Lições da Covid-19 devem ser usadas para combater resistência aos antibióticos, diz OMS

Lições da Covid-19 devem ser usadas para combater resistência aos antibióticos, diz OMS

Organização afirmou que grupos farmacêuticos relutam em investir grandes somas por considerarem setor pouco lucrativo

AFP

Organização afirmou que grupos farmacêuticos relutam em investir grandes somas por considerarem setor pouco lucrativo

publicidade

As lições aprendidas na luta contra o vírus da Covid-19 devem ser usadas para combater outro flagelo que ameaça seriamente a população mundial: a resistência aos antibióticos, destacou a OMS nesta quinta-feira. A Organização Mundial da Saúde divulgou seu novo relatório sobre medicamentos em desenvolvimento para combater as superbactérias, assim chamadas porque são resistentes a muitas classes de antibióticos.

E a observação da OMS é sombria porque há pouquíssimos novos medicamentos eficazes nos projetos dos laboratórios farmacêuticos. Mas estima que a mobilização contra a Covid-19 provou que um progresso rápido pode ser feito quando estimulado por vontade política.

Calcanhar de Aquiles

"Os antibióticos são o calcanhar de Aquiles da cobertura universal de saúde e de nossa segurança sanitária", comentou Haileyesus Getahun, responsável pela divisão de resistência a antibacterianos da OMS. "As oportunidades que se apresentam à luz da pandemia de Covid-19 devem ser aproveitadas para enfatizar a necessidade de investimento durável (em pesquisa) para novos antibióticos eficazes", acrescentou.

Ele sugere a criação de um mecanismo global para arrecadar fundos para combater a resistência das bactérias, semelhante ao que foi feito para desenvolver vacinas contra a Covid. A Covid-19 nos ensinou "como uma doença contagiosa pode se espalhar rapidamente", explicou Henry Skinner, que dirige o AMR Action Fund, em uma entrevista coletiva. "Precisamos dos medicamentos certos disponíveis para sempre sermos capazes de tratar essas infecções e evitar que se transformem em uma pandemia", disse ele.

As bactérias resistentes matam mais de 68 mil pessoas a cada ano na Europa e nos Estados Unidos. E é um problema indiscutivelmente mais grave em países de renda média e baixa, mas os dados não estão disponíveis, segundo Peter Beyer, que chefia a Unidade de Coordenação e Colaboração Global sobre Resistência a Antibacterianos.

A resistência aumenta porque os antibióticos são muito e mal usados, seja na criação de animais ou no tratamento de humanos. As bactérias desenvolvem resistência e não respondem mais aos tratamentos existentes. É preciso, portanto, criar novos antibióticos, mas os grupos farmacêuticos relutam em investir grandes somas em um setor considerado pouco lucrativo.

 

Anos 80

Desta forma, a maioria dos antibióticos que estão no mercado são classes de drogas descobertas antes da década de 1980, ressaltou a organização. Em seu relatório anual, observa que nenhum dos 43 antibióticos em desenvolvimento pode combater com eficácia as bactérias mais perigosas em circulação.

Também aponta que 82% dos antibióticos autorizados recentemente pertencem a classes de medicamentos aos quais as bactérias já se mostraram resistentes. "Embora existam produtos inovadores em desenvolvimento, é provável que apenas uma fração deles chegue ao mercado devido aos altos índices de fracassos no processo", alertam os autores do relatório.

Pela primeira vez, a OMS também cataloga medicamentos antibacterianos não tradicionais. Identifica 27 deles, incluindo antígenos monoclonais ou mesmo o uso de fagos, vírus que infectam apenas bactérias e que foram amplamente utilizadas atrás da "cortina de ferro" durante a Guerra Fria e agora estão sendo redescobertos no Ocidente.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895