Manifestações causam segundo dia de caos no aeroporto de Hong Kong

Manifestações causam segundo dia de caos no aeroporto de Hong Kong

Todos os vôos foram cancelados na segunda-feira e aeroporto voltou a funcionar por algumas horas nesta terça

AFP

"Olho por olho!" foi o lema adotado para o protesto que denuncia violência policial

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O aeroporto de Hong Kong viveu nesta terça-feira um segundo dia de caos com a suspensão ou cancelamento de centenas de voos devido às manifestações pró-democracia, que segundo o governo local levaram a cidade a um "caminho sem volta". Pela noite, a polícia empregou gás pimenta contra manifestantes enquanto retirava do aeroporto um homem que saiu do local dentro de uma ambulância, e que segundo os ativistas era um agente infiltrado. A viatura dos membros da segurança foi cercada por centenas de manifestantes radicais, o que levou a polícia a reagir usando gás pimenta e detendo pelo menos duas pessoas, segundo um jornalista da AFP.

Pouco depois, outro homem foi levado por uma ambulância, após um pequeno grupo o espancar e o acusar de ser um espião. O Global Times, um jornal oficial chinês, disse que era um de seus repórteres.

A ex-colônia britânica atravessa sua crise política mais grave desde sua reanexação à China em 1997. O movimento - que surgiu no começo de junho em rejeição a um projeto de lei que autorizaria extradições para Pequim - ampliou suas reivindicações para denunciar a redução de liberdades e as ingerências da China nos assuntos internos.

No quinto dia de uma mobilização sem precedentes no oitavo aeroporto de maior movimento do planeta, os manifestantes ampliaram o protesto e bloquearam os corredores que levam às zonas de embarque dos dois terminais.  As autoridades aeroportuárias decidiram cancelar todos os procedimentos de check-in.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, classificou a situação em Hong Kong como "muito difícil", "complicada", mas acrescentou que espera que tudo seja resolvido sem violência. "Espero que se resolva pacificamente. Espero que ninguém saia ferido. Espero que ninguém seja assassinado", afirmou Trump em declarações a jornalistas em Morristown, Nova Jersey, nesta terça.

Através do Twitter, o presidente informou que os serviços de inteligência americanos alertaram que a China está transferindo tropas para a fronteira com Hong Kong, e acrescentou que "todos devem permanecer calmos e a salvo". 

Anthony Wallace / AFP / CP

"Situação perigosa"

Na segunda-feira, o aeroporto anunciou a decisão incomum de cancelar centenas de voos, em consequência das manifestações. E embora os pousos e decolagens tenham sido retomados por algumas horas nesta terça-feira, milhares passageiros foram afetados. A chefe de Governo de Hong Kong - que é designada por Pequim -, Carrie Lam, alertou nesta terça-feira para as consequências perigosas para a cidade, uma das capitais mundiais das finanças.

"A violência, seja seu uso ou sua justificação, levará Hong Kong por um caminho sem retorno e afundará sua sociedade em uma situação muito preocupante e perigosa", disse Lam em entrevista coletiva. "A situação em Hong Kong durante a semana passada me fez temer que tenhamos chegado a esta perigosa situação", acrescentou. Mas estas declarações não conseguiram dissuadir os milhares de manifestantes que na tarde desta terça regressaram ao aeroporto, que recebe por ano 74 milhões de passageiros.

Philip Fong / AFP / CP

Barricadas com carrinhos de malas

Nesta terça-feira, os manifestantes bloquearam os acessos a um elevador e a uma escada rolante com os carrinhos para transporte de malas na área de controle de segurança. "Queremos que fechem o aeroporto como ontem para que todos os voos que saem daqui sejam cancelados ", disse à AFP um estudante de 21 anos, que se apresentou como Kwok, à AFP.

Em seguida formaram uma corrente humana para impedir a passagem de passageiros, com quem houve algumas discussões. "Tenho um bebê, tenho que voltar para minha casa, com meus filhos", suplicava uma mulher, chorando. 

Na segunda-feira, mais de cinco mil pessoas invadiram o aeroporto para denunciar a violência policial. As autoridades aeroportuárias cancelaram os voos programados para esse dia. Nesta terça, o tráfego foi voltando ao normal progressivamente pela manhã, mas centenas de voos seguiram cancelados.

"Defendam Hong Kong! Defendam as liberdades!", gritavam os manifestantes, enquanto nas paredes alguns deles pregavam adesivos que diziam: "Olho por olho!" Este foi o lema adotado para o protesto, depois que uma mulher sofreu uma séria lesão facial que a teria feito perder um olho durante uma manifestação no domingo à noite, o que levou a atos de violência.

Manan Vatsyayana / AFP / CP

"Terrorismo"

O movimento, cada vez mais afetado por confrontos entre radicais e a polícia, representa um desafio inédito para o governo central, que na segunda-feira disse observar "sinais de terrorismo". Ao mesmo tempo, a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, expressou nesta terça-feira sua preocupação com a repressão das manifestações em Hong Kong e pediu uma "investigação imparcial" na ex-colônia britânica.

Bachelet "condena qualquer forma de violência (...) e exige que as autoridades de Hong Kong iniciem uma investigação rápida, independente e imparcial" sobre o comportamento das forças de segurança, afirmou o porta-voz da Alta Comissária, Rupert Colville.

Os jornais Diário do Povo e Global Times, diretamente ligados ao Partido Comunista, divulgaram vídeos que mostram blindados de transporte de tropas seguindo até Shenzhen, metrópole na fronteira com Hong Kong.

 


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