Governo e indígenas começam diálogo para conter violenta crise no Equador

Governo e indígenas começam diálogo para conter violenta crise no Equador

Com mediação da ONU e da Igreja, tratativas terão início às 17h

Pessoas ficam na rua em meio aos escombros, após um protesto de 10 dias por um aumento no preço do combustível ordenado pelo governo para garantir um empréstimo do FMI

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O governo do Equador e os indígenas realizam neste domingo à tarde sua primeira rodada de diálogo em busca de uma solução para a violenta crise deflagrada há 12 dias por ajustes econômicos acordados com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Os indígenas garantem que permanecerão em Quito até conseguirem um acordo nas negociações abertas hoje, declarou um de seus líderes. "Mantemos em Quito não apenas os dirigentes, mas também as bases e nos manteremos até que haja uma solução", disse Salvador Quishpe, que integra a Comissão Política da Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie).

Os diálogos acontecem em meio ao toque de recolher imposto pelo governo na capital, após um dia de violência e de caos. Nesse contexto, o presidente Lenín Moreno ordenou a militarização de Quito diante dos episódios violentos, dos quais a Conaie se distanciou. O encontro de Moreno com a cúpula da Conaie começa às 15h locais (17h em Brasília), em Quito, e será mediado pela ONU e pela Igreja Católica, conforme um comunicado conjunto divulgado pelas duas instituições.

"Confiamos na boa vontade de todos para estabelecer um diálogo de boa-fé e encontrar uma solução rápida para a complexa situação que o país vive", declara o texto publicado no Twitter.

O presidente Moreno agradeceu aos indígenas pela decisão de se sentarem à mesa para dialogar. "Nossa esperança é que, talvez, hoje seja o dia que possamos nos sentar (para conversar) e sair disso", acrescentou Quishpe, ex-governador da província amazônica de Zamora Chinchipe, ao sul, na fronteira com o Peru.

O Fórum para o Progresso da América do Sul (Prosul) divulgou uma nota neste domingo, na qual condenou a violência no Equador e pediu a ambos os lados que encontrem uma solução pacífica. O texto também apoia as ações do governo de Lenín Moreno. "Condenamos os atos de violência e as tentativas de desestabilizar o país, sua institucionalidade e o processo democrático equatoriano", diz a declaração assinada pelos presidentes de Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai e Peru. 

"Do mesmo modo, rejeitamos qualquer ação estrangeira direcionada para alterar a ordem pública e a convivência pacífica no Equador", completa o comunicado divulgado no Chile, país que exerce a presidência pro tempore do bloco.  Criado em março passado no Chile, o grupo é composto por oito países sul-americanos. A Venezuela foi excluída por decisão dos governos conservadores que integram o Prosul.

No sábado, Leonidas Iza, líder do Movimento Camponês de Cotopaxi, disse que eles exigem garantias mínimas para o diálogo, que deveria ocorrer em um espaço neutro "sem a interferência de atores políticos". Pediu que a Organização das Nações Unidas (ONU), a Anistia Internacional e a Conferência Episcopal do Equador, entre outros, façam parte desse processo. A liderança indígena mantém sua posição de que o Decreto 883 deve ser revogado com o qual o subsídio ao combustível foi eliminado. Esse é o ponto base do diálogo.

Violência nas ruas

Inicialmente, a Conaie rejeitou o diálogo, mas se abriu para conversar, desde que seja para a revogação, ou a revisão, do decreto que eliminou os subsídios para os combustíveis. O impacto da medida foi um aumento de até 123% no diesel e na gasolina desde 3 de outubro. A medida foi adotada no âmbito dos compromissos assumidos pelo governo com o FMI para conseguir milionários empréstimos destinados a aliviar o volumoso déficit. Em resposta, os indígenas se mobilizaram até a capital, onde protestam há uma semana.

Desde o início do movimento, em 2 de outubro, seis pessoas morreram, e cerca de 2.100 ficaram feridas, ou foram detida, segundo números da Defensoria. Após a onda de protestos do sábado, a polícia foi posta nas ruas de forma ostensiva, e não foram registrados novos focos de violência. Um grupo de jovens que tentou, neste domingo, armar uma barricada foi dispersado pela polícia, segundo um fotógrafo da AFP.


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