Maduro atribui falha de restabelecimento de energia a "ataque terrorista" na Venezuela

Maduro atribui falha de restabelecimento de energia a "ataque terrorista" na Venezuela

Serviço se manteve instável após falha na madrugada de quarta-feira

AFP

Último boletim alerta que falha afetou restabelecimento de 85% do serviço

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A Venezuela continuava paralisada por um apagão que mergulhou seus habitantes na angústia. Eles foram chamados para um novo dia de protesto no próximo sábado pelo líder da oposição Juan Guaidó. O serviço se mantinha intermitente em Caracas e outras regiões, após a nova falha, registrada ainda na madrugada dessa quarta-feira.

Segundo o último boletim do governo, a falha afetou a recuperação de 85% do serviço, obtida até a noite de terça-feira. A queda foi "produto da instabilidade derivada do ataque", acrescenta o relatório, reafirmando que o apagão foi provocado por um incêndio na hidroelétrica de Guri, o qual o presidente Nicolás Maduro atribui à oposição. O boletim do governo não informa quando a situação será normalizada.

Diante da situação, o governo Maduro "decidiu suspender as atividades trabalhistas e educativas amanhã, quinta-feira, 28", informou o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez. O ministro esclareceu que a nova falha ocorreu na manhã de quarta-feira, interrompendo o serviço em setores de Caracas e outras regiões onde ele havia sido recuperado.

"Vamos continuar (...) esse processo de distribuição de carga até que todos os equipamentos danificados pelo terrorismo entrem em operação", disse Rodriguez, sem dar uma estimativa de quando a situação será normalizada. O caos continuou com a suspensão do bombeamento de água, a paralisação dos transportes - incluindo o metrô de Caracas - e o impacto das comunicações e do banco eletrônico, vitais devido à escassez de caixa gerada pela hiperinflação.

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Em resposta, Guaidó, reconhecido como presidente interino por mais de 50 países, convocou um protesto nacional no sábado. "Toda vez que você não tem luz, água, gás, transporte, não é hora de se acostumar com isso, é hora de exigir nossos direitos", disse Guaidó, conclamando seus partidários a não permanecerem "passivos".

Maduro reagiu convocando para o mesmo dia uma "grande mobilização" em defesa do governo socialista. "Temos uma grande mobilização, em todo o país. São mais de mil pontos", anunciou Maduro no programa do dirigente "chavista" Diosdado Cabello na estatal VTV.

O presidente pediu aos "coletivos" - grupos populares chavistas armados - "tolerância zero com as guarimbas", como chama os protestos violentos e os bloqueios de rua. O país de 30 milhões de pessoas ficou no escuro na segunda-feira, após o pior apagão de sua história, que começou em 7 de março e durou quase uma semana.

"Que saiam" os russos

Além da capital, o corte afeta 21 dos 23 estados, segundo relatos de usuários em redes sociais. O governo socialista não costuma relatar o impacto desse tipo de emergência. O apagão maciço de 20 dias atrapalhou duramente os hospitais, já castigados pela falta de suprimentos e remédios.

Segundo a ONG, uma dúzia de pacientes morreu durante esse corte, que durou uma semana. O apagão se tornou a última batalha pelo poder entre Maduro e Guaidó. Maduro diz que se tratam de "ataques terroristas" executados pela oposição protegida pelos Estados Unidos. Já o chefe do Parlamento argumenta que esta é apenas a última prova da ineficiência e corrupção do governo.

Guaidó prepara uma mobilização nacional em direção ao palácio presidencial de Miraflores, em Caracas, para assumir seu controle, em data a ser definida, e nesta quarta-feira ele reiterou que não descarta pedir ao Legislativo que autorize a entrada de uma missão militar estrangeira. Washington, seu aliado mais fervoroso, não exclui uma ação militar para destituir Maduro, a quem pretende estrangular economicamente com sanções, como um embargo de petróleo que entrará em vigor em 28 de abril.

Trump recebe esposa de Guaidó

O presidente Donald Trump e o vice-presidente Mike Pence receberam Fabiana Rosales, esposa de Guaidó, na Casa Branca nessa quarta-feira. "Estamos com você 100%", disse Trump, além de afirmar que Washington já a considera "primeira-dama da Venezuela". Trump e Pence também exigiram o fim do apoio russo a Caracas. "A Rússia tem que sair", disse o presidente.

Pence pediu a Moscou que acabe com "todo o apoio ao regime de Maduro" e classificou a chegada de dois aviões militares por Moscou à Venezuela como uma "provocação inoportuna". A Rússia defendeu a presença de militares na Venezuela, ao participar de um conselho permanente da OEA no qual foi aprovada uma resolução pedindo a entrada da ajuda humanitária na Venezuela.

O observador suplente da Rússia, Alexander Kormachev, pediu para falar após a votação e se pronunciou contra "as acusações de algumas altas posições dos Estados Unidos sobre alegadas intervenções russas na Venezuela". Kormachev defendeu, em espanhol fluente, que "a cooperação bilateral da Rússia com a Venezuela adere estritamente à Constituição deste país e respeita sua legislação, incluindo os poderes do legislativo".

Em meio à pressão internacional para que Maduro deixe o cargo, Rússia e China, os principais credores da dívida externa da Venezuela (estimada em 150 bilhões de dólares), tornaram-se os grandes aliados do presidente socialista.

Ajuda humanitária

O Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) votou uma resolução para "pedir as instituições públicas da Venezuela, em especial as forças militares e de polícia, que se abstenham de bloquear o ingresso de ajuda humanitária à Venezuela". A resolução foi apresentada pela Colômbia e apoiada por Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Estados Unidos, Guatemala, Panamá, Paraguai e Peru.

Terminou aprovada com 19 votos a favor, cinco contra, oito abstenções e duas ausências. No Twitter, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, disse que reitera sua "rejeição à presença de efetivos militares e transporte militar russo em território de #Venezuela".


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