Boris Johnson é eleito novo primeiro-ministro britânico

Boris Johnson é eleito novo primeiro-ministro britânico

Ex-prefeito de Londres herda tensas negociações sobre Brexit

AFP

Johnson receberá chaves de Downing Street na quarta-feira

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O ex-prefeito de Londres e um dos artífices do Brexit Boris Johnson será o próximo primeiro-ministro britânico depois de derrotar o ministro das Relações Exteriores, Jeremy Hunt, segundo resultados anunciados pelo Partido Conservador.

O ex-chefe da diplomacia britânica obteve 92.153 votos o que representa 66% dos 159 mil votos dos membros do partido, contra 46.656 votos de Hunt. Desta forma, torna-se o líder dos conservadores e receberá as chaves de Downing Street na tarde desta quarta-feira após uma visita à rainha Elizabeth II.

O novo premiê prometeu, ao assumir cargo, "concluir o Brexit" até o prazo de 31 de outubro. Com a vitória nas eleições primárias do Partido Conservador, Johnson ganha o direito de substituir a atual premiê Theresa May, que teve que pedir a Bruxelas dois adiamentos da data de partida do bloco por falta de acordo.

Brexit

O negociador da União Europeia (UE) para o Brexit, Michel Barnier, expressou sua disposição de trabalhar para uma saída ordenada do Reino Unido com o primeiro-ministro. "Estamos ansiosos para trabalhar construtivamente com o primeiro-ministro Boris Johnson quando ele tomar posse, e para facilitar a ratificação do Acordo de Retirada e alcançar um Brexit ordenado", declarou Barnier, logo após a nomeação do ex-chanceler britânico.

Este resultado marca a chegada ao poder dos "brexiters". Alguns deles jamais aceitaram que Theresa May, que se posicionou a favor da permanência do país na UE durante a campanha para o referendo de 23 de junho de 2016, tivesse sido escolhida para conduzir o acordo para separação.

A eleição também é uma vitória pessoal para o deputado conservador de 55 anos, cujas gafes, excessos e outras declarações intempestivas nos últimos trinta anos pareceram por vezes ameaçar os sonhos de grandeza que sempre cultivou.

O desafio à frente é enorme, sem equivalente para um líder britânico desde a Segunda Guerra Mundial: implementar o Brexit, sem exacerbar as profundas divisões sobre a questão, que se tornou o centro de gravidade da sociedade britânica. Uma missão em que Theresa May falhou três vezes ao não conseguir que os deputados aceitassem o acordo de saída que ela concluiu em novembro com Bruxelas.

Temores de um "no deal"

Boris Johnson, que fez campanha pela saída da UE - uma escolha oportunista de acordo com seus detratores - quer um Brexit até o prazo de 31 de outubro. A data original do divórcio era 29 de março, mas foi adiada duas vezes por falta de apoio ao acordo de May e para evitar uma saída sem acordo. Durante sua campanha, Boris Johnson repetiu que o divórcio seria concluído no final de outubro, com um acordo renegociado ou sem acordo, prometendo um futuro brilhante para o seu país.

O premiê afirmou que preferia obter um novo tratado de retirada, mas admitiu que seria quase impossível em razão do recesso parlamentar e o estabelecimento das novas equipes de governo em Londres e em Bruxelas. Boris Johnson também terá que convencer a UE a reabrir as negociações.

Sua disposição em deixar a UE a qualquer custo assusta aqueles que, inclusive em seu próprio campo, querem manter laços estreitos com o continente, e que temem as consequências econômicas de um "no deal", sinônimo de retorno das formalidades aduaneiras. Neste contexto, o ministro das Finanças Philip Hammond advertiu que fará tudo para evitar esse cenário.

Como muitos outros ministros, o ministro das Finanças garantiu que renunciaria antes mesmo do fim oficial do governo de Theresa May. Contra um "no deal", o movimento People's Vote, que milita para a realização de um novo referendo, estimou que Boris Johnson não tem "mandato" para implementar a saída do bloco sem acordo, ressaltando que ele foi escolhido pelos membros do Partido Conservador, ou seja, por "0,25% da população".

Bye bye Theresa

Na quarta-feira, depois de uma última noite em Downing Street, Theresa May responderá a uma rodada final de perguntas no Parlamento antes de ir ao Palácio de Buckingham, onde renunciará oficialmente na presença da rainha Elizabeth II no começo da tarde. Espera-se que Boris Johnson fale algumas horas depois de ser recebido também pela soberana, que confiará a ele a responsabilidade de formar o governo.

Segundo a imprensa britânica, ele poderá anunciar, já na quarta-feira ou nos próximos dias, uma visita a Paris, Berlim, Dublin ou Bruxelas, para colocar em prática sua estratégia para o Brexit. Washington também é citada, com Londres esperando assinar um ambicioso acordo de livre comércio com o presidente americano Donald Trump.

Boris Johnson terá outro desafio urgente para lidar: a escalada das tensões com Teerã, depois que o Irã apreendeu na sexta-feira um petroleiro de bandeira britânica no Estreito de Ormuz. O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamed Javad Zarif, parabenizou Boris Johnson por sua vitória e garantiu no Twitter que "temos 1.500 milhas de costa no Golfo Pérsico. são nossas águas e nós as protegeremos".

 


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