Bachelet pede libertação de opositores venezuelanos

Bachelet pede libertação de opositores venezuelanos

Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU encerrou visita com reuniões com Maduro e com o líder opositor Juan Guaidó

Bachelet revelou ter designado dois delegados para acompanhar o respeito aos direitos humanos na Venezuela

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A Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, pediu nesta sexta-feira a libertação de todos os opositores, ao concluir sua visita de três dias à Venezuela. "Faço um apelo às autoridades para que libertem estes detidos ou privados de liberdade por exercer seus direitos civis de forma pacífica", disse Bachelet sobre centenas de adversários do governo de Nicolás Maduro. Bachelet revelou ter designado dois delegados para acompanhar o respeito aos direitos humanos na Venezuela, e considerou que é "grave" a situação humanitária do país.

"Teremos uma presença do meu gabinete no país pela primeira vez. Chegamos a um acordo com o governo para que uma pequena equipe, de dois oficiais de direitos humanos, permaneça aqui para prover assistência e assessoria técnica, e também muito importante, continuar monitorando toda a situação dos direitos humanos na Venezuela".

Bachelet encerrou nesta sexta sua visita à Venezuela com reuniões com Maduro e com o líder opositor Juan Guaidó. A Alta Comissária foi recebida por Maduro no Palácio de Miraflores, horas após se encontrar com Guaidó, líder do Parlamento e reconhecido como presidente interino por mais de 50 países. Ao final da reunião, Maduro se comprometeu a assumir com "seriedade" as recomendações de Bachelet sobre os direitos humanos.

"Teremos critérios diferentes, sempre existe isto em todos os países, mas disse que ela pode contar comigo, como presidente, para adotar com toda a seriedade suas sugestões, suas recomendações e suas propostas", disse Maduro ao se despedir de Bachelet. O propósito é que "as instituições sejam protegidas e que seja julgado qualquer um que violar os direitos humanos, não importa a instância. Dei a ela todas as minhas garantias", revelou Maduro.

Horas antes, cerca de 300 pessoas com cartazes onde era possível ler "Maduro é Pinochet" se concentraram em Caracas para chamar a atenção da ex-presidente chilena sobre os "presos políticos", o colapso da saúde e a falta de liberdades. "Peço a Bachelet que coloque a mão no coração e faça história advogando por nossos direitos", disse à AFP Neida Brito, cujo filho buscou exílio no Chile para evitar ser detido após os protestos que deixaram 125 mortos em 2017. "Querem pisar em nós e Bachelet tem que ver isso", acrescentou a aposentada de 61 anos em frente à sede do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Carrinhos de bebê vazios foram usados no protesto, como símbolo da morte de crianças pela suposta falta de tratamentos médicos. Segundo a ONU, por conta da crise econômica, um quarto da população venezuelana - equivalente a sete milhões de pessoas - necessita de ajuda humanitária urgente, enquanto quatro milhões emigraram desde 2015.

"Presos políticos"

A ONG Foro Penal denuncia que na Venezuela há 687 pessoas detidas por razões políticas, apesar de Maduro nega que esse seja o motivo. A Alta Comissária se encontrou com familiares desses presos, muitas acusadas de conspirar para derrubar o governo Bachelet também esteve com parentes de falecidos durante os protestos contra o governo que a ONG calcula em cerca de 200 desde 2014. Guaidó declarou que também falou com Bachelet sobre a "perseguição" contra o Legislativo, que tem vários integrantes sendo processados por conta de um suposto atentado e uma fracassada tentativa de golpe militar contra Maduro, e que la comissária prevê deixar dois representantes na Venezuela durante três meses. A visita de Bachelet é um "reconhecimento (...) da emergência humanitária complexa que está à beira de virar uma catástrofe", destacou o opositor.

Alcance limitado

A comissária conversou também com Diosdado Cabello, número dois do chavismo e presidente da Assembleia Constituinte, órgão que na prática assumiu as competências do Parlamento e que a oposição considera ilegítimo. A dirigente chilena conversou na quinta-feira com representantes do governo e dos demais poderes públicos - controlados pelo chavismo -, incluindo o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, homem forte do apoio militar a Maduro. Durante essas audiências, o governo enfatizou as sanções dos Estados Unidos como um agravante da crise. A Alta Comissária já criticou as medidas de Washington por considerar que aprofundam as mazelas no país.


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