Mais dois manifestantes são mortos no Iraque

Mais dois manifestantes são mortos no Iraque

Cerca de 100 pessoas ficaram feridas durante protestos

AFP

País é rico em petróleo mas enfrenta falta de eletricidade e água potável

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Dois manifestantes foram mortos nesta sexta-feira em Bagdá, onde o movimento de contestação foi retomado após dias de luto pela morte no início do mês de mais de 150 pessoas, informou a Comissão para os Direitos Humanos do governo. "Segundo relatórios preliminares, eles foram atingidos no rosto por uma granada de gás lacrimogêneo", afirmou à AFP Ali al-Bayati, membro da Comissão, acrescentando que quase cem manifestantes e membros das forças de ordem ficaram feridos.

Os agentes dispararam gás lacrimogêneo para dispersar milhares de manifestantes que se reuniram nos acessos à Zona Verde, onde estão os principais órgãos do governo e a embaixada dos Estados Unidos. A onda de protestos deflagrada no início do mês foi marcada pela violência e deixou, entre 1º e 6 de outubro, 157 mortos, a maioria manifestantes, segundo números oficiais.

Na quinta-feira não houve registro de incidentes na capital iraquiana ou no sul do país. O ministro do Interior, Yasin Al Yaseri, foi na noite de quinta à Praça Tahrir para garantir que as forças de segurança estavam presentes para "proteger" os manifestantes.

O governo de Adel Abdel Mahdi, no poder há um ano, decretou a mobilização geral das forças de segurança a partir da noite de quinta-feira. Os protestos denunciam a corrupção e exigem empregos e serviços públicos de qualidade em um país rico em petróleo, mas onde falta eletricidade e água potável.

Moqtada Sadr, antigo líder de milícia e agora convertido em arauto dos protestos, convocou seus seguidores a ocupar as ruas e afirmou que seus combatentes estão preparados para "proteger os manifestantes". Vencedor das eleições legislativas e integrante da coalizão de governo, Moqtada Sadr exige a demissão do gabinete e a antecipação das eleições.

Em uma recente demostração de força, combatentes das "Brigadas da Paz" de Sadr apareceram armados durante desfiles em seu bastião de Bagdá, conhecido como Sadr City. "Quero minha parte do petróleo", disse à AFP uma manifestante na Praça Tahrir.

Cerca de 20% da população iraquiana vive abaixo da linha da pobreza. "Os supostos representantes do povo monopolizaram todos os recursos", gritou outro manifestante. Manifestações também ocorreram durante a noite em várias cidades do sul do país, como no início de outubro. Nesse contexto de tensão, o país aguarda com expectativa esta tarde um sermão proferido em nome do grande aiatolá Ali Sistani, a mais alta autoridade religiosa xiita do Iraque.

Há duas semanas, Ali Sistani deu ao governo até esta sexta-feira para esclarecer a violência e responder às demandas dos manifestantes. Em resposta aos protestos, o primeiro-ministro Abdel Mahdi anunciou uma série de medidas, tornou públicas as listas de centenas de cargos públicos atribuídos a jovens graduados e prometeu pensões para as famílias dos manifestantes mortos como "mártires".

A população quer uma nova Constituição e a renovação total da classe política. O governo ainda tem o apoio do poderoso Hashd al Shaabi, uma coalizão paramilitar dominada por milícias xiitas pró-iranianas. É o segundo bloco parlamentar e membro da coalizão governamental.


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