Chineses voltam ao trabalho após paralisação por coronavírus

Chineses voltam ao trabalho após paralisação por coronavírus

Empresas encontram dificuldade de recuperar perdas durante surto da doença

AFP

Cerca de 60% das empresas adota regime remoto obrigatório

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Perto da Grande Muralha, o "hostel" da família Li não tem um único hóspede, e o supermercado próximo está vazio. Em uma China paralisada pela epidemia do novo coronavírus, a retomada da atividade econômica prevista para esta segunda-feira se anuncia bastante lenta e complicada.

Normalmente, no recesso pelo Ano Novo Lunar, o albergue da granja Yingfangyuan, cercado de idílicas colinas nevadas ao norte de Pequim, está lotado. "Temos até dez mesas de clientes nesta época", afirmou a dona, Wang Li, de 35 anos. "Mas agora não tem ninguém", lamenta ela, em conversa com a AFP.

As férias do Ano Novo, que começaram em 24 de janeiro, foram estendidas além dos tradicionais sete dias de descanso, visando a tentar frear a epidemia do coronavírus. O objetivo era estimular as pessoas a permanecerem no lugar em que estavam.

Em quase toda China, empresas e fábricas foram autorizadas a retomar suas atividades apenas a partir deste 10 de fevereiro. Para Wang, contudo, assim como para várias empresas familiares em todo país, será complicado recuperar as perdas - sobretudo, em um contexto em que persistem as restrições a viagens e a deslocamentos.

Na localidade vizinha de Heishanzhai, controles de estrada impedem o acesso, com a esperança de impedir a propagação do vírus. Yang, gerente do supermercado local, tem acumulado um grande estoque de caqui, tradicional presente de Ano Novo. "Este ano, ninguém visita ninguém", lamentou, em tom sombrio.

Febre de trabalho remoto

O mesmo acontece com as grandes cidades. São raríssimos os clientes nos shoppings. Com várias lojas, a popular rede de "fondue" Haidilao mantém suas portas fechadas. Em Pequim, ou Xangai, o tráfego volta a ser mais denso nesta segunda, após duas semanas de interrupção quase total. Permanece, no entanto, longe de seu fluxo normal.

A prefeitura de Xangai está estimulando as empresas a facilitarem o trabalho remoto. Na última sexta-feira, a Câmara de Comércio americana desta cidade informou que, das 127 empresas ouvidas entre seus membros, 60% delas pretende impor "trabalho remoto obrigatório" nesta segunda-feira. E quase todas autorizam a trabalhar de casa.

Exemplo desta febre de trabalho remoto é o uso de comunicações e teleconferência em empresas como a DingTalk, que, na semana passada, anunciou cerca de 200 milhões de usuários ativos conectados.

Quarentena

Nessas condições, com os transportes ainda fora de seu funcionamento normal, é difícil avaliar quando os 300 milhões de trabalhadores migrantes, que viajaram para suas regiões de origem, poderão (e se vão querer) voltar para suas fábricas e outros lugares de trabalho.

O gigante taiwanês do setor de eletrônica Foxconn, principal montador de iPhones, anunciou que vai impor uma quarentena a seus trabalhadores que voltavam para sua fábrica gigante de Zhengzhu (centro). E, seguindo determinações do governo, hoje a Foxconn mantém fechadas suas fábricas chinesas, noticia o jornal japonês "Nikkei".

No setor de automóveis, as fábricas da joint-venture Volkswagen-SAIC retomarão suas atividades apenas em 17 de fevereiro, à exceção de uma unidade em Xangai aberta nesta segunda, anunciou um porta-voz do fabricante alemão. As fábricas chinesas da americana Ford abrem progressivamente a partir desta segunda-feira, mas o grupo prevê o retorno à normalidade apenas dentro de algumas semanas, disse um porta-voz.

Para as empresas em Wuhan, cidade totalmente paralisada e epicentro da epidemia, o caos ainda parece muito longe do fim. Embora o comércio on-line possa se beneficiar de toda essa situação, o retorno à normalidade logística também é complicado em Wuhan. A empresa de entregas Shentong Express explicou ter "retomado suas atividades no conjunto de sua rede", mas advertiu que a prioridade é para entregas de material médico.


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