Kim Jong Un opta por não fazer seu discurso de Ano Novo na Coreia do Norte

Kim Jong Un opta por não fazer seu discurso de Ano Novo na Coreia do Norte

Medida foi maneira de evitar admitir erros em sua política diplomática com Washington

AFP

Nesse momento-chave do calendário político da Coréia do Norte, Kim tende a revisar o passado e apresentar seus objetivos

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O líder norte-coreano Kim Jong Un aparentemente não fará seu discurso de Ano Novo nesta quarta-feira, uma maneira de evitar admitir erros em sua política diplomática com Washington, segundo analistas. Kim faz esse discurso todos os anos desde 2013, uma tradição herdada de seu avô, Kim Il Sung, fundador da República Popular Democrática da Coreia (RPDC). Nesse momento-chave do calendário político da Coréia do Norte, Kim tende a revisar o passado e apresentar seus objetivos.

O texto completo do discurso é publicado no jornal oficial Rodong Sinmun. Este ano, a televisão oficial norte-coreana não transmitiu esse discurso, nem de manhã nem ao meio-dia. Em vez disso, a televisão transmitiu o líder norte-coreano lendo um longo discurso na sessão plenária do comitê central do Partido dos Trabalhadores (no poder).

Nas imagens, Kim se dirige ao alto comando do partido e declara que Pyongyang não está mais sujeito à moratória em testes nucleares e mísseis balísticos intercontinentais e ameaça mostrar uma "nova arma estratégica". "Não há mais base para mantermos unilateralmente o vínculo com o compromisso", disse Kim a líderes do partido governista. "O mundo vai testemunhar uma nova arma estratégica que a República Popular Democrática da Coreia [nome oficial da Coreia do Norte] deterá no futuro próximo", acrescentou o líder norte-coreano, anunciando uma "ação impactante" da Coreia do Norte. "Os Estados Unidos estão fazendo exigências contrárias aos interesses fundamentais do nosso Estado e adotam um comportamento de bandido", disse ainda. "Jamais venderemos nossa dignidade", afirmou Kim, prometendo "uma ação impactante para fazer que [Estados Unidos] pague pelos danos impostos ao nosso povo".

Essa é uma reviravolta na política diplomática da Coreia do Norte por dois anos, depois de não obter uma redução nas sanções internacionais ou tomar medidas suficientes em face da desnuclearização reivindicada pelos Estados Unidos.

Park Won-gon, professor de estudos internacionais na Universidade Handong, na Coréia do Sul, estimou que essa mudança de formato talvez tenha sido realizada para evitar críticas contra Kim. "Há uma enorme diferença entre fazer um discurso de ano novo com sua própria voz e anunciar o que foi decidido em sessão plenária", acrescentou. "Quando ele faz um discurso, isso significa que ele é endereçado diretamente aos cidadãos norte-coreanos, além do mundo exterior", diz ele. "Isso pode forçá-lo a admitir inevitavelmente que seu método passado apresentava falhas", insistiu.

"Essa mudança talvez vise a amenizar a mensagem", declarou Leif-Eric Easley, professor da Universidade Ewha Womans, em Seul. "Ao comentar diante de uma audiência doméstica em uma reunião do partido, Kim pode afirmar-se sem um ar agressivo como poderia ter se tivesse feito ameaças nucleares em um discurso lido sozinho", acrescentou.


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