Alemanha sepulta vítimas de experimentos nazistas após mais de 70 anos

Alemanha sepulta vítimas de experimentos nazistas após mais de 70 anos

Cerimônia é uma iniciativa do grande hospital da capital alemã, Charité, após três anos de pesquisas

AFP

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A cidade de Berlim enterra nesta segunda-feira, na presença dos descendentes, os restos microscópicos encontrados recentemente de vítimas do nazismo cujos corpos foram objeto de experimentos médicos durante a guerra, um episódio relativamente desconhecido do período nacional-socialista. A cerimônia é uma iniciativa do grande hospital da capital alemã, Charité, após três anos de pesquisas.

O evento começará às 15h (10h de Brasília) no cemitério de Dorotheestadt, na presença de um rabino e de integrantes da Igreja protestante. "Com o enterro das mostras microscópicas extraídas naquele momento dos corpos, queremos dar um pouco de dignidade às vítimas", afirmou o diretor do hospital Charité, Karl Marx Einhäupl.

A iniciativa é uma demonstração dos esforços, recentes, do hospital para "enfrentar o passado", destaca o memorial da Resistência Alemã, que também organiza a cerimônia. "Porque muitos de seus médicos, que ocupavam cargos na direção, transformaram, durante o período nacional-socialista, suas clínicas e institutos em locais que praticavam a medicina racial e de destruição dos nazistas", completou.

Dos opositores ao regime nazista que serão enterrados não restam mais que 300 tecidos dispostos em lâminas de laboratório que os herdeiros do médico anatomista que fazia os experimentos na época, Hermann Stieve, encontraram em uma pequena caixa.

Os restos mortais, pouco visíveis, foram entregues em 2016 ao professor Andreas Winkelmann para uma tentativa de identificação. "Em geral, não se consideraria que tecidos tão minúsculos mereceriam o enterro, mas neste caso a história é particular, pois procedem de pessoas que tiveram o sepultamento deliberadamente negado para que seus parentes não soubessem onde estavam", explicou Winkelmann.

Embora não tenha conseguido determinar exatamente a quantas pessoas pertenceram as 300 mostras, Winkelmann trabalhou a partir de 20 nomes e de algumas pistas cifradas que estabeleciam um vínculo claro com a prisão de Plötzensee, onde 2,8 mil pessoas foram enforcadas ou degoladas pelos nazistas entre 1933 e 1945.

A pedido das famílias, os nomes das vítimas que serão enterradas não serão divulgados. Mas foi possível saber que a maioria eram mulheres. Isto porque Hermann Stieve, que foi diretor do Instituto Universitário de Anatomia de Berlim de 1935 até sua morte, em 1952, se especializou no estudo dos efeitos do estresse e do medo no sistema reprodutivo feminino.


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