Anestesista francês acusado de envenenamento é libertado

Anestesista francês acusado de envenenamento é libertado

Profissional é suspeito de matar nove pessoas submetidos a cirurgia

AFP

Anestesista confirma envenenamentos mas nega autoria dos crimes

publicidade

Um médico anestesista acusado na França de 24 envenenamentos, incluindo nove fatais, em pacientes foi colocado em liberdade condicional nesta sexta-feira, para a decepção e incompreensão de suas vítimas. Os pacientes, submetidos a intervenções cirúrgicas de menor importância, sofreram paradas cardíacas durante as operações em Besançon, onde atuava o dr. Frédéric Péchier, de 47 anos.

Os investigadores suspeitam que o médico alterava intencionalmente as injeções a serem aplicadas nos pacientes, a fim de causar incidentes operatórios para, em seguida, exercer o seu talento e reanimar as vítimas. Após várias horas de audiência na quinta-feira, a juíza decretou a liberdade condicional do médico, enquanto o Ministério Público havia solicitado a sua detenção provisória. "É uma decisão justa e oportuna", reagiu à AFP Randall Schwerdorffer, um dos advogados do anestesista.

Já proibido de exercer a profissão, o médico também está proibido de ir a Besançon e à cidade vizinha onde mora. "O MP vai obviamente apelar desta decisão", disse à AFP o procurador da República em Besançon, Etienne Manteaux. Este recurso será examinado "dentro de 15 dias", informou. Para as vítimas, "que vivem há dois anos um verdadeiro elevador emocional", a liberdade "é bastante incompreensível", disse Frédéric Berna, advogado das partes civis.

Acusado em 2017 por sete primeiros casos de envenenamento - incluindo dois fatais - e deixado em liberdade condicional, Péchier voltou a ser acusado na quinta-feira de "envenenamento de pessoas vulneráveis" por outras 17 pessoas. Sete desses pacientes morreram.

Segundo Manteaux, o anestesista admitiu no final de seu interrogatório que "atos criminosos, envenenamentos, foram cometidos na Clínica Saint-Vincent", onde trabalhava, mas ele negou ser o autor. "Eu não vi (no arquivo) que houve qualquer reconhecimento de envenenamento pelo dr. Péchier", reagiu Jean-Yves Le Borgne, um de seus advogados. Para o procurador, o médico "apareceu como o denominador comum" dos eventos relatados pelo corpo médico entre 2008 e 2016.

Os 17 novos casos, identificados entre 66 casos suspeitos, referem-se a pacientes com entre 4 e 80 anos. Este caso faz lembrar o de um ex-enfermeiro alemão, acusado de cerca de 100 assassinatos de pacientes por injeção letal, para o qual a prisão perpétua foi solicitada na quinta-feira. Niels Högel é acusado de injetar drogas nos pacientes para causar parada cardíaca antes de tentar revivê-los, na maioria das vezes sem sucesso.

Péchier nunca foi apanhado em flagrante, mas está no centro de "um conjunto de elementos concordantes", garantiu o magistrado. Segundo ele, os eventos suspeitos se deram "num contexto de conflito com seus colegas anestesistas ou cirurgiões" da Clínica Saint-Vincent de Besançon. O anestesista "costumava ficar nas imediações da sala de cirurgia", apresentando "diagnósticos precoces" quando "não havia evidência, nesta fase, de suspeita de uma overdose de potássio ou anestésicos locais", apontou o procurador.

O advogado dos pais da mais jovem suposta vítima, uma criança de quatro anos operada de amigdalite em 2016 e que sobreviveu a duas paradas cardíacas, Jean-Michel Vernier, expressou sua "raiva" e sua intenção de ele mesmo se tornar uma parte civil.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895