Johnson é criticado por fala incendiária sobre Brexit

Johnson é criticado por fala incendiária sobre Brexit

Primeiro-ministro se recusou a pedir desculpas por declarações

AFP

Johnson criticou determinação que impede suspensão do Parlamento britânico

publicidade

O primeiro-ministro britânico Boris Johnson enfrenta nesta quinta-feira uma avalanche de críticas por sua oratória, considerada incendiária e perigosa no acalorado debate do Brexit, que divide a sociedade britânica. "Ontem (...) palavras raivosas foram pronunciadas, a atmosfera era tóxica", lamentou o presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, que chamou os deputados a "se tratarem como oponentes e não como inimigos".

Johnson partiu para ofensiva nessa quarta-feira, quando os deputados voltaram ao trabalho, em uma sessão marcada por violentos confrontos verbais, após a anulação pela Justiça de sua decisão de fechar o parlamento até duas semanas antes da data marcada para o Brexit. Ele se recusou a se desculpar, criticou repetidamente os legisladores por aprovar uma "lei de rendição" que o forçaria a solicitar um novo adiamento do Brexit e disse que "não trairia" o mandato do povo de deixar a União Europeia.

O tema divide profundamente o país desde o referendo de 2016 - em que o Brexit venceu com 52% dos votos - e o ambiente está cada vez mais envenenado pelo caos político e os sucessivos adiamentos da saída da UE, inicialmente prevista para março. Uma deputada anti-Brexit, a trabalhista Jo Cox, foi assassinada por um homem de extrema-direita durante a campanha pelo referendo, provocando grande comoção em todo o país.

Este ano, a segurança teve que ser aumentada nos últimos meses para proteger vários deputados que relataram ter recebido ameaças de morte por suas posições relativas ao Brexit. "Muitos de nós sofremos ameaças de morte e abusos todos os dias", disse a Johnson a deputada trabalhista Paula Sherriff, pedindo ao primeiro-ministro que "modere sua lingagem".

"Devo dizer que nunca ouvi tamanha falsidade na minha vida", respondeu Johnson, considerando que a melhor maneira de honrar Cox "seria, acredito, realizar o Brexit", o que causou uma onda de indignação. "Me deixa doente que o nome de Jo seja usado dessa maneira", tuitou o marido de Jo Cox, Brendan, que em declarações à rádio BBC criticou a linguagem "irresponsável" usada pelos políticos de ambos os lados, acusando-os de exacerbar as divisões sociais sobre a saída britânica da UE.

O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, acusou Johnson de usar uma linguagem "indistinguível da linguagem da extrema-direita". E até alguns membros do Partido Conservador governista pareciam incomodados: "Em um momento de sentimentos contraditórios, todos devemos estar cientes do impacto do que dizemos sobre aqueles que nos observam", disse o ministro da Cultura e Mídia, Nicky Morgan.

"A linguagem que está usando causa muitos danos à nossa democracia", considerou, por sua vez, o neto de Winston Churchill, Nicholas Soames, expulso do Partido Conservador por se rebelar contra Johnson.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895