Greta Thunberg, ativista de 16 anos que inspirou greves pelo clima, é indicada ao Nobel da Paz

Greta Thunberg, ativista de 16 anos que inspirou greves pelo clima, é indicada ao Nobel da Paz

Três deputados noruegueses indicaram a menina sueca ao prêmio porque "se não fizermos nada para deter a mudança climática, ela será a causa de guerras, conflitos e refugiados"

Eric Raupp

"Greve escolar pelo clima", diz cartaz segurado pela jovem

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Entre agosto e setembro de 2018, quando tinha apenas 15 anos, Greta Thunberg parou de acompanhar as aulas na escola de Estocolmo onde estava matriculada, desafiando as leis suecas que determinam que todas as crianças estejam ativamente em uma instituição de ensino. Não o fez por falta de vontade de estudar ou qualquer outro motivo, senão para lutar pelo futuro do planeta. Às vésperas das eleições gerais no país, a estudante protestou em frente ao Parlamento para que os governantes dessem atenção à questão do meio ambiente. O que era um movimento individual, ao qual os próprios pais da menina se mostraram contrários, mas respeitaram, ganhou a solidariedade global, inspirou milhares de jovens ao redor do mundo e rendeu à menina uma nomeação ao Prêmio Nobel da Paz.

Três deputados noruegueses indicaram a garota, hoje com 16 anos à celebre distinção. Freddy Andre Øvstegård e outros dois membros do Partido da Esquerda Socialista defenderam que “ela lançou um movimento de massas que eu vejo como uma grande contribuição para a paz". "Propusemos Greta Thunberg porque, se não fizermos nada para deter a mudança climática, ela será a causa de guerras, conflitos e refugiados", disse o parlamentar. Políticos e alguns professores universitários podem indicar candidatos para o Prêmio Nobel da Paz, que será concedido em dezembro. Há 301 candidatos em 2019: 223 indivíduos e 78 organizações.

"Estou honrada e muita grata por esta nomeação", disse Gretha no Twitter. "Amanhã nós fazemos greve de escola para o nosso futuro. E continuaremos a fazê-lo pelo tempo que for necessário", completou, em referência a uma mobilização mundial marcada para sexta. As greves são esperadas em 1.659 cidades e municípios em 105 países na sexta-feira, envolvendo centenas de milhares de estudantes.

Em fevereiro, Greta Thunberg foi a Bruxelas para apoiar protestos dos jovens na capital belga, e pediu à União Europeia (UE) que redobrasse suas metas de redução de gases de efeito estufa. A adolescente apresentou suas propostas durante um discurso de dez minutos no Comitê Econômico e Social Europeu, um organismo que representa a sociedade civil em Bruxelas, onde suas palavras foram bem recebidas. Ela ganhou destaque internacional ao discursar durante a 24ª conferência da ONU sobre o clima, em dezembro passado, na Polônia. Em Davos, em janeiro. fez uma fala incendiária. “Há quem diga que devia estar na escola: mas por que hei de me preparar para um futuro que pode não existir? Eu quero que entrem em pânico, trata-se da nossa casa que está a queimar", proclamou.

Discurso na ONU

Falando ao secretário-geral da ONU, António Guterres, em dezembro de 2018, ela afirmou que, durante 25 anos, inúmeras pessoas estiveram à frente das conferências sobre o clima das Nações Unidas pedindo aos líderes da nação para que parassem com as emissões. "Mas, claramente, isso não funcionou, já que as emissões continuam aumentando. Então, eu não vou perguntar nada a eles. Em vez disso, pedirei à mídia que comece a tratar a crise como uma crise. Em vez disso, pedirei às pessoas de todo mundo que percebam que nossos líderes políticos falharam conosco. Porque estamos diante de uma ameaça existencial e não há tempo para continuar nessa estrada da loucura", defendeu.

"Ninguém fala também sobre o fato de estarmos no meio da sexta extinção em massa, com até 200 espécies sendo extintas por dia. Além disso, ninguém nunca fala sobre o aspecto da equidade claramente declarado no acordo de Paris, o qual é absolutamente necessário para fazê-lo funcionar em escala global. Isso significa que países ricos como o meu precisam reduzir suas emissões a zero dentro de 6 a 12 anos, dada a velocidade de emissão de hoje, para que as pessoas nos países mais pobres aumentem seu padrão de vida construindo algumas das infraestruturas que já construímos. Por exemplo hospitais, eletricidade e água potável. Como podemos esperar que países como a Índia, a Colômbia ou a Nigéria se preocupem com a crise climática se nós, que já temos tudo, não nos importamos nem um pouco com nossos compromissos com o acordo de Paris?", indagou.

"Hoje, usamos 100 milhões de barris de petróleo por dia. Não há política para mudar isso. Não há regras para manter esse óleo no solo. Então, não conseguiremos salvar o mundo jogando pelas regras do jogo. Porque essas regras precisam ser mudadas. Portanto, não viemos aqui implorar aos líderes mundiais que cuidem do nosso futuro. Eles nos ignoraram no passado e nos ignorarão novamente. Viemos aqui para que eles saibam que a mudança está vindo, gostem ou não. As pessoas enfrentarão o desafio. E, como nossos líderes estão se comportando como crianças, teremos que assumir a responsabilidade que eles deveriam ter assumido há muito tempo", finalizou.

Apresentação ao mundo

"Nós, as crianças, normalmente não fazemos aquilo que vocês nos mandam fazer. Fazemos o que vocês fazem. E uma vez que os adultos não ligam para o meu futuro, eu também não ligarei. O meu nome é Greta e estou numa greve às aulas até às eleições gerais suecas", disse em um vídeo compartilhado no YouTube, passando a mesma mensagem que tinha escrita em um panfleto que distribuía a quem a procurava junto ao Parlamento em 2018.


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