Líder da extrema-direita italiana enfrenta primeiro julgamento

Líder da extrema-direita italiana enfrenta primeiro julgamento

Matteo Salvini é acusado de impedir o desembarque de migrantes resgatados no mar

AFP

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O líder da extrema-direita italiana, Matteo Salvini, compareceu neste sábado pela primeira vez a um tribunal de Catania, Sicília, acusado de impedir o desembarque de migrantes resgatados no mar. O julgamento pode afetar sua carreira, mas ele deseja transformar em um evento a seu favor.

No entanto, juiz do caso adiou a audiência preliminar para 20 de novembro. Salvini não fez declarações à imprensa ao chegar ao tribunal.

O ex-ministro do Interior foi acusado de "abuso de poder e sequestro de pessoas" por ter ordenado em julho de 2019, quando estava no governo, o bloqueio de 116 migrantes a bordo do navio da Guarda Costeira italiana "Gregoretti". Se o líder da oposição for condenado a mais de dois anos de prisão, ele não poderia ocupar um cargo público durante seis anos, o que o deixaria fora das eleições previstas para 2023. 

O juiz da audiência preliminar Nunzio Sarpietro deveria decidir se o caso é forte o suficiente para o julgamento prosseguir, mas a imprensa italiana já havia antecipado que o magistrado poderia não tomar uma decisão neste sábado.

Ao adiar a questão para novembro, Sarpietro anunciou que deseja ouvir o primeiro-ministro Giuseppe Conte, assim como a atual ministra do Interior, Luciana Lamorgese, e o chanceler Luigi Di Maio. "Escolhi o melhor terno para a audiência", ironizou Salvini ao desembarcar na quinta-feira na Sicília para três dias de encontros e manifestações organizadas sob o lema "Os italianos escolhem a liberdade".

Seu partido, Liga, encomendou camisas e ofereceu voos com passagens mais baratas a Catania para o chamado "festival da liberdade", que terá a participação de Giorgia Meloni, líder do partido Irmãos da Itália. Todos os deputados, senadores e europarlamentares de direita foram convocados para um evento a seu favor.

A polícia mobilizou 500 agentes para impedir confrontos entre os simpatizantes de Salvini e militantes de esquerda. Salvini anunciou que pretendia se declarar diante dos juízes "culpado de ter defendido a Itália e os italianos".

Uma espécie de desafio à justiça, que o processa por ter ordenado que os 116 migrantes permanecessem na embarcação durante quase uma semana em cumprimento a sua política de "portos fechados", que impedia a entrada dos barcos humanitários nos portos italianos. Uma família nigeriana denunciou maus-tratos durante a permanência na embarcação. 

Um documento preparado pelos advogados de defesa de Salvini alega que a decisão de bloquear a embarcação foi tomada porque a bordo estavam dois traficantes de drogas e que o tempo de espera foi necessário para garantir outro destino aos imigrantes.

Os 116 migrantes, a maioria africanos, foram resgatados no Mediterrâneo depois de navegar por cinco dias à deriva. Eles permaneceram no barco de patrulha sob o forte sol do verão e apesar de um surto de sarna, além de um caso suspeito de tuberculose. Quinze menores de idade foram autorizados a sair por pressão do tribunal de menores de Catania. 

Os demais desembarcaram em 31 de julho, depois que Salvini anunciou que negociou um acordo com os países da UE para a transferência. "Que um tribunal se permita julgar a linha política e de governo de um ministro é um precedente perigoso", comentou Salvini, que deseja envolver o primeiro-ministro Giuseppe Conte na questão, por considerar que a decisão de bloquear a embarcação foi coletiva, de todo o governo. 

Conte rejeita a alegação e recorda que foi justamente Matteo Salvini que aprovou um decreto especial para fortalecer suas competências como ministro devido à oposição interna a sua política de portos fechados.  O líder de direita, que pediu aos juízes que se concentrem na luta contra a máfia ao invés do seu caso, afirma que sua decisão deve ser julgada pelos italianos.

"Os italianos dirão nas próximas eleições se fiz ou não o correto", afirmou.

 


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