Guaidó intensifica desafio a Maduro com ajuda humanitária
Militares bloquearam fronteira na tentativa de impedir chegada de doações
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"Aqui na Venezuela não vai entrar ninguém, nem um soldado invasor. Nesta terra ninguém toca", sentenciou o presidente socialista, que conta entre seus aliados com Rússia, China, Turquia e Irã. A ajuda humanitária é o novo desafio de Guaidó, após ser reconhecido na véspera como presidente interino por 20 países europeus, ao fim de um ultimato dado a Maduro para que convocasse "eleições livres".
"Querem mandar dois caminhõezinhos com quatro panelas. A Venezuela não tem que mendigar a ninguém. Se querem ajudar, que acabem com o bloqueio e as sanções", disse o presidente, assegurando que não permitirá que "humilhem" o país com o "show da ajuda humanitária". Durante a noite, militares venezuelanos bloquearam uma ponte na fronteira com a Colômbia.
A cisterna de um tanque de transporte de combustível e um gigantesco contêiner de carga bloqueavam a passagem na ponte Tienditas, que liga as cidades de Cúcuta (Colômbia) e Ureña (Venezuela), constatou uma equipe da AFP na área. Franklyn Duarte, deputado no estado fronteiriço venezuelano de Táchira, disse à AFP que "efetivos das Forças Armadas bloquearam a passagem" durante a tarde. Segundo Duarte, a passagem na ponte foi bloqueada depois que um incidente confuso ocorreu em Ureña quando os soldados chegaram em veículos blindados para vigiar a fronteira.
Três pessoas ficaram feridas, diz o legislador, depois que um tanque atingiu alguns motociclistas. "Eles podem colocar uma parede e não impedirão a entrada da ajuda", disse o deputado. Os Estados Unidos, que não descartam uma ação armada na Venezuela, ofereceram uma ajuda inicial de 20 milhões de dólares, e o Canadá, de outros 40 milhões, uma "esmola", segundo o governo venezuelano.
Em seu discurso ao Congresso sobre o Estado da União nesta terça, o presidente americano, Donald Trump, ratificou que apoia "o povo venezuelano" e condenou "a brutalidade do regime de Maduro". Maduro acusa Washington - com o qual rompeu relações diplomáticas - de usar Guaidó como "fantoche" para derrubá-lo e se apropriar do petróleo venezuelano, e os países europeus de apoiar esses "planos golpistas".
Fortalecido com o reconhecimento de 20 governos europeus, que se soma ao de Estados Unidos, Canadá e 12 países latino-americanos, Guaidó também pedirá ajuda humanitária à União Europeia (UE). Além disso, solicitará a proteção de contas e ativos venezuelanos, como os Estados Unidos fizeram, que embargará a compra de petróleo venezuelano a partir de 28 de abril.
A Comissão Europeia anunciou nesta terça uma ajuda de 5 milhões de euros a mais para enfrentar a crise na Venezuela, o que eleva a ajuda humanitária para o país em 39 milhões desde 2018. Bruxelas, que geralmente envia sua ajuda para a Venezuela por meio de organizações internacionais, também anunciou sua intenção de abrir um escritório humanitário em Caracas.
Também nesta quinta, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou a UE de tentar derrubar o presidente Maduro. "Sabemos agora o que a é a UE. De um lado falam de eleições e democracia e depois, de maneira violenta e com artimanhas, tentam derrubar um governo", disse Erdogan.
Na terça-feira, 19 países da UE reconheceram o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. Ele se autoproclamou presidente em 23 de janeiro. "A Venezuela é sua província?", perguntou Erdogan, em uma mensagem aparentemente direcionada a Washington. "Como podem dizer a alguém que chegou ao poder por meio de eleições que saia? E como colocam na presidência alguém que não foi eleito?", questionou. No dia 23 de janeiro, Erdogan ligou para Maduro e expressou apoio.