Ataques xenófobos deixam ao menos cinco mortos e causam desordem na África do Sul
Autoridades prenderam mais de 180 pessoas por agressões a migrantes e suas lojas nos últimos dias
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Ao menos 180 sul-africanos foram presos em Joanesburgo, a maior cidade da África do Sul, depois do mais recente surto de violência contra imigrantes de Estados vizinhos no país. A agitação xenófoba começou no domingo, com manifestantes agredindo pessoas, incendiando carros, prédios e saqueando lojas, no Distrito Comercial Central, matando pelo menos cinco indivíduos. Em seguida, se espalhou para dois subúrbios do leste e para a capital Pretória, onde a mídia local relatou incêndios em uma área comercial central amplamente povoada por migrantes econômicos.
Conforme o jornalista Thabiso Toga, tal violência ocorre esporadicamente e muitos nacionais culpam os imigrantes pelo alto desemprego enfrentado (taxa de 28%), principalmente no que diz respeito a trabalho manual. Há, conforme o último censo demográfico local, cerca de 2,3 milhões de estrangeiros na nação. Do total, estima-se que 1,6 milhão seja oriundo do próprio continente, principalmente do Lesoto, Moçambique, Nigéria e Zimbábue, trabalhando principalmente em pequenas lojas e comércio de rua.
"É tão desanimador que o prefeito de Joanesburgo, Herman Mashaba, seja o chefe em fomentar a xenofobia e, por algum motivo, sua retórica parece ressoar com a maioria dos sul-africanos, incluindo a polícia, que foi passiva durante tudo isso. Sem a polícia disposta a proteger cidadãos estrangeiros, políticos proeminentes alimentam sentimentos anti-estrangeiros e uma população reconhecidamente xenofóbica. Não tenho certeza do que pode ser feito", comenta.
A cientista política Fatima Moosa lamenta o ocorrido e a inércia das autoridades em combater esse problema recorrente. “Infelizmente, isso ocorre muito aqui, mas a escala não é tão grande quanto a que está atualmente. Os políticos em todas as linhas partidárias são cúmplices por serem xenófobos e isso é feito para a população em geral. Honestamente, não há soluções claras. Especialmente com a falta de vontade política e de governança para fazer qualquer coisa”, relata.
Ela também relembra os ataques xenófobos de 2008, que marcaram o pico da violência contra estrangeiros desde o fim do Apartheid. “É talvez o mais conhecido, com dezenas de mortes”. De acordo com o Centro Africano de Migração e Sociedade (ACMS), naquele ano, uma onda de violência em todo deixou mais de 60 mortos e mais de 50 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas.
Autoridades reagem
As autoridades sul-africanas tentaram retratar a violência desta semana como produto de criminosos, e não como uma forma de preconceito. O ministro da Polícia Bheki Cele insistiu que a violência recente estava ligada à "criminalidade" e não à "xenofobia". "(Xenofobia) é usada como desculpa. Por enquanto não há nada que tenha desencadeado nenhuma forma de conflito entre sul-africanos e estrangeiros", afirmou.
Na segunda-feira, o ministro de Relações Exteriores da Nigéria, Geoffrey Onyeama, escreveu no Twitter que havia recebido “as notícias repugnantes e deprimentes sobre a contínua queima e pilhagem de lojas nigerianas” na África do Sul. Ele culpou "criminosos irracionais" pela violência e disse que a polícia da África do Sul não estava fornecendo proteção adequada. "Basta. Tomaremos medidas definitivas", afirmou.
Received sickening and depressing news of continued burning and looting of Nigerian shops and premises in #SouthAfrica by mindless criminals with ineffective police protection. Enough is enough. We will take definitive measures. @NigeriaGov @DigiCommsNG @GovernmentZA @DIRCO_ZA
— Geoffrey Onyeama (@GeoffreyOnyeama) September 2, 2019