Iraquianos continuam nas ruas, apesar de anúncio de demissão do premiê

Iraquianos continuam nas ruas, apesar de anúncio de demissão do premiê

Para os manifestantes, é todo o sistema político, estabelecido pelos EUA há 16 anos, que precisa mudar

AFP

Na sexta-feira, 67 pessoas foram mortas por disparos policiais e agentes à paisana

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Nada parece impedir a contestação dos iraquianos. Eles voltaram às ruas neste sábado, bloqueando estradas em Bagdá e no sul, apesar da intenção do primeiro-ministro de renunciar e de centenas de mortes na violência. Adel Abdel Mahdi, que administra há um ano o governo de um dos países mais ricos em petróleo, mas também um dos mais corruptos, ainda não transformou seu anúncio em ação, mas para as ruas, sua demissão não será suficiente.

"Continuamos o movimento, a renúncia de Adel Abdel Mahdi é apenas o primeiro passo, depois será preciso expulsar e julgar todos os corruptos", disse à AFP um manifestante em Diwaniya. Nesta cidade do sul, milhares de manifestantes reivindicam "a queda do regime", assim como em al-Hilla e Kut, depois do apoio do grande aiatolá Ali Sistani, a mais alta autoridade xiita do Iraque, que pediu ao Parlamento que substituísse o governo de Abdel Mahdi.

Em Nassiriya, com os tiros das forças de segurança e o quartel-general da polícia incendiado pelos manifestantes nos últimos dias, uma espessa fumaça escura podia ser vista sobre a cidade. Manifestantes queimaram pneus às margens do Eufrates, enquanto centenas des pessoas ocupam uma praça no centro da cidade. Na sexta e quinta-feira, em Nasiriyah e na cidade sagrada xiita de Najaf, também no sul, 67 pessoas foram mortas por disparos policiais e agentes à paisana. 

Os manifestantes estão revoltados contra o poder em Bagdá e seu padrinho iraniano, um movimento de protesto que desde 1º de outubro fez mais de 420 mortos e cerca de 15.000 feridos, a grande maioria manifestantes, segundo um balanço compilado pela AFP de fontes policiais e médicas. 

Reunião domingo

Para os iraquianos, é todo o sistema político, estabelecido pelos Estados Unidos há 16 anos após a derrubada do ditador Saddam Hussein, e agora sob o controle do Irã, que precisa mudar. Desejam o fim de um poder baseado em denominações religiosas e étnicas que fez prosperar o clientelismo. E, acima de tudo, uma renovação completa de uma classe política considerada incompetente e que roubou em 16 anos o equivalente a duas vezes o PIB do país, o segundo maior produtor de petróleo da Opep.

A próxima reunião política está marcada para domingo, com uma sessão no Parlamento, onde a oposição pede um voto de desconfiança e onde os paramilitares pró-Irã, até então apoiadores do primeiro-ministro, prometeram "mudança".

Na sexta-feira, Abdel Mahdi anunciou que "enviaria ao Parlamento uma carta formal na qual ele expressa sua intenção de renunciar, para que a Assembleia possa rever suas escolhas". Foi após o apelo do aiatolá Sistani, figura tutelar da política no Iraque, que Abdel Mahdi disse que estava pronto para deixar o cargo. Para também tentar impedir que o sul mergulhe no caos, com combatentes tribais armados para bloquear o caminho dos reforços policiais. 

Em Najaf, onde os manifestantes incendiaram na quarta-feira o consulado iraniano, desencadeando uma nova onda de repressão, esta manhã parecia calma. Na sexta-feira, homens à paisana dispararam contra jovens manifestantes que se aproximavam de um santuário sede de um partido, matando seis, segundo testemunhas.

Em Bagdá, o Conselho Supremo do Judiciário anunciou que penas severas serão aplicadas àqueles que mataram ou feriram manifestantes, enquanto o nome de seu chefe, Faq Zeidan, circula como possível primeiro-ministro. Após a repressão em Nasiriyah, o governo demitiu o comandante militar que acabara de nomear para "restaurar a ordem" e vários líderes locais se demitiram.

Em outra cidade sagrada xiita ao sul de Bagdá, Kerbala, manifestantes e forças de segurança se enfrentaram nas primeiras horas do dia. E em Bagdá, os confrontos entre a polícia e os manifestantes continuam.


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