Dia da "ira" e da diplomacia sobre status de Jerusalém

Dia da "ira" e da diplomacia sobre status de Jerusalém

Momento da oração na Esplanada das Mesquitas causa preocupação às autoridades

AFP

Dia da "ira" e da diplomacia sobre status de Jerusalém

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Jerusalém e a Cisjordânica ocupada voltaram a ser palco, nesta sexta-feira de distúrbios entre as forças de segurança israelenses e os palestinos, cujos líderes convocaram manifestações para expressar sua ira depois que os Estados Unidos reconheceram a Cidade Santa como a capital israelense, uma decisão que será discutida pelo Conselho de Segurança da ONU.

Cerca de 50 policiais israelenses entraram em confronto com dezenas de manifestantes palestinos nas ruas da Cidade Velha, em Jerusalém Oriental, constatou um fotógrafo da AFP. As forças de ordem agiram com violência para expulsar os manifestantes às ruas próximas. Os confrontos se limitaram em Jerusalém e na Cisjordânia. Em Hebron, Belém, Jericó e perto de Nablus, as forças israelenses responderam às pedras lançadas por jovens palestinos com balas de borracha e gás lacrimogêneo, segundo testemunhas e jornalistas da AFP.

O dia servirá para medir a ira dos palestinos após a decisão do presidente Donald Trump, que provocou críticas quase unânimes da comunidade internacional desde o seu anúncio na quarta-feira. Um dia depois, o movimento islamita Hamas convocou uma "nova intifada", enquanto os grupos palestinos declararam nesta sexta-feira "o dia da ira".

Manifestações eram esperadas no mundo muçulmano após a oração do meio-dia. Todos os olhos estão voltados nesta sexta-feira à Cidade Santa e, em particular, à Esplanada das Mesquitas, onde milhares de fiéis irão rezar. O terceiro lugar mais sagrado do Islã, que também é venerado pelos judeus sob o nome de Monte do Templo, cristaliza as tensões entre israelenses e palestinos.

Este importante símbolo nacional e religioso, localizado em Jerusalém Oriental, a parte palestina da Cidade Santa anexada e ocupada por Israel, que os palestinos querem transformar na capital do Estado ao qual aspiram. Os líderes palestinos consideram que a decisão americana condiciona as negociações sobre o status de Jerusalém, uma das questões mais espinhosas na busca por uma solução ao conflito entre israelenses e palestinos.

Mobilização policial

Israel, que controla todos os acessos à Esplanada das Mesquitas, mobilizou centenas de policiais adicionais dentro e nos arredores da Cidade Velha de Jerusalém, informou um porta-voz da polícia à AFP. Contudo, as forças de segurança não impuseram restrições de idade para o acesso ao local religioso, o que é comum em momentos de tensão. Além dos territórios palestinos, protestos na Malásia, Indonésia e Istambul reuniram milhares de pessoas contra a decisão de Trump sobre Jerusalém.

A decisão unilateral de Trump sobre Jerusalém, que rompeu com a política de todos os seus predecessores, já havia causado distúrbios na quinta-feira na Cisjordânia e em Gaza. Cerca de 20 palestinos ficaram feridos por balas de borracha ou munições letais.

A comunidade internacional teme que Trump tenha aberto a caixa de Pandora, uma vez que Jerusalém, com seus lugares sagrados para judeus, cristãos e muçulmanos, é um tema muito delicado. A iniciativa do presidente americano provocou muitas críticas, entre elas a do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que assegurou que Trump lançou o Oriente Médio em "um círculo de fogo".

Desde a criação de Israel, em 1948, a comunidade internacional nunca reconheceu Jerusalém como capital e sempre considerou que o status oficial da Cidade Santa deveria ser negociado entre palestinos e israelenses. Israel, que proclama que Jerusalém é sua capital "eterna e indivisível", agradeceu o anúncio de Trump. Mas a transferência da embaixada americana em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém não deve acontecer antes de dois anos, segundo indicou nesta sexta-feira o secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson.

Neste contexto, um líder do Fatah, partido que governa a Cisjordânia, afirmou que o dirigente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, não receberá este mês o vice-presidente americano, Mike Pence, durante sua próxima viagem ao Oriente Médio.

Abbas considera que os americanos já não podem desempenhar seu papel histórico de mediador no processo de paz entre israelenses e palestinos. Apesar de as partes em conflito não manterem discussões substanciais desde 2014, Trump proclamou sua vontade de conseguir um acordo diplomático.  "Se estes são os primeiros sinais de um acordo final para o conflito, Deus sabe como acabará sendo o acordo: quem sabe com a expulsão dos palestinos Deus sabe para onde", ironizou na quinta-feira à noite um membro da liderança palestina, Mohamed Shtayyeh.





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