem que a P.1 pode escapar de anticorpos neutralizantes induzidos por uma vacina de vírus inativado” contra o Sars-CoV-2 (caso da Coronavac). Dizem ainda que, "inesperaradamente", o plasma dos vacinados tinha um nível baixo de anticorpos neutralizantes mesmo contra a cepa da linhagem B.

Por outro lado, afirmam que a proteção da Coronavac contra casos graves de Covid-19 (observada nos estudos clínicos) indica que os anticorpos neutralizantes não são o único fator de proteção contra a doença e que as respostas de outras células do nosso sistema imunológico, como os linfócitos do tipo T ou B de memória, podem reduzir a severidade da doença mesmo se houver essa redução na atividade dos anticorpos.

Eles sugerem que, para impedir a transmissão da nova cepa, poderá ser necessária a aplicação de uma dose de reforço da vacina, atualizada para esta ou outras variantes que surgirem. Pedem ainda que seja feito o monitoramento da ação neutralizante dos anticorpos em pessoas vacinadas e defendem a realização de mais estudos que dêem respostas mais robustas sobre o impacto da nova linhagem.

Cepa reduz em seis vezes ação de anticorpos de infecção prévia

O estudo brasileiro traz ainda outro dado preocupante: os anticorpos formados por pessoas já contaminadas pelo coronavírus parecem não ser capazes de barrar a P.1. Os cientistas analisaram o plasma de 19 pessoas recuperadas de infecções ocorridas antes do surgimento da nova variante e verificaram uma diminuição de seis vezes na capacidade de neutralização dos anticorpos contra a P.1 em comparação com a variante da linhagem B.

“Esses dados sugerem que a linhagem P.1 é capaz de escapar das respostas de anticorpos neutralizantes gerados por infecção prévia por SARS-CoV-2 e, portanto, a reinfecção pode ser plausível com variantes com mutações na proteína spike”, destacam os pesquisadores no artigo, referindo-se à mutação que ocorre na proteína responsável por permitir a entrada do vírus na célula humana.

Outros dois estudos feitos por cientistas brasileiros e publicados na sexta-feira, 26, mostraram que a cepa P.1 tem uma probabilidade de 25% a 61% maior de escapar da imunidade desenvolvida a partir de uma contaminação prévia, é de 1,4 a 2,2 vezes mais transmissível do que as anteriores e aumenta em dez vezes a carga viral nas células do doente.

Butantan diz realizar estudos próprios e promete resultados para os próximos dias

Procurado para comentar o resultado do estudo, o Instituto Butantan afirmou que a Coronavac é produzida a partir do vírus inteiro inativado, diferentemente de outros imunizantes que usam como antígeno principal a proteína spike e ressaltou que imunizantes que utilizam a técnica do vírus inativado induzem "resposta imune ampla contra a doença".

O instituto destacou que "realiza estudos próprios em relação à variante identificada no Amazonas" e que os resultados devem ser conhecidos nos próximos dias.
Por fim, o Butanta ressaltou que "o importante, neste momento, é que a população siga se vacinando, conforme a disponibilidade do imunizante na rede pública e os esquemas vacinais adotados pelos gestores".


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