Cortejo faraônico com 22 múmias desfila pelas ruas do Cairo

Cortejo faraônico com 22 múmias desfila pelas ruas do Cairo

Egípcios puderam acompanhar pela TV estatal o desfile dos 18 reis e quatro rainhas

AFP

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Um desfile inédito com as múmias de 22 reis e rainhas do Egito antigo, entre os quais estão Ramsés II e Hatshepsut, ocorreu neste sábado (3) pelas ruas do Cairo em direção à nova morada dos faraós, o Museu Nacional da Civilização Egípcia (NMEC), ao sul da capital, que será inaugurado no domingo. O trajeto de sete quilômetros durou uns 40 minutos, e foi realizado sob estrita vigilância policial.

A Praça Tahrir, onde fica o museu histórico e que foi recentemente decorada com um obelisco antigo e quatro esfinges com cabeça de cabra, e suas imediações foram fechadas "a veículos e pedestres". Os egípcios puderam acompanhar pela TV estatal o desfile dos 18 reis e quatro rainhas, que contou com uma cerimônia de abertura cuidadosamente coreografada. Em sua chegada, os reis e rainhas foram saudados por 21 salvas de canhão. 

"Com grande orgulho, desejo dar as boas-vindas aos reis e rainhas do Egito após a sua viagem", declarou no Twitter o presidente egípcio, Abdel Fatah al Sisi. "Este grandioso espetáculo é uma prova a mais da grandeza (...) de uma civilização única que chega às profundezas da história", acrescentou.

Em ordem cronológica, o faraó Sekenenré Taá (século XVI a.C.), da 17ª dinastia, abriu o cortejo, que foi encerrado por Ramsés IX (século XII a.C.), da 20ª. Todos foram transportados em carros ao estilo faraônico. Vários artistas egípcios participaram do evento com apresentações musicais.

O NMEC ocupa um grande edifício ao sul do Cairo. Ele foi inaugurado parcialmente em 2017 e abrirá as portas no domingo, mas as múmias só serão expostas ao público a partir de 18 de abril.

O culminar

A diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, presente no desfile, afirmou em um comunicado na sexta-feira que a transferência das múmias ao NMEC era "o culminar de um longo esforço para preservá-las e exibi-las melhor". "A história da civilização egípcia desfila diante de nossos olhos", acrescentou a líder da organização da ONU, que participou da criação do NMEC.

A maioria das 22 múmias, descobertas perto de Luxor, no sul do Egito, a partir de 1881, não saiu do museu no centro do Cairo desde o início do século XX. Desde a década de 1950 estão expostas, lado a lado, em uma pequena sala, sem explicações museográficas claras ao visitante.

As múmias foram transportadas cada uma dentro de um tanque especial com o nome do soberano e dotado de mecanismos de absorção de impactos, em uma envoltura que contém nitrogênio para conservá-las. No NMEC, serão expostas em caixões mais modernos "para um melhor controle da temperatura e da umidade do que no antigo museu", explicou à AFP Salima Ikram, professora de Egiptologia da Universidade Americana do Cairo, especialista em mumificação.

As múmias serão apresentadas individualmente, ao lado de seus sarcófagos, em um ambiente que lembra as tumbas subterrâneas dos reis. Cada uma terá uma biografia e objetos relacionados com os soberanos.

A maldição dos faraós 

Passados anos de instabilidade política após a revolta popular em 2011, que afetou gravemente o turismo no país, o Egito procura uma maneira incentivar o retorno dos visitantes, em particular promovendo a cultura. Além do NMEC, o país deve inaugurar em poucos meses o Grande Museu Egípcio (GEM), próximo às pirâmides de Gizé, que abrigará coleções faraônicas.

Segundo Walid al Batuti, conselheiro do ministro do Turismo e Antiguidades, o desfile "mostra que depois de milhares de anos, o Egito conserva um grande respeito por seus dirigentes", declarou ao canal público Nile TV International.

O grande desfile, anunciado pelas autoridades através de vídeos on-line, causou sensação nas redes sociais. Com a hashtag em árabe #maldicao_dos_faraos, muitos internautas associaram as recentes catástrofes ocorridas no Egito a uma "maldição" que teria sido provocada pelo deslocamento das múmias.

Em uma semana, o Egito experimentou o bloqueio do canal de Suez por um navio cargueiro, um acidente ferroviário que deixou 18 mortos em Sohag (sul) e o desabamento de um prédio no Cairo que provocou a morte de pelo menos 25 pessoas. A "maldição do faraó" já tinha sido evocada nos anos 1920, depois da descoberta da tumba de Tutancâmon, seguida das mortes consideradas misteriosas de membros da equipe de arqueólogos.

Os faraós

1- Sekenenré Taá II, apelidado de "o Valente", reinou no Egito cerca de 1.600 anos antes de nossa era, durante a 17ª dinastia (-1625 a -1549). Ele liderou as tropas egípcias contra os invasores asiáticos hyksos, os primeiros estrangeiros a conquistar o Delta do Nilo.

2- Amósis-Nefertari, filha do anterior, esposa real e irmã de Amósis I, fundador da 18ª dinastia (-1550 a -1292).

3- Amenófis I, filho da anterior e de Amósis I. Realizou várias campanhas militares.

4- Ahmose-Meritamun, filha de Amósis e Amósis-Nefertari, é também uma das "grandes esposas reais" de Amenófis I.

5- Tutemósis I, terceiro rei da 18ª dinastia, sucedeu Amenófis I. Ele é conhecido como um grande conquistador que estendeu o domínio egípcio para o sul.

6- Tutemósis II, faraó da 18ª dinastia e filho de Tutemósis I, casou-se com sua meia-irmã HatShepsut.

7- Hatshepsut, quinta soberana da 18ª dinastia. Filha e esposa real, foi regente de seu enteado Tutemósis III, antes de se coroar como rainha-faraó do Egito. Seu poderoso reinado foi marcado pelo crescimento do comércio.

8- Tutemósis III (18ª dinastia), enteado de Hatshepsut, não reinou até o falecimento de sua madrasta. Rei guerreiro, ele consolidou a posição do Egito na região.

9- Amenófis II (18ª dinastia), filho do anterior. Ele manteve as fronteiras egípcias que herdou de seu pai.

10- Tutemósis IV (18ª dinastia), filho do anterior.

11- Amenófis III (18ª dinastia), filho do anterior. Ele reinou por 37 ou 38 anos. Em frente ao seu templo funerário, perto de Luxor (sul), estão duas estátuas, mais conhecidas como Colossos de Mêmnon.

12- Tiy, esposa do anterior.

13- Seti I, faraó da 19ª dinastia (-1296 a -1186). Realizou inúmeras campanhas militares triunfantes, incluindo o combate contra os hititas. Essas vitórias estão inscritas nas paredes do templo de Karnak.

14- Ramsés II (19ª dinastia), o mais famoso e poderoso dos faraós, reinou por 67 anos. Um grande construtor, mandou erguer os templos de Abu Simbel para ele e sua esposa, Nefertari. Ramsés II é conhecido por ter sido um grande rei guerreiro. Sua batalha de Qadesh contra os hititas foi transcrita em vários lugares.

15- Merneptá, filho de Ramsés II, governou por 11 anos.

16- Seti II (19ª dinastia), filho do anterior, reinou cerca de seis anos.

17- Siptá (19ª dinastia), reinou ainda criança, sob a regência da esposa de Seti II, Tausert. Foram os últimos soberanos da 19ª dinastia.

18- Ramsés III, faraó da 20ª dinastia. Ele empreendeu inúmeras campanhas militares.

19- Ramsés IV (20ª dinastia). Foi soberano por seis ou sete anos.

20- Ramsés V (20ª dinastia). Filho do anterior. Reinou por cerca de quatro anos. Morreu sem herdeiro.

21- Ramsés VI (20ª dinastia). Um dos filhos de Ramsés III. Reinou oito anos.

22- Ramsés IX (20ª dinastia). Neto de Ramsés III.

Foto: Khaled Desouki / AFP / CP


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