Argentina se une para dar um basta ao feminicídio

Argentina se une para dar um basta ao feminicídio

Manifestação se espalhou para outras capitais sul-americanas

AFP

O slogan viralizou nas redes sociais e levou multidões às ruas

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Centenas de milhares de argentinos acompanharam nesta quarta-feira familiares de mulheres assassinadas por seus companheiros e vítimas da violência de gênero ao grito de "Nem uma a menos" (Ni una a menos), uma iniciativa com réplicas em 110 cidades da Argentina, além de Chile, Uruguai e México.

O slogan viralizou nas redes sociais e levou multidões às ruas com o apoio de desconhecidos e figuras públicas, como a presidente Cristina Kirchner, o astro do futebol Lionel Messi e a ativista pelos direitos humanos Estela de Carlotto.

"É pela vida, chega de mortes", "o machismo mata", "nem a roupa nem os costumes podem justificar o abuso": estas foram algumas das frases escritas em cartazes espalhados em frente ao Congresso, em Buenos Aires, e também pelo centro de Santa Fe, Bariloche e Córdoba.

A cartunista Maitena subiu num palanque ao lado dos atores Juan Minujín e Erica Rivas para ler um documento que pediu a aplicação da lei de proteção integral contra a violência contra as mulheres, aprovada em 2009, mas carente de regulamentação efetiva que proteja as vítimas. "Confio nas pessoas, elas podem fazer algo para mudar isso", afirmou Maitena diante de uma maré de famílias e estudantes, a maior parte mulheres que compareceram ao ato em grupos de vizinhas, estudos ou de trabalho.

Familiares de mulheres que morreram nas mãos de seus companheiros ou ex-companheiros e sobreviventes que ficaram cegas ou tetraplégicas após serem agredidas por estes homens com quem um dia tiveram filhos foram à concentração pedir "nem uma a menos".

Manifestações em outras capitais sul-americanas

No centro de Santiago, uma centena de manifestantes – a maioria, mulheres – se concentrou desde o início da tarde em frente à sede do governo, exibindo cartazes com dizeres, como "Com luto e com raiva", em repúdio à violência de gênero. Em Montevidéu, a marcha passou por seis quarteirões da movimentada avenida 18 de Julho. Centenas de pessoas levantaram cartazes com nomes de mulheres assassinadas por seus parceiros e slogans como "Vamos falar sobre o feminicídio", "Chega de impunidade" ou "Menos armas, mais orgasmos".

A gota d'água

Os casos de violência contra a mulher citados nesta quarta são os de duas mulheres, uma esfaqueada em um jardim da infância na frente de seus alunos bebês, outra apunhalada em um bar da capital argentina em plena luz do dia e o de uma menina de 14 anos, grávida, cujo namorado queria obrigá-la a abortar.

Segundo a investigação, Chiara Páez, assassinada a pancadas pelo namorado de 16 anos, com a ajuda da família dele e enterrada no quintal da casa, desatou no mês passado a campanha #NiUnaMenos nas redes sociais.

"Isto marcou um ponto de inflexão social e político", disse Túñez. Segundo esta ONG, em 2014, foram registrados na Argentina 277 feminicídios, deixando 330 crianças sem mãe. Isto significa que uma mulher morreu a cada 31 horas.

A lei não é mágica

Desde 2012, a Argentina conta com uma lei que pune com a prisão perpétua o homem "que mate uma mulher ou uma pessoa que se perceba com identidade de gênero feminino". Os organizadores consideram que só a lei não é capaz de conter este flagelo e exigem a aplicação de um plano de erradicação da violência e a elaboração de estatísticas oficiais.

Além disso, pedem uma reforma educacional para instruir, em todos os níveis, a problemática da violência de gênero e capacitar as pessoas a acompanhar as mulheres vítimas de violência, especialmente as que denunciam e são ameaçadas por isso.

Uma pesquisa, divulgada na terça-feira, pelo ministério de Desenvolvimento Social da prefeitura de Buenos Aires revelou que seis em cada dez mulheres disseram ter sido vítimas de violência psicológica e duas em cada dez denunciam ter sido agredidas.

A justiça conta com instrumentos para defender uma mulher ameaçada, mas agora tudo foi insuficiente.

Segundo Túñez, o debate sobre a aprovação da lei ajudou para a "conscientização da sociedade sobre o impacto que a violência de gênero tem. Antes se falava em crimes passionais. Agora, é violência de gênero", lembrou.

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