Governo sírio cerca posto militar turco perto de Idlib

Governo sírio cerca posto militar turco perto de Idlib

Ancara teme que Idlib se transforme em um caos generalizado, o que poderia provocar um novo fluxo de refugiados para sua fronteira

AFP

Capacetes brancos em área atingida por bombardeio aéreo

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As forças do regime sírio cercaram nesta sexta-feira um posto de observação do Exército turco perto da província de Idlib, depois de um avanço contra os extremistas e os rebeldes no noroeste do país em guerra. Os eventos na Síria serão debatidos em uma reunião em 16 de setembro em Ancara entre os presidentes da Rússia, do Irã e da Turquia, três países fundamentais no conflito que devasta este território desde 2011.

O presidentes russo, Vladimir Putin, e seu colega turco, Recep Tayyip Erdogan, concordaram nesta sexta-feira em uma conversa telefônica em "intensificar os esforços comuns" na província síria de Idlib. Depois de quase quatro meses de bombardeios em Idlib e em províncias próximas dominadas pelos jihadistas, o governo Bashar al-Assad, apoiado pela Rússia, iniciou um avanço em 8 de agosto.

Nas últimas 48 horas, as forças do governo reconquistaram várias localidades entre as províncias de Idlib e de Hama, como a de Morek, onde fica o posto de observação do Exército turco, informou a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). "As forças do regime cercam o posto de observação turco de Morek", ao norte de Hama, indicou a ONG. Na fronteira com a região de Idlib, a Turquia apoia alguns grupos rebeldes sírios e atuou militarmente no conflito contra os curdos sírios e os jihadistas.

Há quase dois anos mobiliza forças em 12 postos de observação nas províncias de Idlib e de Hama. Em Damasco, a agência oficial Sana confirmou que o Exército sírio assumiu o controle de várias cidades de Hama, incluindo Morek e Kafr Zita. Com três milhões de habitantes, Idlib e as zonas vizinhas das províncias de Hama, Latákia e Aleppo, que são controladas pelos jihadistas do grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS, ex-braço sírio da Al-Qaeda).

Grupos rebeldes com menos poder também estão presentes. Desde o fim de abril, os bombardeios e disparos de artilharia do governo e de seu aliado russo contra estas regiões mataram quase 900 civis, de acordo com o OSDH. E mais de 400.000 pessoas fugiram, segundo a ONU. A presidência turca advertiu na quarta-feira que não cogita fechar, ou transferir, o posto de observação de Morek.

Todos os postos de observação "continuarão operando onde estão", afirmou Ancara. A região de Idlib estava supostamente protegida por um acordo sobre uma "zona desmilitarizada", anunciado em setembro de 2018 por Turquia e Rússia para separar as zonas governamentais dos territórios jihadistas e insurgentes. O acordo foi aplicado apenas parcialmente, porém. Moscou denuncia a presença dos jihadistas.

Já Ancara teme que Idlib se transforme em um caos generalizado, o que poderia provocar um novo fluxo de refugiados para sua fronteira. "Os acontecimentos exigem uma revisão do acordo", afirmou o jornal sírio "Al-Watan", ligado ao governo. O avanço do regime no sul de Idlib parece seguir a linha de uma estrada que liga a capital Damasco com a grande cidade de Aleppo, norte do país, duas metrópoles controladas pelo governo.

A cidade de Khan Sheikhun, reconquistada na quarta-feira, fica na rota estratégica. Um pouco mais ao norte, o setor de Maaret al-Numan foi alvo de bombardeios durante a noite. Três civis morreram, entre eles uma criança, anunciou o OSDH. Desde 2015 e a intervenção militar de Moscou, o regime, já apoiado pelo Irã e pelo Hezbollah libanês, conseguiu recuperar quase 60% do território. Iniciada em 2011, a guerra na Síria deixou mais de 370.000 mortos.


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