EUA e Arábia Saudita acusam Irã de ser "responsável" por ataques no mar de Omã

EUA e Arábia Saudita acusam Irã de ser "responsável" por ataques no mar de Omã

Seis navios já foram atacados em menos de um mês, incluindo dois cargueiros

AFP e AE

Incidente aumenta tensão regional e risco de guerra cresce

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O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, acusou o Irã de ser "responsável" pelos ataques de quinta-feira contra dois cargueiros no mar de Omã, quase um mês depois do ataque a outros quatro navios, incluindo três navios-tanque, na costa dos Emirados Árabes Unidos. Iranianos, por outro lado, dizem que se trata de uma "armadilha" de quem deseja uma guerra. 

Explosões forçaram a retirada dos tripulantes e o incidente aumentou a tensão regional, elevando o risco de um conflito e seus efeitos no preço do petróleo - depois dos ataques, o do barril subiu 3,85%.

"A avaliação dos Estados Unidos é que a República Islâmica do Irã é responsável pelos ataques", disse Pompeo. O secretário, porém, não apresentou nenhuma evidência. "Como um todo, esses ataques representam uma clara ameaça à paz e à segurança internacionais e servem para alimentar uma escalada de tensões", afirmou. Ele assegurou, no entando, que Washington ainda quer que Teerã volte à mesa de negociações "quando chegar a hora".

A Arábia Saudita concorda com a acusação feita pelos Estados Unidos. O chanceler do Irã, Mohamed Javad Zarif, afirmou que o ataque foi "suspeito, dadas as tentativas de Tóquio de avançar no processo de paz no Oriente Médio". Na quarta-feira, o premiê do Japão, Shinzo Abe, esteve em Teerã e se reuniu com o presidente Hassan Rohani e com o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei.

Em resposta aos EUA, a Rússia, principal aliado internacional do Irã, advertiu contra "conclusões precipitadas e tentativas de culpar os iranianos" pelo incidente. "Seria um erro qualquer tentativa de pôr a culpa naqueles países indesejados por vários Estados bem conhecidos", disse o vice-chanceler russo, Sergei Ryabkov.

O Conselho de Segurança da ONU se reuniu ontem para discutir os ataques. 

Consequências 

Para o iraniano Trita Parsi, diretor do National Iranian American Council e autor de um livro sobre as negociações nucleares entre o governo de Barack Obama e o Irã, a Casa Branca estaria adotando uma tática para forçar o regime a negociar. "Já vimos este filme antes: mesmo na ausência de provas, mesmo com indícios de que outros podem estar envolvidos, os EUA e seus aliados apontarão o dedo para o Irã", afirmou Parsi ao jornal O Estado de S. Paulo. "É uma forma de tentar emparedar o Irã e forçar os líderes iranianos a negociar, mas pode acabar numa guerra regional." 

Segundo analistas, o risco de um conflito acidental aumenta a cada novo ataque. "Esses incidentes são um mau presságio, porque apontam para uma escalada calculada, que indica que ambos os lados estão se escondendo e tentando provocar o outro", disse Fawaz Gerges, professor de política do Oriente Médio na London School of Economics. "Esse é um dos mais perigosos momentos da região na última década, pois qualquer ação pode provocar uma retaliação e uma guerra acidental tem grande risco de ocorrer."

Novo patamar

O aumento de quase 4% do preço do petróleo ontem foi significativo, mas não é excepcional, dentro das variações de um mercado extremamente volátil. De acordo com especialistas, no entanto, um conflito poderia elevar os preços a até US$ 250 o barril (hoje o preço está em US$ 61,25).

Segundo modelos desenvolvidos pelo economista e analista de risco Vincent Lauerman, da consultoria canadense Geopolitics Central, no cenário atual, com guerra verbal e ataques pontuais, o preço do barril poderia subir 10% até o fim do ano, chegando perto dos US$ 70 o barril. "Poderia haver uma guerra por procuração entre Estados apoiados por Irã, de um lado, e países aliados de Arábia Saudita e EUA, do outro, como ocorre no Iêmen, mas englobando toda a região. Neste caso, o preço poderia chegar a US$ 100 o barril e seria difícil para qualquer dos membros da Opep modificar este cenário com aumento da produção", escreveu Lauerman em relatório publicado em maio.

"O pior cenário, mas também o mais improvável, é de uma guerra entre Irã e Arábia Saudita diretamente. Neste caso, a depender das consequências, como fechamento do Estreito de Ormuz, o barril poderia chegar a US$ 250 - mas tanto EUA quanto Irã e Arábia Saudita querem evitar esse cenário".


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