Alemanha receberá 1.500 migrantes das ilhas gregas após incêndio

Alemanha receberá 1.500 migrantes das ilhas gregas após incêndio

Nesta terça-feira, cinco suspeitos foram presos de terem causado a catástrofe no campo de Moria, em Lesbos

AFP

Desde o incêndio, milhares de requerentes de refúgio têm dormido sob intenso calor nas calçadas

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A Alemanha vai receber mais de 1.500 migrantes que estão desabrigados nas ilhas da Grécia desde os incêndios que destruíram o campo de Moria em Lesbos, onde a polícia prendeu nesta terça-feira cinco suspeitos de terem causado a catástrofe. "Cinco jovens estrangeiros foram detidos e um sexto foi identificado e é procurado", afirmou o ministro grego das Proteção Civil, Michalis Chrysohoidis. A nacionalidade dos suspeitos não foi revelada.

As prisões foram realizadas como parte da investigação do incêndio que devastou na noite de 8 para 9 de setembro o maior acampamento de refugiados da Europa, onde cerca de 12.000 migrantes viviam em condições insalubres.

O ministro, citado pela agência grega ANA, acredita que "estas detenções desacreditam o cenário" segundo o qual "extremistas" atearam fogo ao campo. O governo grego já havia acusado duas vezes os migrantes de terem iniciado o incêndio.

A recente multiplicação de incidentes entre os requerentes de asilo e os insulares, incluindo simpatizantes da extrema direita, alimenta as suspeitas sobre o possível envolvimento de residentes que se opõem ao abrigo de migrantes em Lesbos.

Numa visita à ilha, onde se disse comovido pela "situação dramática e complexa", o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, fez um apelo à Europa, pedindo que os países se mobilizem e se envolvam para "enfrentar seriamente o desafio" das migrações.

"Eu me recuso a deixar a União Europeia desviar o olhar da imigração", pois "as fronteiras da Grécia são as fronteiras da Europa", insistiu. "Não existe solução milagrosa", avaliou o líder europeu, mas "não devemos desistir". Ele também pediu a criação de mais parcerias com outros países.

Até o momento, a resposta das nações europeias tem sido discreta: 10 países concordaram em cuidar de 400 menores desacompanhados, incluindo a França, que terá que deve receber 100 deles. A Alemanha, porém, "garante que 1.553 familiares" reconhecidos como refugiados pelas autoridades gregas "deixarão as ilhas" do Mar Egeu, disse o vice-chanceler alemão Olaf Scholz na terça-feira.

"Por favor, abram as portas"

Desde o incêndio, milhares de requerentes de refúgio têm dormido em Lesbos sob um intenso calor nas calçadas, em prédios abandonados ou nas beiras das estradas, com pouco acesso à comida e água.

Sob uma tenda, onde todos os oito membros de sua família moram desde o desastre, Samira Ahmedi, de 21 anos, que chegou há um ano do Afeganistão, não consegue conter as lágrimas. "Por favor", ela pede aos países europeus, "abram as portas. Somos humanos, não somos animais".

Junto com ela, Simine, 22, não quer entrar no novo acampamento improvisado, construído rapidamente pelas autoridades. "Não há comida, nem água; ninguém quer ir para o novo campo", explica.

Segundo depoimentos recolhidos pela AFP, as condições são deploráveis, não há chuveiros nem colchões. "A entrada dos solicitantes de refúgio no novo campo não é negociável", disse o ministro de Proteção Civil a repórteres. Apenas 800 pessoas concordaram em se estabelecer no local por enquanto, de acordo com o ministério.

A maioria dos migrantes se recusa a entrar por medo de não poder sair da ilha. Para Vany Bikembo, um mecânico de 25 anos que chegou há um ano da República Democrática do Congo, o acampamento improvisado "é um segundo inferno" depois de Moria.

"Não a um campo de concentração"

No porto de Mitilene, a capital da ilha, cerca de 200 habitantes fizeram uma manifestação pacífica à tarde contra um novo acampamento de migrantes, perto das ruínas de Moria. "As ilhas não querem campo de concentração, nem aberto nem fechado", dizia uma faixa dos manifestantes, a maioria do partido comunista.

O prefeito de Egeu do Norte, Kostas Mountzouris, um dos maiores opositores ao plano do governo de estabelecer um campo fechado na ilha para substituir Moria, pediu a empresários e trabalhadores que protestem nesta terça-feira para pedir "a retirada dos migrantes da ilha".

Há vários meses, o governo do primeiro-ministro conservador Kyriakos Mitsotakis planejava construir um campo fechado em Lesbos para aliviar a superlotação de Moria. Agora que o campo foi destruído, o governo confirmou que em breve um acampamento será construído. Também pediu uma participação mais ativa da UE.

A Comissão Europeia alterou para 23 de setembro a apresentação do seu tão esperado projeto de reforma da política de migração na União Europeia.


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