Crise política da Itália pode ter reflexos na economia

Crise política da Itália pode ter reflexos na economia

País teve crescimento zero do PIB nos primeiros seis meses do ano

AFP

Bolsa de Milão fechou em baixa, com queda de 2,48%

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Terceira maior economia da zona do euro, a Itália mergulha novamente em uma crise política após a implosão da coalizão de governo. Qual pode ser o impacto desta mudança? Assim que os mercados abriram nesta sexta-feira, a proporção entre os títulos públicos da Itália e da Alemanha deu um salto de 25 pontos, a 235, refletindo a preocupação dos círculos financeiros. A Bolsa de Milão fechou em baixa, com queda de 2,48%.

"A incerteza tem um preço, se chama 'spread', e implica a possível redução da nota da Itália das agências de classificação" de risco, explicou Carlo Alberto Carnavale Maffe, professor da Universidade Bocconi de Milão.

Por acaso, a agência de classificação Fitch deve revisar a nota da Itália nesta sexta-feira. Atualmente, ela é "BBB" - dois níveis acima da categoria especulativa, chamada de "lixo" - e pode tender para o negativo. Analistas estão divididos sobre a decisão da agência, que não terá tempo de considerar o impacto da crise política deflagrada nesta quinta-feira.

Em outubro de 2018, a Moody's reduziu a classificação da Itália para "Baa3", logo acima da categoria especulativa. A agência explicou que tinha preocupações orçamentárias com a coalizão populista no poder nos últimos meses. De acordo com a Maffe, "agosto é um mês com volume baixo de comércio (nas bolsas de valores), e as pequenas variações têm um impacto muito grande".

Economia apertada

A terceira maior economia da zona do euro não está em um bom momento. Após registrar uma "recessão técnica" na segunda metade de 2018, a Itália teve crescimento zero do Produto Interno Bruto (PIB) nos primeiros seis meses do ano. Em 2019, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) calculam um crescimento italiano de apenas 0,1%, e o governo, de 0,2%. Alguns especialistas são ainda mais pessimistas e acreditam que o país pode voltar à recessão. 

A economia italiana é afetada pela desaceleração que atinge a Europa toda, bem como pelas tensões comerciais entre China e EUA e pela cautela das empresas, que acabam investindo menos diante da situação global e da instabilidade política local. Como resultado, a taxa de desemprego está em 9,7%, chegando a 28,1% entre os jovens de 15 a 24 anos. O índice é bem superior à média da zona do euro, de 7,5% e 15,4%, respectivamente.

Soma-se a isso a dívida colossal de 2,3 trilhões de euros, 132% de seu PIB, a mais alta da zona do euro depois da Grécia. Bruxelas pressiona a Itália constantemente para reduzir seu déficit público. Em várias ocasiões, houve atritos entre a Comissão Europeia e o governo italiano, que acabou anunciando que o déficit público em 2019 não vai superar os 2,04% do PIB - contra os 2,4% previstos a princípio.

O que pode acontecer se Matteo Salvini vencer as eleições antecipadas? O líder de extrema direita da Liga sempre criticou a intervenção da União Europeia e estima que o atual ministro italiano da Economia, Giovanni Tria, é muito conciliador com Bruxelas. Em declarações recentes, Salvini garantiu que o próximo orçamento não pode ficar "abaixo do déficit de 2%". "Os dogmas de Bruxelas não são sagrados", alertou. "Certamente vamos ter confrontos com a Europa, mas com um governo e um Parlamento legitimados pelo voto dos italianos", antecipou.

Salvini, cujo eleitorado é composto por pequenos empresários e artesãos do próspero norte industrializado do país, afirma ser preciso adotar um orçamento "corajoso", com cortes de impostos significativos e grandes obras públicas, para impulsionar o crescimento. Ele também prometeu evitar o aumento do imposto sobre produtos, o IVA, já aprovado pelo atual Parlamento - apesar de precisar de 23 bilhões de euros adicionais para executar seus programas.


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