Casos passam de 5,5 milhões e OMS alerta para risco de segunda onda de contágios

Casos passam de 5,5 milhões e OMS alerta para risco de segunda onda de contágios

ONU também lembrou pandemia em curva ascendente na América Latina

AE

OMS alertou para risco de segunda onda da pandemia de coronavírus

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À medida em que países de diferentes regiões do planeta reabrem as atividades econômicas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou ontem para o risco de uma possível segunda onda de contágios pelo novo coronavírus e recomendou cautela nessa fase de transição. A agência da ONU lembrou que, enquanto muitos países registram o declínio de casos, outros, como na América Latina, estão em plena pandemia.

"Precisamos estar cientes do fato de que a doença pode aumentar a qualquer momento, não podemos fazer suposições de que apenas porque está em declínio ela continuará em declínio", alertou o diretor do programa de emergências da OMS, Mike Ryan. "Ainda temos alguns meses para nos preparar para uma segunda onda. Ainda continuamos em uma fase em que a doença, na realidade, está em alta", disse Ryan.

Os casos confirmados em todo o mundo superaram ontem 5,5 milhões, de acordo com um levantamento em tempo real da Universidade Johns Hopkins. O total de mortos é de 346.700, mas as estatísticas provavelmente são mais altas em razão de diferentes definições e taxas de teste, atrasos e suspeitas de subnotificação.

A epidemiologista Maria Van Kerkhove, líder da resposta da OMS à pandemia, destacou que uma característica do coronavírus é sua capacidade de se disseminar em determinadas situações e eventos de "super propagação". "E estamos vendo em várias situações nessas configurações fechadas. Quando o vírus tem uma oportunidade, ele pode se transmitir rapidamente." No fim de semana, a imprensa alemã divulgou que mais de 40 pessoas foram contaminadas em uma missa na cidade de Frankfurt. "O que devemos fazer é nos prepararmos para o possível ressurgimento do vírus. Devemos fortalecer a estrutura de cada país em testes, rastreamento da doença, isolamento dos casos confirmados e capacidade hospitalar", afirmou. Ela acrescentou que não se pode considerar que o vírus é menos ativo em épocas mais quentes. "Ele continua aí, sem se importar com a temperatura."

Ainda não se sabe como o vírus vai desenvolver ao longo do tempo, mas Ryan disse há duas semanas que ele poderia nunca ir embora. "Esse vírus pode se tornar um vírus endêmico nas nossas comunidades. Pode nunca ir embora. O HIV nunca foi embora", afirmou Ryan. "Não estou comparando as duas doenças, mas acho que é importante ser realista: ninguém pode prever quando ou se essa doença vai desaparecer."

Algumas das perguntas sem respostas de Ryan são as possíveis mutações que o tornem mais ou menos letal, o tempo de imunidade de uma pessoa que se recuperou e o período necessário para produzir uma vacina.

Um vírus endêmico é aquele em que as populações de uma determinada região precisam conviver com ele e que também se manifesta ao longo do tempo. No Brasil, são doenças endêmicas a malária, a dengue e a febre amarela, por exemplo.

Em entrevista ao Estadão na segunda-feira, a cientista-chefe e diretora executiva da OMS, Soumya Swaminathan, afirmou que o cenário mais plausível pode envolver "ondas epidêmicas recorrentes", intercaladas com períodos de transmissão de baixo nível.

"Os países que estão assumindo o controle de seus riscos enquanto saem dos bloqueios se sairão melhor e poderão evitar grandes segundas ondas se puderem interromper a transmissão através de um forte sistema de saúde pública capaz de detectar casos precocemente e uma população em alerta", disse.

Ainda que faltem informações precisas sobre a época, especialistas consideram que a pandemia da gripe espanhola, ocorrida há cerca de um século, teve pelo menos três grandes ondas. O surto de H1N1 também teve duas ondas.

No fim de semana, os franceses decidiram permitir a realização de cerimônias religiosas em todo o país. A Itália reabriu academias e ginásios nesta semana, mas o governo italiano iniciará recrutamento de 60 mil voluntários para monitorar a conformidade de suas medidas de segurança. Na Espanha, as duas cidades mais afetadas pela pandemia - Madri e Barcelona - começaram a reduzir as restrições nesta semana. (Com agências internacionais)


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